Mais de 660 detidos nos confrontos em França. Macron convoca nova reunião de crise

por Cristina Sambado - RTP
Lucien Libert - Reuters

O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou para esta sexta-feira uma nova reunião do gabinete de crise, após a terceira noite consecutiva de violência em várias cidades do país, desencadeada pela morte de um adolescente assassinado por um agente de polícia, que está em prisão preventiva. Pelo menos 667 pessoas foram detidas nos protestos, a maioria adolescentes.

O chefe de Estado interrompe assim a estadia em Bruxelas, onde participou na reunião do Conselho Europeu, para regressar a Paris ao início da tarde.

A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, convocou um Conselho de Ministros em Matignon, para a manhã desta sexta-feira, tendo em vista fazer um ponto da situação após uma terceira noite de tumultos.

Segundo Elisabeth Borne, trata-se de atos “intoleráveis e indesculpáveis”.


Na última noite, foram registados danos em edifícios públicos, pilhagens e confrontos esporádicos em algumas zonas da capital.

Nahel, de 17 anos, foi baleado no peito durante uma operação de controlo rodoviário por dois polícias, depois de ser ter recusado a obedecer às autoridades policiais em Nanterre, a oeste de Paris. Em França, a idade mínima ilegal para conduzir é 18 anos.

Um vídeo amador mostrou um dos dois polícias a apontar-lhe uma arma e a disparar à queima-roupa.

A morte do adolescente já tinha motivado duas noites de violência em França, nomeadamente na região parisiense, e os serviços secretos temem uma “generalização” da violência.
José Manuel Rosendo, correspondente em Paris

Segundo o Ministério do Interior, cerca de 667 pessoas foram detidas. A maioria com idades entre os 14 e 18 anos.

Ontem à noite, os nossos polícias, gendarmes e bombeiros enfrentaram mais uma vez com coragem um raro ato de violência. Em conformidade com as minhas instruções efetuaram 667 detenções”, afirmou o ministro do Interior Gérald Darmanin, no Twitter.


Dados do Governo revelam que 249 agentes da autoridade ficaram feridos sem gravidade durante a noite.
Pilhagens e confrontos
A violência eclodiu em Marselha, Lyon, Pau, Toulouse e Lille, bem como em partes de Paris, incluindo o subúrbio operário de Nanterre, onde Nahel M., de 17 anos, de origem argelina e marroquina, foi morto a tiro na terça-feira.

No departamento de Seine-Saint-Denis, a nordeste de Paris, "praticamente todas as comunas" foram afetadas, com muitos edifícios públicos visados, como a Câmara Municipal de Clichy-sous-Bois, segundo uma fonte policial.

Em Paris, as famosas Halles e a Rue de Rivoli, que dá acesso ao museu do Louvre, viram alguns dos seus estabelecimentos comerciais "vandalizados", "saqueados e até incendiados", revelou um alto responsável da polícia nacional.

Doze autocarros foram incendiados e destruídos durante a noite num depósito em Aubervilliers, no norte da capital francesa.

Pelo menos três cidades próximas da capital decidiram instaurar o recolher obrigatório, durante vários dias.


Clamart, perto de Paris, e Compiègne, a norte da capital, adotaram esta medida das 21h00 às 6h00 horas locais. Na região parisiense, os autocarros e os elétricos deixaram de circular às 21h00.

Em Nanterre, nos arredores ocidentais da capital, os manifestantes incendiaram carros, barricaram ruas e lançaram projéteis contra a polícia, na sequência de uma vigília pacífica realizada mais cedo para prestar homenagem ao rapaz morto.

Em Marselha, a segunda maior cidade de França, a fachada de uma biblioteca municipal foi danificada, segundo a Câmara Municipal. No famoso bairro de Vieux-Port, com vista para o Mediterrâneo, registaram-se confrontos entre a polícia e um grupo de 100 a 150 pessoas.

Em Pau (sudoeste), foi lançado um cocktail Molotov contra a esquadra da polícia, segundo a prefeitura do departamento.

Em Lille (norte), num bairro operário do sul foram registados vários incêndios, segundo a Câmara Municipal.

Em Roubaix, uma comuna pobre a nordeste de Lille, as sirenes dos bombeiros e os holofotes de um helicóptero da polícia foram sentidos durante a noite.
Quarenta mil polícias mobilizados
O Governo havia anunciado para a noite de quinta-feira a mobilização de 40 mil polícias e gendarmes, dos quais cinco mil em Paris.

As unidades de intervenção da elite policial foram destacadas para as principais cidades o país, como Toulouse (sudoeste), Marselha (sudeste), Lyon (sudeste), Lille (norte) e Bordéus (sudoeste).

O Governo francês admite instaurar o estado de emergência para restabelecer a "ordem republicana" após a vaga de protestos dos últimos dias.

A agitação popular reavivou as memórias dos tumultos de 2005 que invadiram o país durante três semanas e que obrigaram o então presidente Jacques Chirac a declarar o estado de emergência.
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