Mais de 50 migrantes detidos junto à fronteira da Polónia com a Bielorrússia

por RTP
EPA

A Polónia anunciou, esta quarta-feira, que lançou uma ofensiva contra os migrantes concentrados na fronteira com a Bielorrússia e fez mais de 50 detenções, no meio de uma crise diplomática entre Minsk e a União Europeia. O Governo polaco está a ser acusado de impedir a passagem dos refugiados e de os "empurrar" de novo para a Bielorrússia.

"Atenção! Atenção! Cruzar a fronteira polaca é legal apenas nas passagens de fronteira", ouve-se nos últimos dias junto à fronteira com a Bielorrússia.

O aviso é para os migrantes e requerentes de asilo, principalmente do Médio Oriente, que se vão juntando no lado bielorrusso da fronteira com intenção de entrar na Polónia e que têm sido impelidos para regressarem a Minsk. Nos últimos dias, a maioria dos migrantes tem sido violentamente empurrada para trás, embora alguns tenham conseguido chegar a Varsóvia depois de se esconderem nas densas florestas.
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Mas desde que as autoridades bielorrussas começaram, na segunda-feira, a escoltar milhares de migrantes até à fronteira com a Polónia, cruzar a fronteira tornou-se ainda mais difícil.

"Nas últimas 24 horas, a polícia deteve mais de 50 pessoas perto de Bialowieza, depois de terem cruzado a fronteira ilegalmente"
, disse o porta-voz da polícia regional, Tomasz Krupa, à Agência France Presse (AFP).

O ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczak, anunciou que as autoridades registaram na noite passada centenas de tentativas de cruzar ilegalmente a fronteira polaca, sublinhando que "todos aqueles que conseguiram passar foram presos".

"Não foi uma noite calma. Na verdade, houve muitas tentativas de violação da fronteira polaca", disse Blaszczak a uma rádio nacional, acrescentando que até agora as tentativas se concentravam perto de uma grande passagem de fronteira em Kuznica, mas agora isso está a mudar.

Apesar das tentativas para atravessar a fronteira durante a noite, foram bloqueadas na fronteira pelo menos 2.000 pessoas.

A guarda fronteiriça polaca informou que a situação na fronteira com a Bielorrússia está "calma" e a cadeia de televisão privada polaca PolSat revelou que "um grupo de cerca de 60 pessoas" conseguiu cruzar a fronteira "depois da meia-noite" e que pelo menos 20 deles foram presos.
Migrantes agredidos e acusações mútuas
Nas últimas semanas, as acusações de violência são mútuas. As autoridades bielorrussas acusaram, esta quarta-feira, a Polónia de ter agredido quatro migrantes na fronteira entre os dois países.

"Considerando os numerosos ferimentos nos corpos dos migrantes, as forças de segurança polacas trataram-nos com brutalidade e perseguiram-nos ao longo da cerca de arame farpado na fronteira com a Bielorrússia", indicou o serviço de guarda fronteiriça bielorrusso.

Num comunicado divulgado na sua conta do Telegram, a mesma fonte especificou que os quatro homens, de etnia curda, foram encontrados durante a noite de terça para quarta-feira num acampamento improvisado na fronteira, no lado bielorrusso.

Mas, por outro lado, as autoridades polacas acusam os militares bielorrussos de terem disparado armas de fogo para intimidar os migrantes que estão acampados junto à fronteira.


"A situação é desesperante e está a piorar", disse ao Guardian Kyle McNally, assessor para os assuntos humanitários dos Médicos Sem Fronteiras (MSF).

"Eu vi em primeira mão os ferimentos que as pessoas sofreram quando foram atacadas por guardas de fronteira da Polónia e da Lituânia. As pessoas dizem que foram espancadas com uma arma, pontapeadas nas costelas, eletrocutadas no pescoço e que todos os seus pertences foram roubados ou destruídos pelos guardas de fronteira europeus. Isto é inaceitável e deve acabar agora".

Hoje é esperada a chegada à Polónia do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que se encontrará com o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, em Varsóvia, para discutir a situação e ratificar o apoio da União Europeia (UE) a este país em crise.

A situação é relativamente calma na faixa de fronteira, onde, nos últimos dias, várias centenas de pessoas se acumularam, com tentativas de entrada forçada na noite de segunda-feira.

O governo polaco está a aumentar a sua já grande presença militar na fronteira com a Bielorrússia e o ministro da Defesa, Mariusz Blaszczak, confirmou hoje que já há 15 mil soldados destacados.

Além disso, o coronel Marek Pietrzak, porta-voz das Forças de Defesa Territoriais polacas - um corpo paramilitar de reservistas e voluntários - garantiu na terça-feira que 8.000 membros desta unidade foram mobilizados e que 1.000 chegarão à fronteira em breve. Desde a manhã de terça-feira, foi proibido qualquer tipo de acesso de civis à área de Kuznica, onde foi detetado um grande número de acampamentos de migrantes, com muitas mulheres e crianças.

A Polónia, Letónia e Lituânia, todos enfrentando uma onda de migração ilegal da Bielorrússia nos últimos meses, culpam o regime de Aleksander Lukashenko por mover cidadãos do Iraque, Afeganistão, Síria e outros países para suas respetivas fronteiras para desestabilizar a UE.

O Governo polaco descreve a situação como uma "guerra híbrida" e Morawiecki sublinhou que "fechar a fronteira" é "do interesse nacional da Polónia", sublinhando que a situação também ameaça a estabilidade e segurança de toda a União Europeia.

 

C/ Lusa

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