Maduro aponta baterias a Bruxelas. "UE que levou Ucrânia à guerra saca da sua cantilena"

por RTP
"A mesma União Europeia que reconheceu Guaidó, uma vergonha a União Europeia" Leonardo Fernandez Viloria - Reuters

O presidente da Venezuela reage ao sinal europeu de "grande preocupação" com o quadro pós-eleitoral naquele país sul-americano a classificar a diplomacia da União como "uma vergonha". Em contraste com Nicolás Maduro, o campo da oposição agradece "o apelo da União Europeia ao respeito pelos direitos fundamentais dos venezuelanos".

"A União Europeia saca da sua cantilena, a mesma União Europeia que reconheceu Guaidó, uma vergonha a União Europeia, o senhor Borrell é uma vergonha, é uma vergonha que levou a Ucrânia a uma guerra e agora lava as mãos", redarguiu Nicolás Maduro, ao intervir durante um evento com a Guarda Nacional Bolivariana - a polícia militarizada da Venezuela.

O presidente venezuelano reprova, em concreto, o apelo da diplomacia da União às autoridades venezuelanas para que respeitem as manifestações promovidas desde a passada segunda-feira contra os resultados das eleições de 28 de julho publicados pelo Conselho Nacional Eleitoral: Maduro foi declarado vencedor.

"Agora diz que na Venezuela há repressão de manifestações pacíficas, diz o senhor Borrell. Pacíficas? Quando atacam a população, hospitais, CDI [Centros de Diagnóstico Integral], escolas, unidades de autocarros, estações de metro?", acentuou o chefe de Estado venezuelano.O Conselho Nacional Eleitoral carimbou, na sexta-feira, a vitória de Nicolás Maduro com 52 por cento dos votos, contra 43 por cento de Edmundo González Urrutia.

Em nota divulgada na noite de domingo, o gabinete do alto representante da União Europeia para as Relações Externas veio sublinhar que "continua a acompanhar com grande preocupação" o evoluir da situação na Venezuela, apelando a "uma maior verificação independente dos registos eleitorais".

"Os relatórios das missões internacionais de observação eleitoral afirmam claramente que as eleições presidenciais de 28 de julho não cumpriram as normas internacionais de integridade eleitoral", sublinha-se no comunicado do gabinete de Josep Borrell.

Ainda segundo esta nota, "apesar do seu próprio compromisso, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela ainda não publicou os registos oficiais de votação das mesas de voto. Sem provas que os apoiem, os resultados publicados em 2 de agosto pelo CNE não podem ser reconhecidos"."Qualquer tentativa de atrasar a publicação completa dos registos oficiais de votação apenas lançará mais dúvidas sobre a credibilidade dos resultados oficialmente publicados".

Borrell sustenta também que as cópias das votações publicadas pela oposição colocam Edmundo González Urrutia, o candidato apoiado pela oposição, como "o vencedor das eleições presidenciais por uma significativa maioria".

"A União Europeia apela, pois, a uma nova verificação independente dos registos eleitorais, se possível por uma entidade de renome internacional".

"Neste momento crítico, é importante que as manifestações e os protestos se mantenham pacíficos. A União Europeia apela à calma e à contenção. As autoridades venezuelanas, incluindo as forças de segurança, devem respeitar plenamente os Direitos Humanos, nomeadamente a liberdade de expressão e de reunião", propugna o gabinete de Borrell.

O candidato presidencial apoiado pela maior aliança da oposição a Maduro saudou, por sua vez, a tomada de posição europeia.

"Agradecemos o apelo da União Europeia ao respeito pelos direitos fundamentais dos venezuelanos e o seu pedido de uma verificação independente dos resultados, com base nos registos de votação eleitoral que apresentamos e que credenciam a nossa vitória", reagiu Edmundo González Urrutia nas redes sociais.

De acordo com organizações de defesa dos Direitos Humanos, as manifestações e a consequente repressão por parte das autoridades venezuelenas causaram já as mortes de pelo menos 11 civis. Foram detidas mais de duas mil pessoas.

c/ Lusa

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