Maduro acusa Portugal de ficar com dinheiro dos venezuelanos

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
“Em Portugal, por exemplo, num banco chamado Novo Banco, roubaram-nos 1.726 milhões de dólares que estavam destinados a trazer medicamentos” Carlos Garcia Rawlins, Reuters

O Presidente venezuelano veio esta quinta-feira deixar acusações a vários países que estão a bloquear verbas de contas bancárias da Venezuela, entre as quais um dedo apontado a Portugal, que Maduro diz ter “roubado 1.726 milhões de dólares que estavam destinados a comprar medicamentos”. Aquando da entrega de diplomas a dois mil novos médicos, Maduro referiu-se à verba depositada no Novo Banco e acusou Portugal de “roubo em plena luz do dia a mando do governo norte-americano”.

Entre o Twitter e os eventos públicos, são várias as circunstâncias em que o Governo de Caracas vem criticando a atitude de Portugal face aos depósitos do Estado Venezuelano em instituições bancárias portuguesas, em concreto o Novo Banco, no qual o presidente Nicolás Maduro diz estarem depositados mais de 1.700 milhões de dólares, cerca de 1.500 milhões de euros.


O Presidente venezuelano voltou a falar dos mais de 1.700 milhões de dólares que diz serem do país. Nesta conta, Maduro relaciona as verbas que diz estarem retidas em Portugal com os orçamentos para compra de medicamentos necessários à Venezuela, acusação que vem na reiterada crítica oficial ao embargo norte-americano tido como responsável pela morte de mais de 40 mil pessoas devido a falta de assistência.

Nicolás Maduro acrescentou, à margem da entrega de diplomas a mais de dois mil médicos, que a decisão portuguesa de reter as verbas se deve “a uma ordem do Governo norte-americano”.

Nas contas de Maduro, Washington terá já “roubado” à Venezuela 30 mil milhões de dólares (26,81 mil milhões de euros): “Há que aumentar (esforços) para fazer frente ao bloqueio económico do governo imperialista de Donald Trump. Uma sabotagem anormal, desumana [que] sabota todas as importações que fazemos de matéria prima”.

Relacionando essas verbas com a situação humanitária que atravessa de forma drástica toda a Venezuela, o presidente Maduro acrescenta que o país tem de “inventar mil caminhos para comprar e trazer o que o país necessita para fabricar medicamentos”.

“Não me cansarei de denunciar o roubo de mais de 30 mil milhões de dólares pelo Governo dos Estados Unidos contra a Venezuela", reiterou Nicolás Maduro a partir do Forte de Tiuna, principal base militar de Caracas, sublinhando as críticas ao que considera ser uma “sabotagem criminosa, brutal e desumana”.
“Portugal roubou-nos 1.726 milhões”

Portugal não escapou às críticas de Maduro, que reiterou os apelos de meados de Abril para que sejam devolvidos à Venezuela os fundos depositados no Novo Banco.

“Em Portugal, por exemplo, num banco chamado Novo Banco, roubaram-nos 1.726 milhões de dólares que estavam destinados a trazer medicamentos. Assalto em plena luz do dia, por ordem do governo norte-americano”.

Ontem, num protesto patrocinado pela Asobien, ONG dedicada a doentes com Parkinson e outras doenças, meia centena de venezuelanos manifestou-se junto ao Consulado-Geral de Portugal em Caracas para exigir que o Governo português desbloqueie essas verbas retidas no Novo Banco.

Alinhada com o Presidente Maduro, também a Asobien insiste que se trata de recursos destinados ao tratamento de doentes. No Consulado Português a associação deixou uma carta a reclamar o desbloqueio do dinheiro.

Já há uma semana, no passado dia 2, duas dezenas de organizações de defesa dos Direitos Humanos e movimentos sociais venezuelanos se tinham deslocado à Embaixada de Portugal em Caracas para pedir que Lisboa intercedesse junto do Novo Banco para o desbloqueio das verbas reclamadas pela Venezuela.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela explicou à Lusa que foi entregue “uma carta onde solicitam os bons ofícios do Governo português para que sejam desbloqueados 1.543 milhões de euros que foram ilegalmente retidos na entidade financeira Novo Banco”.

Nessa nota, a diretora da Sures, uma associação dedicada ao estudo, educação e defesa dos Direitos Humanos, alerta que “o bloqueio destes ativos têm impedido o pagamento necessário para atender 26 pacientes venezuelanos que se encontram em Itália, à espera de receber tratamento oncológico”.

“Apesar de o Estado venezuelano ter feito esforços para subsidiar o tratamento destas pessoas, numa ação ilegal e violadora dos Direitos Humanos, um banco privado estrangeiro, tem-se negado a pagar a fatura para o tratamento destas pessoas que se encontram em grave situação de saúde”, explica o comunicado, citando a diretora da Sures que, face a estad situação, “apelou aos bons ofícios do Governo de Portugal para que, através das ações legais que correspondam, o Novo Banco consiga destravar os recursos”.

c/ Lusa
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