Em conferência de imprensa conjunta a partir da Casa Branca, o chefe de Estado francês reconheceu que o homólogo norte-americano “tem boas razões para retomar o diálogo com o presidente Putin".
Explicou que só parou de tentar contactar o presidente russo "após Bucha e os crimes de guerra", numa referência ao massacre desta cidade nos subúrbios de Kiev às mãos do exército russo em 2022.
Macron salientou a necessidade de alcançar uma paz "estável e duradoura" com a Rússia e a importância de um “apoio americano” na Ucrânia em caso de envio de soldados europeus para o terreno.
"Partilhamos o objetivo da paz, mas estamos muito conscientes da necessidade de garantias para alcançar uma paz estável que permita que a situação estabilize", acrescentou Macron, citando por diversas vezes o exemplo dos acordos de Minsk, forjados após a anexação da Crimeia, que não foram capazes de impedir a invasão de larga escala em 2022.
Nesse sentido, Macron enfatizou a importância de "garantias de segurança" para manter uma paz a longo prazo, repetindo as próprias declarações de Trump de que quer ser um "ator pela paz" na região.
O presidente francês argumentou ainda que a paz "não deve significar uma rendição da Ucrânia, ou um cessar-fogo sem garantias".
"Deve permitir a soberania ucraniana e permitir que a Ucrânia negocie com outras partes interessadas sobre as questões que a afetam".
Por sua vez, o presidente norte-americano frisou que ambos os líderes pensam no atual momento como "o certo" e que pode também "ser o único" em que é possível acabar com a guerra, lamentando as mortes "desnecessárias" de soldados ucranianos e russos.
"Recuperar a quantidade colossal de dinheiro"
Depois de uma semana de tensão em que a posição dos aliados transatlânticos divergiu em relação à guerra na Ucrânia, o encontro entre Trump e Macron parece ter promovido uma nova aproximação.
Ainda há poucos dias, as autoridades norte-americanas e russas reuniam-se na Arábia Saudita para conversações sobre a Ucrânia sem a presença de Kiev ou dos aliados europeus. Também há dias, Donald Trump afirmava que Zelensky era "um ditador sem eleições", enquanto o líder ucraniano afirmava que o homólogo norte-americano vivia "numa bolha de desinformação".
Mas na Casa Branca o tom foi de grande cordialidade. Os dois líderes enfatizaram a importância histórica da relação entre os dois países, com Macron a lembrar a contribuição francesa na guerra da independência dos Estados Unidos e Trump a elogiar entusiasticamente a liderança do presidente francês na reconstrução da Catedral de Notre Dame.
Ainda assim, Donald Trump regressou em alguns momentos à linha discursiva que tem adotado em relação à Ucrânia, afirmando que quer "recuperar a quantidade colossal de dinheiro" que os Estados Unidos gastaram na ajuda ao país e a importância de um acordo com Kiev "sobre minerais essenciais e terras raras" como segurança.
E foi ao ponto de assumir a rutura em relação ao passado recente nos Estados Unidos. "A minha administração está a romper completamente com os valores de política externa da administração anterior e, francamente, do passado", afirmou Trump, acrescentando que, se fosse ele o presidente em 2022, a guerra na Ucrânia não teria sequer começado.
Por sua vez, Emmanuel Macron lembrou o "investimento" europeu na Ucrânia, até porque neste país se joga "a segurança coletiva" de todo o continente, argumentou o presidente francês.
"Ninguém nesta sala quer viver num mundo onde a vontade dos mais poderosos possa ser imposta e onde as fronteiras internacionalmente reconhecidas possam ser violadas", sublinhou Macron, ao elogiar a coragem e resiliência dos ucranianos ao longo destes três anos.