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Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Lukashenko e a guerra. "Se agredirem a Bielorrússia, a resposta será das mais cruéis"

por Carlos Santos Neves - RTP
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, é um dos aliados mais próximos de Vladimir Putin Ministério russo dos Negócios Estrangeiros via Reuters

O presidente da Bielorrússia, entre os mais fiéis aliados de Vladimir Putin, saiu esta quinta-feira a público para afiançar que o seu país, base de retaguarda das tropas russas, só participará na ofensiva de Moscovo contra a Ucrânia se for atacado. Alexander Lukashenko alega que o Kremlin nunca lhe pediu para se juntar à invasão.

“Estou pronto a combater com os russos a partir do território da Bielorrússia apenas num caso: se um soldado vier lá de baixo [da Ucrânia] com uma arma, até ao nosso território, para matar as nossas pessoas”, clamou o presidente bielorrusso numa rara interação com meios de comunicação social estrangeiros, em Minsk.

“Isso não é apenas válido para a Ucrânia, mas também para todos os nossos outros vizinhos”, acentuou Alexander Lukashenko, figura de proa, desde 1994, de um regime autocrático.

Para completar: “Se agredirem a Bielorrússia, a resposta será das mais cruéis. Das mais cruéis. E a guerra levará toda uma outra volta”.A Bielorrússia tem servido de base de retaguarda para a máquina de guerra russa. Foi palco de exercícios militares na antecâmara da invasão da Ucrânia, há quase um ano.


A generalidade dos analistas acredita que o presidente russo tem pressionado Lukashenko a mobilizar o seu exército para o território ucraniano.

Todavia, essa tem sido uma via recusada pelo presidente bielorrusso, apesar da ampla dependência – económica, mas sobretudo política, na sequência da vaga interna de contestação em 2020 – face ao aparelho russo.

Alexander Lukashenko vai reunir-se na sexta-feira com Vladimir Putin. Sobre a mesa do encontro poderá estar o plano do Kremlin para a instalação de centros de treino militar conjunto. Recorde-se que, em meados de outubro do ano passado, Minsk e Moscovo chegaram a anunciar a formação de uma força comum “defensiva”.

Nas declarações agora citadas pela agência estatal bielorrussa Belta, Lukashenko quis afiançar que nunca Putin lhe pediu para se juntar aos combates em território ucraniano.
“Reconciliação nacional”
Também esta quinta-feira o Nobel da Paz e ativista pró-democracia bielorrusso Ales Bialiatski deixou um apelo à “reconciliação nacional” entre Governo e oposição, ao fazer o derradeiro depoimento em tribunal, na capital do país.

Aos 60 anos, Bialiatski enfrenta uma possível pena de até 12 anos de prisão, juntamente com outros três detidos acusados de financiarem protestos contra Lukashenko e de contrabando de divisas.
Ales Bialiatski foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em outubro, a par das organizações Memorial, da Rússia, e Centro para as Liberdades Civis, da Ucrânia.

“Precisamos de dar início a um diálogo público alargado com vista a uma reconciliação nacional. Basta. Temos de parar esta guerra civil”, propugnou o Nobel, num depoimento divulgado pela Viasna, organização de defesa dos Direitos Humanos e ajudou o próprio Ales Bialiatski ajudou a fundar em 1996.

“O processo criminal contra nós, ativistas de Direitos Humanos da Viasna, tem motivações políticas. A situação geral no país, crivado de corrupção e uma total violação de Direitos Humanos, é o testemunho do cenário político deste processo”, vincou.

Estima-se que haja atualmente até 1.500 presos políticos em cadeias da Bielorrússia. Pelos menos 50 mil pessoas foram detidas por participarem em protestos contra o regime desde 2020.

c/ agências
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