Luanda Leaks. Isabel dos Santos nega acusações de corrupção e desvio de fundos

por Carlos Santos Neves - RTP
"As alegações contra mim destes últimos dias são extremamente enganadoras e falsas" Toby Melville - Reuters

Isabel dos Santos voltou esta quinta-feira a negar as acusações de corrupção e desvio de fundos que lhe são atribuídas, afirmando que sempre operou dentro dos limites legais e que todas as transações foram aprovadas por advogados, bancos e reguladores. Esta nota surge um dia depois de a Procuradoria-Geral da República de Angola ter constituído a empresária como arguida.

Em comunicado difundido pelas agências noticiosas internacionais, a filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos insiste em declarar-se vítima de “um ataque político”, garantindo, uma vez mais, estar “pronta a bater-se” pela sua defesa na justiça internacional.

“As alegações contra mim destes últimos dias são extremamente enganadoras e falsas”, declara Isabel dos Santos numa nota emitida por uma agência de comunicação com sede em Londres.O procurador-geral de Angola, Hélder Pitta Grós, reuniu-se esta tarde com a homóloga portuguesa, Lucília Gago.

A empresária angolana, figura central da investigação jornalística intitulada Luanda Leaks, alega que este é um processo “orquestrado e bem coordenado lançado antes das eleições em Angola do próximo ano”.

Três dias após a publicação dos dados obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, Isabel dos Santos viu-se na quarta-feira constituída arguida pela Procuradoria-Geral de Angola, que a acusa de fraude, desvio de fundos e branqueamento de capitais. Reage agora com novo comunicado, apresentando-se como “mulher de negócios”.

A filha de Eduardo dos Santos sustenta que “agiu sempre com respeito pela lei” e reitera que a investigação jornalística assenta em “documentos roubados” e numa “fuga seletiva para dar uma falsa impressão” das suas atividades empresariais. Afirma mesmo que os tribunais angolanos “estão submetidos a pressão política”.

“Estou pronto a bater-me perante os tribunais internacionais para defender o meu nome”, reafirma, para acrescentar ter instruído os seus advogados a “agir contra informações inexatas e difamatórias”.
As acusações
A empresária angolana está constituída arguida, no seu país, por suspeitas de má gestão e desvio de fundos no decurso da sua passagem pela petrolífera estatal Sonangol. O anúncio partiu na quarta-feira do procurador-geral angolano, Hélder Pitta Grós, em conferência de imprensa em Luanda.

Segundo Pitta Grós, o processo de inquérito foi já convertido em processo-crime.

Foram ainda constituídos arguidos Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos e presidente do Conselho de Administração do BFA, Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS e Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do private banking do EuroBic e gestor de conta da empresária angolana - encontrado morto na última noite na sua casa no Restelo.

O inquérito à gestão de Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana, que decorreu de junho de 2016 a novembro de 2017, foi aberto depois de o sucessor, Carlos Saturnino, levantar suspeitas relativas a “transferências monetárias irregulares ordenadas pela anterior administração da Sonangol e outros procedimentos incorretos”.
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