Lloyd Austin desaponta Zelensky. Nenhuma arma será "decisiva" para a Ucrânia
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, deitou um balde de água fria nas pretensões ucranianas quanto ao uso alargado de armas ocidentais contra a Rússia, ao considerar esta sexta-feira que nenhuma arma específica irá alterar de forma significativa o rumo da guerra.
"Nenhuma capacidade militar específica irá ser decisiva para a Ucrânia", afirmou, recomendando a Kiev a combinação de diferentes armas. "Já tivemos antes esta discussão sobre tanques e outras capacidades. Em cada uma dessas vezes, salientámos que não se trata de uma coisa, mas sim da combinação de capacidades e da forma como estão integradas", afirmou.
Austin adiantou ainda que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não abordou os seus planos de vitória durante a reunião.
Zelensky participou pela primeira vez na reunião de Ramstein, tendo repetido apelos para o país ser autorizado a bombardear com amas ocidentais alvos militares em solo russo, que só podem ser atingidos com armas de longo alcance.
Em Oslo, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, apelou "todos os aliados a continuar com o seu apoio vital, particularmente nesta fase difícil da guerra".
Kiev tem a autorização de alguns dos principais aliados para atacar alvos em solo russo com armamento das potências ocidentais mas só sob certas condições, sobretudo devido aos receios de vários países sobre uma eventual escalada do conflito com Moscovo.
Ucrânia tem "capacidade própria"
Nas respostas aos jornalistas, Lloyd Austin fez notar que a Rússia deslocou os seus arsenais de bombas planadoras, as chamadas glide bombs, para áreas fora do alcance dos mísseis norte-americanos ATCAMS.
A Ucrânia, acrescentou, "não se tem saído mal" e tem também atualmente capacidade de atingir alvos muito para além da distância operacional dos mísseis britânicos Storm Shadow.
"Há muitos alvos na Rússia, obviamente, e há muitas capacidades que a Ucrânia tem em termos de `drones`, etc., para atingir esses alvos", referiu, considerando esta uma "capacidade própria muito significativa". As bombas planadoras, uma arma inicialmente desenvolvida pela União Soviética agora adaptada para ser teleguiada, caracterizam-se pelo longo alcance e pelo baixo custo, tendo-se revelado cruciais nos ataques russos, iludindo a defesa aérea ucraniana.
A estratégia ucraniana de invadir a região russa vizinha de Kursk
não conseguiu deter de forma significativa até agora a ofensiva russa a
leste.
Moscovo intensificou também os seus bombardeamentos de alvos, muitos
deles civis, por toda a Ucrânia.
Zelensky pede
por isso autorização para usar as armas ocidentais para destruir as
bases a partir das quais a Rússia lança os seus mísseis.
Também o seu homólogo alemão, Boris Pistorius, frisou aos jornalistas que a recusa da Alemanha quanto ao uso das armas doadas a Kiev para atacar a Rússia se mantém "inalterada".
Mais doações
Apesar das reticências, Lloyd Austin Reiterou ainda que, "num futuro previsível", os EUA "continuarão concentrados" em ajudar a Ucrânia e anunciou para breve uma nova ajuda militar de 250 milhões de dólares a Kiev, que "irá permitir aumentar as capacidades de resposta às necessidades em evolução da Ucrânia".
"Moscovo prossegue a sua ofensiva no leste da Ucrânia, nomeadamente em torno de Pokrovsk. E o Kremlin continua a bombardear as cidades ucranianas e a atacar civis ucranianos. É um escândalo", indignou-se o secretário da Defesa dos EUA.
Londres anunciou igualmente um contrato de 192 milhões de euros por 650 mísseis ligeiros multiusos de curto alcance, com capacidade de serem disparados de diversas plataformas, terrestres, marítimas e aéreas.
Pistorius revelou por seu que Berlim vai enviar para a Ucrânia 12 sistemas de morteiro tipo 2000, seis em 2024 e outros seis em 2025, num montante de 150 milhões de euros, para além da entrega, revelada quarta-feira, de novos sistemas de defesa anti-aérea Iris-T para ajudar a intercetar os mísseis russos.
A França anunciou igualmente esta sexta-feira que vai utilizar 300 milhões de euros, parte dos 1.4 mil milhões de euros correspondentes a bens russos confiscados pela União Europeia, para financiar a compra de equipamentos militares para a Ucrânia.
A operação, integrada no quadro de apoio Mecanismo Europeu para a Paz, irá permitir "prosseguir o aumento da cadência da indústria francesa em apoio à Ucrânia", segundo um comunicado do Ministério dos Exércitos de França.
Da Alemanha, Volodymyr Zelensky viajou entretanto para o norte de Itália, para participar no Fórum Ambrosetti, um encontro político e económico que reúne líderes mundiais para abordar temas como a guerra na Ucrânia.
Em Cernobbio, o presidente ucraniano participará esta sexta-feira numa sessão intitulada "Agressão russa contra a Ucrânia", na qual voltará a analisar a situação atual do conflito.