"Limpar" Gaza. Trump diz que vai discutir proposta com Netanyahu "em breve"

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Donald Trump e Benjamin Netanyahu depois de assinarem os Acordos de Abraão, em 2020 Tom Brenner - Reuters

O presidente norte-americano voltou a defender a ideia de retirar os palestinianos da Faixa de Gaza, declarando o seu desejo de ver o povo palestiniano a viver “sem violência” num outro território. Donald Trump afirmou que discutiria o assunto “muito em breve” com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Washington. Na segunda-feira, mais de 300 mil deslocados regressaram ao norte do enclave.

"Gostaria que eles [palestinianos] vivessem numa área onde pudessem viver sem perturbações, sem revoluções e sem violência", disse o presidente Trump na segunda-feira.

"A Faixa de Gaza tem sido um inferno durante muitos anos (...) Então acho que as pessoas poderiam viver em áreas muito mais seguras e talvez muito mais confortáveis", acrescentou.

Questionado sobre se ainda acredita na solução de dois Estados para Israel e Palestina, Trump respondeu: "Falarei com Benjamin Netanyahu num futuro não muito distante. Ele virá aqui”. Trump não adiantou nenhuma data, mas indicou que seria "muito em breve".Donald Trump sugeriu no sábado uma “limpeza” da Faixa de Gaza, isto é, a retirada dos palestinianos do enclave, propondo que a maior parte da população fosse, pelo menos temporariamente, transferida para o Egito e para a Jordânia.

O presidente Trump conversou nos últimos dias com o rei Abdullah II, da Jordânia, e com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, e disse acreditar que ambos aceitem a sua proposta.

"Espero que eles aceitem. Nós ajudamo-lo muito e tenho certeza de que ele nos ajudará", disse Trump sobre o chefe de Estado egípcio.

"Ele é um amigo. Ele vive numa parte muito difícil do mundo, para ser honesto. Mas acho que fará isso e acho que o Rei da Jordânia também o fará", sublinhou.

A proposta foi rejeitada veemente pelo Hamas e pelo presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, que receiam uma repetição da Nakba (“catástrofe”, em árabe), o nome dado ao êxodo de palestinianos após a criação do Estado de Israel, em 1948.

A Autoridade Palestiniana defende que qualquer ideia de deslocação forçada de palestinianos violaria as suas "linhas vermelhas".

“Nós enfatizamos que o povo palestiniano nunca abandonará a sua terra ou os seus locais sagrados, e não permitiremos a repetição das catástrofes Nakba de 1948 e 1967. O nosso povo permanecerá firme e não deixará sua terra natal”, disse a Autoridade Palestiniana em comunicado.

O Irão, aliado do Hamas, também criticou a proposta de “limpeza” de Trump, sugerindo ao presidente norte-americano que envie antes os israelitas para a Gronelândia.

“Em vez de palestinos, tente expulsar os israelitas – leve-os para a Groenlândia para que eles possam matar dois coelhos com uma cajadada só”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão em tom satírico, ridicularizando o desejo de Trump de se apoderar da Gronelândia.
Mais de 300 mil palestinianos regressam ao norte de Gaza
Na segunda-feira, imagens aéreas mostravam uma mancha humana de deslocados palestinianos, carregados de malas ou a empurraram carroças pela estrada costeira, a deslocarem-se a pé em direção ao norte de Gaza, depois de meses retidos no sul do enclave.

Segundo o Governo do Hamas, mais de 300 mil deslocados regressaram ao norte do território na segunda-feira, graças ao frágil cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro entre Israel e o movimento islâmico-palestiniano.


Milhares de palestinianos esperavam desde domingo para regressar às suas casas no norte do enclave, tal como estava previsto no acordo. Mas Israel recusou abrir os pontos de travessia após acusar o Hamas de violar o acordo de cessar-fogo.

Telavive justificou a recusa com a falha na libertação de um refém israelita, Arbel Yehud, e pela ausência de uma lista de todos os reféns a serem libertados na primeira fase do acordo de cessar-fogo.

O impasse foi ultrapassado depois de, no domingo à noite, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter anunciado que o Hamas libertaria três reféns na próxima quinta-feira, incluindo Arbel Yehud, e, conforme planeado na primeira fase do acordo, outros três no sábado. O Hamas classificou o regresso dos deslocados como uma “vitória” para o povo palestiniano e sinaliza “o fracasso e a derrota dos planos de ocupação”.

"É uma ótima sensação voltar para casa, para os nossos entes queridos e inspecionar sua casa, se ainda houver uma casa", disse Ibrahim Abu Hassera, citado pela agência AFP.

De volta à Cidade de Gaza, Lamees al-Iwady, uma mulher de 22 anos, diz que está a viver "o dia mais feliz" da sua vida. "Reconstruiremos as nossas casas, mesmo que seja com lama e areia", afirma.

Quase todos os 2,4 milhões de residentes da Faixa de Gaza foram deslocados pela guerra desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel a 7 de outubro de 2023.

O cessar-fogo durará seis semanas e permitirá a libertação de 33 reféns mantidos em Gaza em troca de cerca de 1.900 prisioneiros palestinianos.
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