Líderes mundiais falham. Temperaturas poderão aumentar 2,7 graus até ao final do século

por Joana Raposo Santos - RTP
Desde 2021 que o nível de aquecimento global previsto até ao final do século se mantém inalterado. Foto: Ivan Alvarado - Reuters

A promessa, estabelecida no Acordo de Paris, era tentar impedir que o planeta aquecesse mais do que 1,5 graus centígrados até ao final do século. No entanto, segundo um relatório divulgado esta quinta-feira, os líderes mundiais não vão conseguir cumprir com a meta: as políticas atuais colocam o aumento da temperatura a caminho dos 2,7 graus.

Desde 2021 que o nível de aquecimento global previsto até ao ano 2100 se mantém inalterado. Este ano, os progressos foram “mínimos”, alertou o projeto Climate Action Tracker, explicando que as estimativas divulgadas na última cimeira do clima da ONU, a COP26, são as mesmas que as desde ano, em que se realiza a COP29.

“Claramente, não conseguimos alterar a curva”, disse ao Guardian a responsável pelo relatório, Sofia Gonzales-Zuñiga.

No mês passado, um estudo concluiu que metade das 68 mil mortes causadas pelo calor na Europa em 2022 resultou do aquecimento de 1,3°C registado a nível global. Com as temperaturas mais elevadas que se preveem para o final do século, a probabilidade de mais eventos irreversíveis e catastróficos também deverá aumentar.

As conclusões projeto Climate Action Tracker foram divulgadas numa altura em que líderes e especialistas de todo o mundo se reúnem na cimeira COP29, no Azerbaijão, para negociações sobre a poluição por gases com efeito de estufa e o dinheiro necessário para a combater.
A estagnação acontece apesar de o mundo estar a assistir a uma mudança vertiginosa no desenvolvimento de tecnologias limpas que podem substituir o carvão, o petróleo e o gás.
O relatório concluiu ainda que os subsídios aos combustíveis fósseis atingiram máximos históricos e que o financiamento para esses projetos quadruplicou entre 2021 e 2022, dificultando ainda mais os progressos no combate às alterações climáticas.

"Nos últimos anos, os combustíveis fósseis ganharam a corrida contra as energias renováveis, o que levou ao aumento das emissões", explicou ao Guardian Niklas Höhne, cientista climático do Instituto NewClimate, na Alemanha.

Ainda assim, "as energias renováveis surpreendem-nos todos os anos" com um crescimento mais rápido do que o esperado, pelo que, em breve, os combustíveis fósseis poderão mesmo ser ultrapassados.

"Isso permitiria um declínio muito mais rápido das emissões do que pensávamos há apenas três anos", elaborou.

Há, no entanto, quem esteja menos otimista. Vários investigadores alertaram já para o facto de a estimativa de aquecimento médio de 2,7°C até 2100 ter uma margem de erro suficientemente grande para se traduzir em temperaturas muito mais altas do que as esperadas.

"Há 33 por cento de hipóteses de a nossa projeção ser igual ou superior a 3ºC e dez por cento de hipóteses de ser igual ou superior a 3,6ºC", afirmou Sofia Gonzales-Zuniga. Esta última hipótese seria "absolutamente catastrófica", acrescentou.
Frustração entre líderes na COP29
No decorrer da atual cimeira do clima das Nações Unidas, alguns líderes mundiais expressaram a sua frustração com a lentidão dos progressos realizados após 28 cimeiras da ONU sobre esta temática.

"O que é que estamos a fazer nesta reunião?", questionou o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, aos seus homólogos na quarta-feira. "O que é que isto significa para o futuro do mundo se os maiores poluidores continuarem como sempre?", quis saber o líder.

Já o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, considerou que de facto “estas negociações extenuantes estão longe de ser perfeitas”, mas vincou que “se compararmos a política climática atual com a de há uma década, estamos num mundo diferente”.
Daniela Santiago, Bruno de Jesus | Enviados especiais da RTP a Baku

Esta quinta-feira, os negociadores na COP29 avisaram que, se os países mais ricos não ajudarem agora os mais pobres a enfrentar as alterações climáticas, o preço será pago mais tarde.

Segundo os especialistas, as nações em desenvolvimento precisam de pelo menos um bilião de dólares por ano até ao final da década para poderem começar a utilizar energias verdes e para se protegerem contra condições meteorológicas extremas.

c/ agências
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