Líder rebelde garante que "Síria não é uma ameaça ao mundo"

por Inês Moreira Santos - RTP
AFP

O líder da autoridade de transição governativa síria afirmou que o país está desgastado pela guerra e que não representa uma ameaça para os países vizinhos ou para o Ocidente. Numa entrevista à BBC, Ahmed al-Sharaa deixou ainda um apelo à suspensão das sanções à Síria.

"Depois de tudo o que aconteceu, as sanções devem ser suspensas, visto que eram direcionadas ao antigo regime. A vítima e o opressor não devem ser tratados da mesma forma", disse o líder dos rebeldes sírios à BBC.

Sharaa, antes conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammed al-Jolani, liderou a ofensiva relâmpago que derrubou o regime de Bashar al-Assad há menos de duas semanas e é o líder do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), o grupo dominante na aliança rebelde.

Na entrevista gravada em Damasco, o líder rebelde considerou que o HTS devia deixar de ser classificada como uma organização terrorista por parte das Nações Unidas, Estados Unidos e aliados ocidentais, selo que ganhou devido à ligação que teve com a Al-Qaeda. Segundo Sharaa, o grupo não é uma organização terrorista e - sublinhou - não tem civis como alvo. Além disso, o HTS é uma vítima dos crimes do regime de Bashar al-Assad, disse.

À publicação britânica, o líder rebelde garantiu que não tem o objetivo de transformar a Síria numa versão do Afeganistão, até porque são países distintos e com diferentes tradições: enquanto que o país vizinho tem uma sociedade que Sharaa considera tribal, na Síria a “mentalidade é diferente”.
Contrariamente ao regime taliban que controla atualmente o Afeganistão, Ahmed al-Sharaa defende o acesso das mulheres à Educação.

“Temos universidade em Idlib há mais de oito anos”, relatou, referindo-se à província síria controlada pelos rebeldes desde 2011.

“Acho que a percentagem de mulheres na universidade é superior a 60 por cento”.


Já esta quinta-feira, os Estados Unidos alertaram o HTS, que liderou a ofensiva que derrubou o regime de Bashar al-Assad na Síria, para aprender a “lição” de isolamento a que os taliban sujeitaram os cidadãos afegãos.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, lembrou que os taliban, após terem tomado o poder no Afeganistão em agosto de 2021, ficaram internacionalmente isolados depois de aplicarem medidas extremistas contra a sociedade e de clara limitação de Direitos Humanos, sobretudo em relação às mulheres.

“Há uma lição a tirar. Os taliban projetaram uma face mais moderada, ou pelo menos tentaram fazê-lo, quando assumiram o controlo do Afeganistão. Mas, depois, foi possível ver a sua verdadeira face. O resultado é que continuam terrivelmente isolados em todo o mundo”
, afirmou Antony Blinken.
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