Líder de contestatários ao regime na Guiné-Bissau diz ter sido torturado na prisão

por Lusa

O líder de ativistas que contestam o regime em vigor na Guiné-Bissau, Armando Lona, denunciou hoje que foi vítima de torturas durante os dez dias detido na 2.ª Esquadra de Bissau.

Em conferência de imprensa, Lona, que foi libertado na segunda-feira, por ordens judiciais, explicou as circunstâncias em que realizaram uma manifestação contra o regime e ainda deu pormenores de torturas nas celas.

O coordenador da Frente Popular, organização que congrega associações de jovens, sindicatos e grupos de mulheres, disse ter registado "com muita pena e tristeza a brutalidade policial" perante uma "manifestação pacífica de cidadãos".

Armando Lona relatou que, durante a manifestação, foi "várias vezes agredido" pela polícia, que o deixou com um corte no dedo da mão, que uma mulher grávida de quatro meses também foi espancada pela polícia e que outra, mãe de uma criança, esteve entre os 93 detidos.

O ativista contou ainda as circunstâncias em que foram "brutalmente espancados" pela polícia na 2.ª Esquadra de Bissau.

"Enquanto estávamos a ser brutalizados, alguém estava a filmar. Isso significa que aquelas imagens iam ser visualizadas por alguém. Organizou-se uma sessão de tortura para nos brutalizar como na época colonial", referiu Lona.

A Ordem dos Advogados e a Liga Guineense dos Direitos Humanos que assistiram os ativistas, promete recolher "todas as provas de tortura" e apresentar queixa-crime nas instâncias judiciais nacionais e internacionais.

"Torturar um preso ou detido é um crime", destacou o jurista e presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé.

Armando Lona aproveitou a conferência de imprensa para esclarecer que a Frente Popular "não atua a mando de ninguém e nem de algum partido político" e reafirmou que a organização "levantou a voz contra o estado de coisas" na Guiné-Bissau.

O ativista defende que a Guiné-Bissau "não pode continuar dividida em ilhas" em que, disse, os cidadãos e os políticos "não falam sobre o essencial".

Armando Lona defendeu que os cidadãos que se mobilizaram à volta da Frente Popular têm a consciência de que "não serão os anjos que vão tirar" a Guiné-Bissau "da triste situação em que se encontra".

"Não é normal que continuemos a ter a escolas mais precárias da nossa sub-região, não é normal que 99% das estradas da Guiné-Bissau sejam intransitáveis, não é normal que continuemos a exportar doentes" para outros países, notou Lona.

Para mudar este estado de coisas e "resgatar a República", Armando Lona adiantou que a Frente Popular vai anunciar nos próximos tempos novas formas de luta.

"Estamos determinados para resgatar a República da Guiné-Bissau, hoje e para sempre, para que seja um modelo para o mundo", sublinhou o líder da Frente Popular.

A Lusa tentou, sem sucesso, obter reações junto do Ministério do Interior e Ordem Pública.

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