Líder da revolta no Sudão do Sul fugiu para a Etiópia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Riek Machar, líder da oposição armada do Sudão do Sul e ex-vice-presidente. Thomas Mukoya - Reuters

O paradeiro oficial de Riek Machar é uma incógnita, embora fontes anónimas afirmem que está a caminho de Addis Abeba, via República Democrática do Congo. A única certeza é que o ex-líder rebelde e ex-vice-presidente do Sudão do Sul deixou o país para um Estado vizinho, após os combates que voltaram a dilacerar o país desde inicio de julho.

A coberto de anonimato, uma fonte do SPLM-IO, o partido de Machar, afirmou que este "está atualmente na República Democrática do Congo, em Kinshasa, e deseja ir o mais depressa possível para a Etiópia".

Riek Machar deverá dar "uma conferência de imprensa" após a sua chegada a Addis Abeba, quinta-feira à noite ou sexta-feira, acrescentou a mesma fonte. Machar já se refugiou diversas vezes nesta cidade desde o início da guerra civil no Sudão do Sul em 2013.

Esta madrugada uma fonte do SPLM-IO havia dito em comunicado que Machar tinha sido "retirado em total segurança para um país seguro da região". O porta-voz, Gatdet Dak, afirmou na sua página Facebook que, ali, "o nosso líder poderá ter acesso irrestrito ao resto do mundo e aos media".
Violência
Riek Machar liderou dois anos de rebelião contra o seu arqui-rival, o Presidente Salva Kiir, desde um golpe de Estado em 2013 em que as forças da Oposição Armada do Sudão do Sul foram forçadas a abandonar a capital do país, Juba. A guerra civil entre as etnias Nuer e Dinka, que disputam entre si o domínio do Sudão do Sul, fez desde 2013 dezenas de milhares de mortos e 2,5 milhões de deslocados.

Um acordo de paz em agosto de 2015 resultou na formação de um governo de unidade nacional, com Riek Machar, líder dos Nuer, a reocupar o mesmo cargo de vice-presidente de antes da rebelião. Machar regressou a Juba em Abril.

Entre os dias 8 e 11 de julho deu-se a recriação do golpe de dezembro de 2013, com grandes combates em Juba entre as forças leais ao Presidente Salva Kiir, líder dos Dinka, e as leais a Riek Machar. Este e os seus homens voltaram a abandonar a cidade.

Os dois líderes responsabilizam-se mutuamente por este novo surto de violência que coloca em perigo o frágil acordo de 2015. Salva Kiir substituiu entretanto Machar no governo, por Taban Deng Gai, um ex-aliado de Machar.

Taban Deng Gai, general das forças da Oposição Armada do Sudão do Sul, ex-aliado de Machar, após ser nomeado novo vice-presidente em julho de 2016 Foto: Reuters
A 'traição" de Deng
Deng, nomeado vice-presidente e representante dos Nuer a 25 de julho, afirmou de início estar disposto a ceder o lugar a Machar se este regressasse a Juba mas, na quarta-feira, apelou ao líder do SPLM-IO para se manter afastado da política dando oportunidade ao governo nacional para se afirmar.

Deng, um antigo general da Oposição Armada do Sudão do Sul e chefe da delegação da oposição nas negociações de paz em 2014, tenta assim assumir-se como representante no Governo da etnia Nuer. Mas, o seu apoio entre a comunidade e as forças rebeldes é difícil de avaliar. Para muitos quadros do partido, no exílio ou fora de Juba, Deng é um traidor por ter aceite a nomeação para a vice-presidência.

A ONU aprovou a semana passada o envio de 4.000 capacetes azuis para o Sudão do Sul, mas o Governo de Kiir começou por rejeitar a solução, afirmando que coloca em causa a soberania do país. Desde então mudou de ideias, mas exige negociar a envergadura, o mandato e as armas da missão, além da origem dos soldados.
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