Líbia. Piloto capturado só se representa a si mesmo, diz ENL

por RTP
Um caça Mirage F1 no aeroporto internacional de Malta, em 2012 Darrin Zammit Lupi - Reuters

O Centro de Operações al-Karama, do Exército Nacional Líbio leal ao general Khalifa Haftar, antigo aliado de Kadhafi, emitiu um novo comunicado sobre o piloto capturado esta terça-feira a sul de Tripoli, dizendo que este está a ser "investigado de acordo com as leis internacionais".

De acordo com o Libyan Adress Journal, jornal com ligações às forças de Haftar, o Centro de Operações sublinhou também que o piloto, que afirma ter origem portuguesa, se representa apenas a si mesmo e não o seu país.

Num vídeo difundido ao início da tarde pelo ENL, o piloto afirmou chamar-se "Jimmy Reis", ter "29 anos" e ser "de Portugal".

Ensanguentado, o homem vestido de roupas militares sem insígnias, estava sentado e rodeado de forças do ENL que o interrogavam, incluindo um comandante, Abdulsalam al-Hassi.

Nessa ocasião, admitiu que a sua missão era "destruir estradas e pontes" e que se encontrava sob o comando de alguém chamado al-Hadi.

Já na altura da captura do homem, também filmada e difundida, um dos combatentes do ENL perguntou-lhe em inglês se era militar, ao que ele respondeu: "Não. Sou um civil".

Milhares de dólares por missão
Em comunicado emitido após a detenção, o ENL identificou o homem como um "mercenário ao serviço do Governo de Acordo Nacional" (GAN), as forças lideradas pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, baseadas em Tripoli e reconhecidas pela comunidade internacional.

O comunicado afirmava ainda que o aparelho, um Mirage F1, estava a atacar as posições do ENL no distrito de Hira a sul da capital. Após o avião ter sido abatido, "o piloto, de origem portuguesa, foi detido", referiu o ENL.

Horas depois, o Centro de Operações do ENL referiu que o piloto realizou diversos bombardeamentos aéreos que resultaram na morte de civis, muitos dos quais mulheres e crianças, tendo recebido "milhares de dólares" por cada missão.

"Apesar das suas agressões e dos seus bombardeamentos contra pessoas inocentes, nós, como uma instituição militar legítima, disciplinada e organizada, tratamo-lo de acordo com os valores islâmicos durante a sua captura. Tratamos as suas feridas e está agora sob investigação, de acordo com a lei internacional".

Em abril, o general brigadeiro do ENL, Ahmed al-Mesmari, denunciou a presença de soldados estrangeiros e mercenários ao lado das milícias do GAN.
Desmentidos sucessivos
Uma notícia divulgada pela televisão Al Arabiya, sobre a iminente libertação do "piloto português", foi entretanto desmentida pela própria operadora.

A notícia citava um porta-voz do ENL, de acordo com a qual o piloto faria parte da "Operação Sophia", que combate a imigração ilegal no Mediterrâneo.

As declarações, afinal, foram publicadas por uma conta falsa do Facebook, reconheceu a Al Arabiya.

A Força Aérea Portuguesa, à agência Lusa, confirmou não ter qualquer meio na "Operação Sophia", acrescentando que Portugal também não possui "aquele tipo de avião".

"Nenhum avião da [Operação] Sophia foi abatido [hoje na Líbia]", disse por seu lado à Lusa Antonello de Renzis Sonnino, porta-voz daquela organização europeia, numa mensagem enviada a partir da sede, em Roma.

A RTP contactou o Ministério da Defesa, que refere que o homem capturado não é um militar no ativo. O Ministério não confirmou sequer que se trate de um cidadão português.

O Estado-Maior General das Forças Armadas acrescentou que Portugal não tem qualquer participação militar na Líbia, nem de forma autónoma, nem inserida nas missões da ONU ou NATO.
Tópicos
PUB