Liberdade separa missas de Francisco e João Paulo II

por Lusa

Centenas de milhares de pessoas são esperadas hoje na missa que o Papa Francisco vai celebrar em Tasi Tolu, nos arredores de Díli, o mesmo local onde o João Paulo II esteve há 35 anos.

"Em 1989, era uma noutra situação. Uma situação de opressão, de intimidação, de violência", recordou o vigário para as questões pastorais na arquidiocese metropolitana de Díli, padre Jovito Rego de Jesus Araújo.

O sacerdote timorense, de 61 anos, uma das figuras da Igreja Católica com um papel relevante na resistência, aludia ao tempo em que Timor-Leste estava sob ocupação da Indonésia, entre o final de 1975 e 1999.

O então papa João Paulo II esteve na Indonésia e deslocou-se a Díli em 12 de outubro de 1989 para uma breve visita marcada por uma ação de protesto de jovens do colégio de Fatumaca, de Baucau.

Rapidamente reprimida pelas forças de segurança indonésias, o protesto constituiu mais uma das ações de visibilidade da resistência timorense à integração da antiga colónia portuguesa na Indonésia.

A propósito da morte de João Paulo II, em 2005, o atual Presidente timorense, José Ramos-Horta, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros, considerou que o papa "recolocou, em 1989, Timor-Leste no mapa do mundo e na agenda internacional".

Quase 35 anos depois, os timorenses vivem livres num país independente e o padre Jovito não esconde a emoção.

"Agora, estamos numa euforia de liberdade, todo o povo vem [à rua ver o Papa] com toda a liberdade, apesar de restrições por causa da segurança", afirmou.

O mesmo sentimento é repetido por muitos timorenses que se dirigem para Tasi Tolu, como José Ximenes, de 84 anos, que também esteve no local em 1989 para assistir à missa de João Paulo II.

"Naquela altura, Timor-Leste ainda estava sob ocupação da Indonésia. Agora, não. Nós agradecemos, porque já caminhámos para a independência com a ajuda de João Paulo II e agora mais com Francisco", disse.

Ao lado, a mulher, Verónica Imaculada da Costa, de 83 anos, também disse sentir-se feliz por ter o chefe da Igreja Católica em Díli.

"Já com esta idade, é com muita alegria que se vem receber a bênção" do Papa, afirmou.

Após o referendo de 30 de agosto de 1999, em que os timorenses rejeitaram por uma esmagadora maioria a integração na Indonésia, a independência da República Democrática de Timor-Leste foi restaurada em 20 de maio de 2002.

O Papa Francisco chegou a Díli na segunda-feira, e foi recebido apoteoticamente por centenas de milhares de timorenses que encheram as ruas por onde passou.

O ponto alto da visita papal será a missa de hoje à tarde (hora local), em Tasi Tolu, a cerca de uma dezena de quilómetros a oeste da capital Díli.

As autoridades esperam centenas de milhares de pessoas no recinto, arriscando mais de meio milhão de fiéis, bem mais dos que os cerca de 100.000 que ali estiveram em 1989.

Tasi Tolu, que significa três lagoas, foi também o local onde se celebrou a restauração da independência em 2002.

O Papa, de 87 anos, está a realizar a sua 45.ª viagem apostólica, que iniciou na Indonésia e incluiu a Papua Nova Guiné, de onde voou para Timor-Leste.

Singapura será a última etapa da viagem, para onde Francisco viaja na quarta-feira.

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