"Liberdade académica sob pressão nos EUA". Noruega lança esquema para atrair investigadores universitários
A Noruega lançou um novo esquema para atrair investigadores de topo internacionais, numa altura da crescente pressão à liberdade académica nos Estados Unidos sob o Governo de Donald Trump. Na quarta-feira, o presidente norte-americano assinou novas ordens executivas visando as universidades, com a intenção de endurecer os padrões de acreditação universitária.
A iniciativa destina-se a investigadores de todo o mundo, mas foi expandida após o Governo de Trump ter anunciado cortes substanciais aos fundos universitários no mês passado.
“A liberdade académica está sob pressão nos EUA e é uma posição imprevisível para muitos investigadores naquela que tem sido a nação líder em conhecimento por muitas décadas”, disse a ministra da Pesquisa e Educação Superior da Noruega, Sigrun Aasland.
“É importante que a Noruega seja proativa numa situação desafiadora para a liberdade académica. Podemos fazer a diferença para investigadores excecionais e para conhecimento importante, e queremos fazer isso o mais rápido possível”, acrescentou, citada pelo Guardian.
O Conselho de Investigação anunciou que lançará um concurso para propostas no próximo mês, abrangendo as áreas do clima, saúde, energia e inteligência artificial.
Vários países tomaram medidas semelhantes desde que Donald Trump anunciou um corte dos fundos federais a centenas de universidades dos EUA. Em França, quase 300 académicos inscreveram-se na Universidade de Aix-Marseille depois de Paris se ter oferecido para aceitar investigadores baseados nos EUA. O ex-presidente francês François Hollande pediu mesmo a criação de um estatuto de "refugiado científico" para académicos em risco.
Novas ordens visam processo de acreditação
Na quarta-feira, o presidente norte-americano assinou novas ordens executivas visando as universidades, com a intenção de endurecer os padrões de acreditação universitária.
Os acreditadores universitários são organizações que avaliam e determinam se uma universidade cumpre padrões específicos de qualidade e conformidade. Isto é, avaliam a qualidade geral, os recursos e os programas da instituição para garantir que cumprem os padrões reconhecidos. A acreditação é, por isso, necessária para que as faculdades tenham acesso a empréstimos e bolsas federais para estudantes. Embora o governo federal não credencie diretamente as universidades dos EUA, tem o papel de supervisionar as organizações, na sua maioria privadas, que o fazem.
Nas novas ordens, Trump instruiu o governo federal a "fazer cumprir as leis vigentes" relacionadas com a divulgação de grandes doações e à acreditação de universidades, que o presidente apelidou de "arma secreta" para derrubar as universidades americanas.
Trump queixa-se frequentemente que os credores aprovam instituições que não proporcionam uma educação de qualidade, afirmando que as universidades foram tomadas por “maníacos e lunáticos marxistas”.
"Demitirei as entidades de acreditação de esquerda radical que permitiram que as nossas faculdades fossem dominadas por marxistas maníacos e lunáticos", disse Trump no verão passado. "Aceitaremos então inscrições para novos acreditadores que estabelecerão padrões reais às faculdades novamente e de uma vez por todas”, asseverou.
A ordem instruiu a Secretária da Educação, Linda McMahon, a tornar as organizações de acreditação mais responsáveis pelo "mau desempenho" das escolas e pelas violações dos direitos civis através de restrições ou rescisão dos seus direitos de acreditação, segundo explicou a Casa Branca.
“Deveríamos olhar para aqueles que têm verdadeiro mérito para entrar, e temos de olhar mais atentamente para as universidades que não estão a aplicar isso”, disse McMahon durante a assinatura das ordens executivas na Casa Branca, na quarta-feira.
Harvard processa Administração Trump
Esta ordem executiva é a última de uma série de medidas que pressionam as universidades norte-americanas. No mês passado, o Governo de Trump congelou centenas de milhões de dólares em financiamento federal para inúmeras universidades, pressionando as instituições a fazerem mudanças políticas e citando o que diz ser uma “falha no combate ao antissemitismo”.
Dezenas de universidades norte-americanas, incluindo Yale, Princeton e Harvard, acusaram a administração Trump de tentativa de “ingerência política” ao congelar e ameaçar retirar subvenções governamentais caso não sejam feitas reformas relacionadas com a guerra em Gaza.
Um dos casos mais graves é o da Universidade de Harvard, à qual a Casa Branca enviou uma carta no início do mês a exigir amplas reformas governamentais e de liderança na universidade, bem como mudanças nas suas políticas de admissão, de diversidade no campus e fim do reconhecimento de alguns clubes de estudantes. A exigência foi recusada pelo presidente de Harvard, Alan Garber, e, horas mais tarde, o governo congelou milhares de milhões de dólares de financiamentos federais.
Entretanto, a universidade interpôs um processo judicial para impedir o congelamento pelo governo de Trump de subsídios estatais no valor de quase dois mil milhões de euros, defendendo que “o Governo não identificou - e não pode identificar - qualquer ligação racional entre as preocupações com o antissemitismo e a investigação médica, científica, tecnológica e outras que congelou e que tem como objetivo salvar vidas americanas, promover o sucesso americano, preservar a segurança americana e manter a posição dos Estados Unidos como líder global em inovação”.
Donald Trump, por sua vez, ameaçou ir ainda mais longe ao retirar a isenção fiscal concedida a Harvard, que acusou de espalhar “ódio e estupidez”.
c/ agências