Líbano e Hezbollah concordam com proposta norte-americana para cessar-fogo
O enviado dos EUA, Amos Hochstein, chegou a Beirute esta terça-feira para manter conversações com autoridades sobre uma eventual trégua entre o grupo armado Hezbollah e Israel, revelou a agência de notícias estatal do Líbano, horas depois de uma proposta elaborada por Washington ter recebido a aprovação do grupo apoiado pelo Irão.
Na passada quinta-feira, a embaixadora dos Estados Unidos em Beirute, Lisa Johnson, apresentou ao primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, e ao presidente do Parlamento, Nabih Berri, um plano de 13 pontos que prevê uma trégua de 60 dias e o envio do exército para o sul do Líbano.
Tanto o Governo libanês como o Hezbollah concordaram com a proposta de cessar-fogo dos EUA e fizeram alguns comentários sobre o conteúdo, revelou Ali Hassan Khalil, um assessor do presidente do Parlamento, Nabih Berri, à Reuters.
Os Estados Unidos e França intensificaram os seus esforços para conseguir um cessar-fogo.
O Hezbollah apoiou o seu aliado de longa data Berri para negociar um cessar-fogo, mas tanto o Hezbollah como Israel intensificaram a luta à medida que os esforços políticos prosseguiam.
Khalil afirmou que Israel estava a tentar negociar “debaixo de fogo”, referindo-se a uma escalada do seu bombardeamento de Beirute e dos subúrbios do sul controlados pelo Hezbollah. “Isto não vai afetar a nossa posição”, frisou.Criado e financiado pelo Irão, o Hezbollah é a única fação libanesa que conservou as suas armas após a guerra civil libanesa (1975-1990). Os seus detratores acusam-no de constituir um “Estado dentro de um Estado”.
O assessor do presidente do Parlamento recusou detalhar as anotações que o Líbano fez sobre o projeto, mas transmitiu que foram apresentadas “em uma atmosfera positiva” e de acordo com a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou a última guerra entre o Hezbollah e Israel em 2006.
Os termos exigem que o Hezbollah não tenha presença armada na área entre a fronteira libanesa-israelita e o rio Litani, que corre cerca de 30 quilómetros a norte da fronteira.
Khalil afirmou que o sucesso da iniciativa depende agora de Israel, frisando que se Telavive não quiser uma solução, “pode criar 100 problemas”.
A resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU estipula que apenas o exército libanês e os Capacetes Azuis serão colocados na fronteira sul do Líbano, marcando assim a retirada dos combatentes do Hezbollah para zonas mais a norte, bem como a retirada dos soldados israelitas do território libanês.
Há muito que Israel afirma que a Resolução 1701 nunca foi corretamente aplicada, apontando para a presença de combatentes e armas do Hezbollah ao longo da fronteira. O Líbano acusou Israel de violações, incluindo o voo de aviões de guerra no seu espaço aéreo.
Khalil acrescentou ainda que Israel estava a tentar negociar “sob fogo”, uma referência a uma escalada do seu bombardeamento de Beirute e dos subúrbios do sul controlados pelo Hezbollah. “Isto não afetará a nossa posição”, realçou.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, avisou na segunda-feira à noite que Israel iria “levar a cabo operações” contra o Hezbollah, mesmo na eventualidade de um acordo de cessar-fogo no Líbano.
“O mais importante não é (o que está no) papel se houver um (acordo), mas o facto de que seremos obrigados, para garantir a segurança no norte (de Israel), a realizar sistematicamente operações contra quaisquer ataques do Hezbollah, mesmo após um cessar-fogo”, afirmou Netanyahu ao Parlamento.
Israel afirma que pretende manter o Hezbollah afastado das regiões fronteiriças do sul do Líbano para garantir que os cerca de 60 mil habitantes do norte de Israel, deslocados pelo fogo do Hezbollah há mais de um ano, possam regressar a casa. No Líbano, dezenas de milhares de habitantes foram também deslocados.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 3.500 pessoas foram mortas no Líbano desde 8 de outubro, a maior parte das quais desde 23 de setembro. Do lado israelita, 46 civis e 78 soldados foram mortosProjéteis lançados do Líbano em direção a Israel
Cerca de 40 projéteis foram disparados do Líbano contra Israel esta terça-feira, revelou o exército israelita, com os serviços de emergência a registarem quatro feridos ligeiros.
O exército disse ter “identificado” “cerca de cinco projéteis” na planície de Sharon e na área metropolitana de Telavive na manhã desta terça-feira, bem como “cerca de 25 projéteis” na Galileia e “dez” no norte da região, todos “provenientes do Líbano”.
As sirenes de alerta soaram nestas regiões e o exército afirmou que “alguns projéteis foram intercetados, enquanto outros caíram em zonas despovoadas”.
Na planície de Sharon, quatro pessoas ficaram ligeiramente feridas, informou um porta-voz do Magen David Adom, o equivalente israelita da Cruz Vermelha.
No dia anterior, uma mulher morreu no norte de Israel após a queda de um foguete e várias pessoas ficaram feridas, algumas gravemente, nos subúrbios de Telavive após o disparo de um míssil do Líbano, segundo os serviços de emergência e o exército israelita.
Segundo o exército israelita, o Hezbollah disparou cerca de uma centena de projéteis do Líbano em direção ao norte de Israel na segunda-feira, enquanto a força aérea israelita prosseguia os seus ataques mortíferos contra Beirute.
Em setembro, o exército israelita lançou uma grande ofensiva militar no Líbano contra o Hezbollah, um aliado do Hamas palestiniano, ambos movimentos apoiados pelo Irão, o inimigo declarado de Israel.
Nos meses anteriores, os confrontos na fronteira entre Israel e o Líbano tinham sido uma ocorrência quase diária.
O Hezbollah declarou abrir uma “frente de apoio” em solidariedade com os palestinianos da Faixa de Gaza, devastada pela campanha militar lançada por Israel em resposta ao ataque sem precedente perpetrado no seu território pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Israel saúde sanções da UE contra o Irão
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, saudou esta terça-feira as novas sanções anunciadas pela União Europeia contra o Irão, descrevendo-as como “passos necessários” contra “a ameaça iraniana”.
A União Europeia anunciou na segunda-feira o reforço das sanções contra o Irão, acusado de apoiar o esforço de guerra da Rússia contra a Ucrânia, fornecendo-lhe drones e mísseis.
Estas novas sanções são “passos necessários na luta da comunidade internacional contra a ameaça iraniana, que constitui o maior perigo para a segurança e estabilidade do Médio Oriente, da Europa e do mundo inteiro”, escreveu, em hebraico, Saar na rede social X.
As medidas vão prejudicar os processos de produção de mísseis e drones do Irão, dificultar o transporte marítimo de armas iranianas para zonas de conflito e aumentar a pressão económica sobre o regime dos Ayatollahs”, acrescentou.
As medidas anunciadas na segunda-feira pelos 27 países da União Europeia proíbem a exportação, transferência ou fornecimento, a partir da UE, de componentes utilizados no fabrico de mísseis ou drones pelo Irão.
As medidas incluem também a proibição da utilização de portos iranianos, como Amirabad ou Anzali, no Mar Cáspio, para a transferência de drones, mísseis ou da tecnologia utilizada no seu fabrico.
A União Europeia proíbe igualmente a assistência a qualquer navio envolvido nestas transferências, com exceção dos pedidos de ajuda humanitária ou devido a um perigo que ameace o navio e a sua tripulação.
O Irão rejeita todas as acusações ocidentais.
Israel, inimigo declarado do Irão, está atualmente envolvido numa guerra aberta contra dois movimentos islamitas apoiados por Teerão, o Hamas palestiniano na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano.
c/ agências