A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) exortou hoje o Governo da Guiné-Bissau a tomar medidas para prevenir mortes por feitiçaria, depois de mais oito pessoas terem morrido por serem suspeitas desta prática.
A posição da Liga surge na sequência da morte de cinco homens e três mulheres, na aldeia de Coladje, setor sul de São Domingos, em consequência da alegada ingestão forçada de um líquido que, "supostamente, identifica e confirma os feiticeiros".
A organização de defesa dos direitos humanos condenou, em comunicado, o que classifica como um "ato bárbaro, vergonhoso e criminoso" e exigiu "a responsabilização criminal dos seus autores".
A liga instou o Ministério Público a abrir imediatamente um inquérito judicial "célere, transparente e conclusivo" e exortou o Governo a "adotar uma estratégia nacional assente numa abordagem holística para a prevenção deste fenómeno que tem ceifado vidas humanas no país".
Apelou também à população em geral para "abandonar estas práticas retrógradas, nefastas e obscurantistas que, para além de constituírem uma afronta à dignidade da pessoa humana, põem em causa a coesão e a convivência pacífica nas comunidades".
Segundo as informações recolhidas pela organização, o caso de São Domingos ocorreu na quarta-feira e terá sido "protagonizado por um vidente proveniente da Gâmbia, a mando dos anciões e responsáveis da comunidade local, com a finalidade de erradicar a prática de feitiçaria" na aldeia de Coladje.
De acordo com os dados apurados, "21 pessoas encontram-se hospitalizadas no Centro de Saúde de São Domingos, entre as quais 12 homens e 9 mulheres, em consequência de ingestão forçada do mágico e misterioso líquido".
Segundo a Liga, este incidente vem juntar-se a outro caso similar registado em Suzana, também no setor de São Domingos, em 2023, e que "culminou com a morte de um número indefinido de pessoas, cujos autores permanecem impunes".
"Os espancamentos e assassinatos decorrentes de acusações de práticas de feitiçaria têm sido recorrentes no país, sobretudo nas zonas rurais, incentivados pela impunidade resultante da inoperância do poder judicial e da incapacidade das forças de segurança em garantir segurança às populações", lê-se no comunicado.
O recente relatório da LGDH sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau denunciou que, entre 2020 e 2022, foram registados 82 casos de conflitos impulsionados pelas acusações de prática de feitiçaria, que resultaram em 37 mortes e mais de 45 feridos.
Para a Liga, estes casos, que ocorrem sobretudo nas zonas rurais da Guiné-Bissau, além de continuarem "a ceifar vidas humanas e a pôr em causa a paz e harmonia no seio da população", revelam "a inércia e a manifesta incapacidade tanto do poder judicial quanto das forças de segurança em proteger os direitos dos cidadãos e os respetivos patrimónios".