Legislativas francesas. Youtuber sobe à arena para combater fogo com fogo

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
"Penso que opormo-nos fortemente a uma ideologia extremista que defende o ódio e a discriminação vai além de assumir qualquer posição política" Sylvain Thomas - AFP

Marcadas as legislativas antecipadas para 30 de junho e 7 de julho, a luta pelo poder em França está a fazer-se numa arena que ferve. Com os Républicains (RL, na sigla em francês) a defenestrarem o seu presidente após este propor uma aliança com o RN de Marine Le Pen, vencedor das europeias no país com um cabeça de lista jovem e de presença eficaz nas redes sociais, Squeezie, um dos mais conhecidos youtubers franceses, vem agora intrometer-se na corrida eleitoral.

Numa carta aberta publicada na sua conta do Instagram, este famoso youtuber deixa o apelo aos “jovens que o seguem” para que votem nas próximas legislativas contra a extrema-direita do Rassemblement National (RN), que considera ser “um partido que defende o ódio, a discriminação e o medo do outro”.

Num momento em que as redes sociais são um dos mais importantes fóruns de recrutamento dos jovens eleitores, a decisão de Squeezie dificilmente será visto como um mero fait-divers, já que se trata do segundo youtuber mais seguido de França, com 19 milhões de subscritores.

Por outro lado, se é vulgar o mundo da política encostar-se ao universo das redes, o movimento contrário de figuras das redes é tão raro que o posicionamento de Squeezie já está a fazer notícia. O youtuber adverte assim numa longa mensagem no Instagram contra a “ascensão drástica da extrema-direita”, deixando àqueles que o seguem um apelo para votarem nas legislativas contra o RN de Le Pen.

“Vão votar a 30 de junho e 7 de julho e percebam que votar num partido que defende o ódio, a discriminação e o medo do outro nunca foi uma solução”, escreve, acrescentando que “o RN não vai ajudar”.
Fogo contra fogo
Como nas eleições europeias, o cabeça de cartaz do RN – e candidato a primeiro-ministro de França – voltará a ser Jordan Bardella. A confirmação surgiu logo que as Legislativas foram marcadas pela boca da própria Marine Le Pen, apostada em controlar o partido desde os bastidores, deixando o protagonismo mediático para Bardella, com a frescura dos seus 28 anos, um ídolo carismático para os jovens que vivem nas redes sociais e que já têm idade para votar.

Jordan Bardella, com todas as suas forças e contradições, um político contra a imigração e pelo controle de fronteiras, é ele próprio um produto da imigração, do lado tanto do pai como da mãe: o pai de origens italianas e a mãe uma italiana que entrou em França nos anos 1960, década em que também muitos portugueses foram a salto para esse país, indocumentados, em busca de melhores condições de vida.

Quem é Bardella e o que vale fora do espaço mediático é uma prova a fazer apenas se e quando chegar a governar. Por agora a certeza é a de que tanto a sua imagem como a sua mensagem passam muito bem nas redes sociais, a arena para onde a extrema-direita e a direita populista estão a levar a confrontação e o debate políticos.

Em 2022, Bardella recebeu de Marine Le Pen o testemunho para liderar o RN herdeiro da Frente Nacional fundada pelo seu pai Jean-Marie Le Pen. Nas internas em que foi escolhido o sucessor de Le Pen, Jordan Bardella assegurou 84,4 por cento dos votos.

Agora subiu à arena um opositor inabitual, que se transporta do universo onde Bardella determinava mais do que qualquer protagonista da política francesa e que, apesar de tudo, era um universo inócuo, onde não sopravam ventos contra, por não ser essa a vocação dos “artistas” das redes.

O próprio Squeezie, também ele com 28 anos, sempre manteve discrição relativamente às suas posições políticas. Até agora.

“Não quero que [as minhas opiniões] influenciem as vossas. Mas penso que opormo-nos fortemente a uma ideologia extremista que defende o ódio e a discriminação vai além de assumir qualquer posição política”, escreve, sublinhando que o RN “conseguiu suavizar a sua imagem e fingir que não é um partido de extrema-direita”.

“Nunca é tarde para reconsiderar as coisas e mudar o pensamento”, apelou Squeezie. Em três horas a publicação tinha um milhão de gostos.
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