Le Pen acena com "governo pronto" para os franceses mas insiste na maioria absoluta

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Benoit Tessier - Reuters

Marine Le Pen disse, esta terça-feira, que um eventual Governo do partido Rassemblement National (RN) "está pronto", mas reiterou que o partido apenas governará se tiver maioria absoluta. As negociações entre partidos continuam, com os oponentes do RN a unirem esforços para travar uma eventual vitória da extrema-direita na segunda volta das eleições.

A cinco dias da segunda volta das eleições legislativas francesas, Marine Le Pen, do Rassemblement National (RN), reiterou que o partido apenas formará Governo se obtiver maioria absoluta.

"Não podemos concordar em formar um Governo se não pudermos agir. Isso seria a pior das traições aos nossos eleitores", disse Le Pen à rádio France Inter.

“Nós queremos governar, que fique claro. Mas é óbvio que não podemos concordar em formar um Governo se não pudermos agir”, reiterou.

A antiga líder parlamentar do RN e candidata do partido a presidente da República sublinhou, no entanto, que caso o RN vença estas eleições com maioria absoluta, “o Governo está pronto”.

“Esse Governo será completo, competente, formado por pessoas do RN e por pessoas que participaram connosco” na vitória nas eleições, além de “pessoas da sociedade civil”, disse. Le Pen esclareceu que não pretende fazer parte deste Governo, nem presidir à Assembleia Nacional, mas sim liderar o grupo de deputados do RN na Assembleia.

O nome que o partido aponta para primeiro-ministro é o de Jordan Bordella, que também já deixou claro que recusará ser nomeado primeiro-ministro e governar ao lado de Emmanuel Macron se o RN não conquistar a maioria absoluta.
"Frente republicana" contra o RN

O partido de extrema-direita RN conquistou 33% dos votos na primeira volta das legislativas, seguindo-se a aliança de esquerda, Nova Frente Popular, com 28,5% dos votos.

A coligação de centro-direita Ensemble, que junta as forças políticas do campo de Emmanuel Macron, foi a grande derrotada da noite, ficando em terceiro lugar, com apenas 22%.

Para inverter esta tendência e tentar travar a extrema-direita, vários candidatos da esquerda e do campo do presidente Macron desistiram a favor de outro candidato nesta segunda volta das eleições para evitar dividir o voto contra o RN.

De acordo com a agência francesa AFP, na noite se segunda-feira, 155 candidatos da esquerda ou do campo de Macron qualificados para a segunda volta – mas que reconheceram não ter capacidades de vencer – desistiram a favor de outro candidato. Os candidatos têm até ao final da tarde desta terça-feira para decidir se pretendem continuar na corrida ou desistir. O objetivo desta estratégia é estabelecer uma “frente republicana” contra o partido de Bordella, que a ser eleito será o primeiro Governo de extrema-direita em França desde a Segunda Guerra Mundial.

Inicialmente, não estava claro se os candidatos do campo de Macron se retirariam a favor de candidatos mais bem posicionados na corrida presidencial do partido de esquerda radical França Insubmissa (FI), de Jean-Luc Mélenchon.

No entanto, Macron disse na segunda-feira, numa reunião a portas fechadas no Palácio do Eliseu, que a principal prioridade era bloquear o poder do RN e que os candidatos da LFI poderiam ser endossados, se necessário.

Bardella condenou a “aliança antinatural” entre Macron e Mélenchon. “É uma aliança de desonra. Os franceses não são tolos. É uma escolha entre Mélenchon e nós”, disse o presidente do RN.

A "frente republicana" já funcionou anteriormente, nomeadamente em 2002, quando eleitores de diferentes partidos apoiaram, de forma esmagadora, Jacques Chirac para derrotar o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, nas eleições presidenciais. No entanto, é ainda incerto se esta estratégia irá funcionar no próximo domingo.

c/agências
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