Laura Bush: "Esta política de tolerância zero é cruel. É imoral"

por RTP
Jose Luis Gonzalez - Reuters

Centenas de crianças estão a ser separadas dos pais quando estes tentam passar a fronteira do México com os Estados Unidos. As vozes contra a política de imigração têm subido de tom. A antiga primeira-dama junta-se às críticas.

“Compreendo a necessidade de reforçar e proteger as nossas fronteiras internacionais. Mas esta política [de imigração] de tolerância zero é cruel. É imoral. E parte-me o coração”, escreveu Laura Bush num editorial no Washington Post.Num período de seis semanas, houve quase duas mil separações familiares.

“O nosso governo não pode estar no negócio de armazenar crianças em caixas de lojas convertidas ou fazer planos para colocá-las em tendas no deserto”, acrescentou, comparando a atual situação com os campos em que foram confinados os japoneses americanos na segunda guerra mundial, “agora considerado um dos episódios mais vergonhosos da história americana”.

Antes, numa rara incursão na vida pública, Melania Trump veio apelar a um entendimento entre republicanos e democratas para chegarem a um acordo sobre a lei de imigração. Melania disse “detestar ver crianças serem separadas da sua família e espero que os dois campos do Congresso possam finalmente chegar a um acordo para aprovar uma reforma sobre a imigração”, de acordo com a sua porta-voz, Stephanie Grisham, em entrevista à CNN.

“Ela pensa que nós devemos ser um país que respeita todas as leis, mas também um país que governa com o coração”, acrescentou, em nome da primeira-dama.

Num período de seis semanas, quase duas mil crianças foram separadas dos pais, de acordo com dados fornecidos pela Administração norte-americana. Adultos que tentam passar a fronteira fora das zonas oficiais, muitos procurando asilo, são colocados sob custódia e enfrentam acusações criminais por tentativa de entrada ilegal nos EUA.

Centenas de crianças e bebés não podem ser detidos com eles e são levados para centros de acolhimento, incluindo armazéns e supermercados convertidos, afastados dos seus pais.

Os analistas apontam uma alteração significativa introduzida pelo procurador-geral Jeff Sessions, que no mês passado anunciou que a decisão do departamento de Justiça iria passar a ser o de acusar criminalmente os país por uma primeira tentativa de passar ilegalmente a fronteira, detendo os adultos. As crianças não são acusadas com um crime, o que implica que não podem ser detidas com os pais, o que fez aumentar exponencialmente o ritmo de separações.

Donald Trump, num tweet publicado no sábado, passou o ónus da situação para o lado dos democratas. Diz que a política é o resultado de uma lei “que os democratas nos deram”, incitando os democratas a trabalhar com os republicanos para elaborarem nova legislação. O presidente norte-americano diz, novamente, que qualquer lei sobre imigração tem de incorporar o financiamento do muro que prometeu em tempo eleitoral, na fronteira entre EUA e México.


Os mais recentes relatos apontam para que os centros de acolhimento estejam a ficar sem espaço. Houve anúncios dos planos para erguer autênticas tendas-cidade para acolher crianças no deserto do Texas, onde as temperaturas chegam com frequência aos 40 graus Celsius.

A situação tem vindo a inflamar críticas. A oposição democrata visitou a fronteira no fim de semana, exigindo entrar num dos campos de acolhimento, um supermercado transformado para albergar 1.500 crianças. “Eles chamam [a lei] de ‘tolerância zero’, mas o melhor nome é de ‘humanidade zero’ e não há nenhuma lógica nesta política”, declarou o senador Jeff Merkley. “É totalmente inaceitável (…) ferirem crianças e traumatizá-las para enviar uma mensagem política aos adultos do exterior”, acrescentou. ´”É diabólico”, considerou o senador.

No mesmo sentido, surgem as declarações do antigo Presidente democrata Bill Clinton, que usou o Twitter para criticar o uso de crianças como ferramenta de negociação.

A conselheira de Trump Kellyanne Conway veio dizer que “ninguém gosta de ver bebés arrancados dos braços da sua mãe”.

Divididos, os republicanos parecem finalmente prontos a apresentar na próxima semana duas propostas de lei: uma satisfazendo a ala dura do partido e outra tentando conciliar moderados e conservadores, mas incluindo as exigências de Trump, nomeadamente, um envelope financeiro de 25 mil milhões de dólares para construir o muro na fronteira mexicana.

Este texto incluirá uma cláusula a assegurar que os menores não são separados dos pais, de acordo com uma fonte republicana citada pela agência France Presse.
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