Rio de Janeiro, Brasil, 09 mai (Lusa) -- Grupos de defesa dos direitos humanos e outras organizações lançaram, esta segunda-feira, uma campanha para reduzir drasticamente os homicídios no Brasil, líder mundial em termos do número absoluto de mortes registadas anualmente.
Em 2015, último ano com dados comparativos disponíveis, 56.212 pessoas foram mortas no Brasil, segundo o Instituto Igarapé -- que compila informações das Nações Unidas e de governos em todo o mundo --, ou seja, mais do que em países como a China ou a Índia, que têm populações muito maiores.
A iniciativa, denominada Instinto de Vida, pretende reduzir o número de homicídios em 50% ao longo dos próximos dez anos.
"O Brasil detém há décadas o primeiro lugar no `ranking` do total de homicídios", afirmou a diretora executiva do Instituto Igarapé, aos jornalistas, sublinhando que este nível de violência se afigura inaceitável.
A estratégia da iniciativa passa nomeadamente por tornar o assunto num tema da campanha das eleições presidenciais do próximo ano.
Outras ações incluem pressionar o governo para aplicar políticas como programas de terapia para consumidores de droga e para reformar o sobrelotado sistema prisional - que junta frequentemente reclusos pacíficos e violentos - e impulsionar uma diminuição dos confrontos entre a polícia militar e os moradores de favelas.
Segundo uma sondagem inédita do Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da iniciativa Instinto de Vida, cujos resultados foram divulgados na segunda-feira, pelo menos 50 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 16 anos conhecem alguém que foi vítima de homicídio ou latrocínio, isto é, mais de um terço da população (35%).
Do total, 16 milhões (12%) conhecem alguém que foi morto pela polícia, especifica o estudo, realizado entre 03 e 08 de abril, em 150 municípios do país, que contou com uma amostra de 2.065 entrevistados.
A campanha também foi lançada noutros seis países da América Latina com elevadas taxas de homicídios - Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Venezuela -, reunindo mais de 30 organizações.
A América Latina representa apenas cerca de 8% da população mundial, mas concentra a maior quantidade de homicídios no mundo -- 38% -- uma média de aproximadamente 144.000 por ano, de acordo com o Instituto Igarapé.
Em termos proporcionais à população, El Salvador figura como a região mais violenta, dado que a taxa de homicídios em 2016 foi de 91 pessoas por cada 100.000.
Por comparação, a taxa do Brasil é de 27,5 por cada 100.000 habitantes, um número que ainda assim figura como um dos mais elevados a nível mundial.