Kremlin dirige-se ao Ocidente "iludido". Mais tanques "não irão mudar nada" na Ucrânia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Tanque ucraniano no terreno Reuters

Desta vez foi Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin, a deixar recados ao grupo de apoio à Ucrânia reunido esta sexta-feira na base da NATO em Ramstein, na Alemanha com o reforço "sem precedentes" das remessas de armamento à Ucrânia em cima da mesa.

"Temos repetido que tais envios não irão alterar fundamentalmente nada mas irão acrescentar problemas para a Ucrânia e para o povo ucraniano", disse Peskov aos jornalistas.

Em Ramstein, a pressão recaiu sobre a Alemanha, para enviar tanques Leopard 2 de fabrico alemão e dar luz verde a outros países para fazer o mesmo. A reunião terminou sem cedências de Berlim.

Questionado se a entrega de armas cada vez mais sofisticadas implicava a escalada do conflito, o porta-voz do Governo russo lamentou a “ilusão” que domina as ações do ocidente.

"Estamos a presenciar um envolvimento indireto e por vezes direto dos países NATO neste conflito… Notamos uma devoção a uma ilusão dramática de que a Ucrânia pode vencer no campo de batalha. Esta é uma ilusão dramática da comunidade ocidental de que esta se irá arrepender várias vezes", sublinhou.

Esta linha de pensamento foi ecoada por diversos comentadores na televisão russa, com Dmitry Kulkov a considerar que o envio de armamento debatido em Ramstein era sinal do "extremo nervosismo do ocidente" quanto à capacidade de vencer a Rússia.

Na qualidade de anfitrião do programa sobre geopolítica Kto Protiv [Quem se opõe?] no canal 1, o principal do Kremlin, Kulkov defendeu que os esforços para vencer os russos iriam desembocar inevitavelmente na "completa destruição da Ucrânia".

O ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, reuniu-se com o Presidente Vladimir Putin e com o Conselho de Segurança da Rússia, para reportar os resultados de uma visita ao centro de operações do conflito, revelou ainda o Kremlin.

Vários indícios apontam para uma ofensiva massiva russa contra as forças ucranianas nas próximas semanas, com a possibilidade de envolvimento bieolorusso.

Esta semana o Kremlin tentou pressionar o Ocidente a desistir do apoio militar a Kiev, anunciando a prontidão do seu sistema de torpedo Poseidon, alegadamente capaz de inundar áreas costeiras com ondas radioativas, e lembrando o perigo de uma guerra nuclear em caso de derrota da Rússia.

Dmitry Peskov afirmou esta sexta-feira aos jornalistas que a única forma de evitar a escalada da guerra era respeitar as preocupações estratégicas expressas por Moscovo já em 2021, antes do início da “operação especial” lançada a 24 de fevereiro último.

Nos últimos meses, a Rússia declarou como suas quatro províncias ucranianas, justificando os seus atos como proteção das populações russófonas daquelas áreas e prevenção da agressividade ocidental via Kiev.

Tanto o Governo ucraniano como a comunidade ocidental afirmam que estes são pretextos infundados para uma anexação territorial ao melhor estilo imperial.

A Ucrânia integrou a União Soviética até à dissolução deste bloco em 1991.
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