Kremlin aponta provocação. EUA e Alemanha preparam-se para enviar tanques à Ucrânia

por Inês Moreira Santos - RTP
Fabian Bimmer - Reuters

Depois de meses de hesitação, os Estados Unidos e a Alemanha preparam-se para enviar tanques de última geração à Ucrânia, reforçando o apoio dos aliados ocidentais a Kiev. A informação está a ser avançada pela comunicação social norte-americana e ainda não houve um anúncio oficial. Mas a Rússia já considerou tratar-se de uma "provocação descarada".

Os aliados chegaram a acordo, após dias de negociações, e estarão prestes a enviar blindados para a Ucrânia. Os Estados Unidos deverão aprovar a entrega de tanques M1 Abrams às forças ucranianas, o que representa uma alteração de planos por parte da Administração Biden. Contudo, a Associated Press indica que pode demorar meses ou mesmo anos até que este equipamento seja entregue.

Espera-se que a Administração Biden anuncie em breve a decisão de reforçar o apoio militar à Ucrânia. O porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano disse, na terça-feira, que “no momento” os EUA não têm nenhum anúncio para fazer sobre as notícias do envio dos Abrams à Ucrânia. Mas Pat Ryder recordou que Washington continua em contacto "estreito" com os ucranianos e aliados internacionais sobre os requisitos de segurança mais urgentes para Kiev.

A Alemanha, por seu lado, terá também aprovado o polémico envio de tanques Leopard 2, assumindo-se também disponível a autorizar a transferência de pelo menos uma companhia do modelo Leopard 2A6 para a Kiev - a versão Leopard 2A6 distingue-se das anteriores (A1 a A4), devido à sua blindagem de terceira geração e relativamente à versão A5, e possui uma peça mais moderna, com maior alcance, que garante vantagem tática no campo de batalha. O Governo alemão terá assim dado luz verde aos países que compram armamento fabricado na Alemanha a reexportar essas armas para Kiev.

“Após meses de debate, o chanceler [Olaf] Scholz decidiu entregar tanques de guerra à Ucrânia. Os aliados também parecem querer alinhar. Os tanques Abrams podem vir dos EUA”, noticiou o jornal alemão Der Spiegel.

A agência EFE indica também que o exército alemão pretende disponibilizar tanques do modelo Leopard 2A6 e que o Governo de Scholz autoriza os outros países a reexportarem unidades dos Leopard 2 comprados à Alemanha. A Polónia, por exemplo, é um dos 16 países europeus e da NATO que possui tanques Leopard 2 e que tem pressionado para que se envie os veículos para a Ucrânia, mas precisaa de autorização alemã para a exportação.

A informação avançada por Der Spiegel será confirmada ainda esta quarta-feira por um anúncio do chanceler alemão, Olaf Scholz, segundo o jornal Bild.
"Uma provocação descarada"

O Kremlin veio entretanto dizer que os tanques de guerra Abrams, de fabrico norte-americano, vão "arder" em solo ucraniano, desvalorizando os potenciais fornecimentos de armamento a Kiev e denominando-os como uma "loucura cara".

As potenciais entregas de tanques de guerra por Washington e Berlim à Ucrânia serão "outra provocação flagrante" contra a Rússia, reagiu, por sua vez, Anatoly Antonov, embaixador da Rússia nos Estados Unidos.

“É óbvio que Washington está intencionalmente a tentar infligir-nos uma derrota estratégica”, disse Antonov no Telegram da embaixada.

“Se os Estados Unidos decidirem fornecer tanques, justificar tal decisão com argumentos sobre 'armas de defesa' não funcionará. Esta seria outra provocação descarada contra a Federação Russa”.

Até agora, os EUA estavam a hesitar em aprovar o fornecimento dos seus próprios tanques M1 Abrams para a Ucrânia, apontando para a necessidade de manutenção extensa e complexa ou desafios logísticos com estes veículos altamente tecnológicos. Como argumento, Washington defendeu que seria mais produtivo enviar os Leopard 2 alemães, já que muitos aliados os possuem e as tropas ucranianas precisariam de menos treino para a sua utilização, em comparação com o complexo Abrams.

Os possíveis planos para enviar os tanques norte-americanos, contudo, já tinham sido divulgados pela primeira vez pela publicação The Wall Street Journal.

O Leopard 2 é um tanque militar desenvolvido no início dos anos 70, e as diferentes versões têm servido nas forças armadas da Alemanha e de outros países europeus, bem como de países não europeus.

Kiev solicitou há vários meses o envio do Leopard 2 para travar os avanços das tropas russas, mas, no seio do Governo de coligação alemão, parecia haver posições divergentes sobre o assunto, embora o argumento oficial fosse que qualquer remessa tinha de ser coordenada com os aliados ocidentais que apoiavam a Ucrânia.

A pressão sobre a Alemanha para autorizar a reexportação destes tanques de guerra de fabrico alemão aumentou nas últimas semanas e na terça-feira, confrontada com um pedido formal apresentado pela Polónia, Berlim abriu caminho para isso vir a acontecer.

Numa conferência de imprensa em Berlim com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, encorajou os países que pretendem fornecer tanques Leopard à Ucrânia a iniciar o treino dos militares ucranianos que os venham a operar.
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