Kim Jong Un e Vladimir Putin reúnem-se com armamento na agenda

por Graça Andrade Ramos - RTP
Kim Jong Un, líder da Coreia do Norte, e Vladimir Putin, Presidente da Rússia, fotografados no encontro em Vladivostok em 2019 Alexander Zemlianichenko

A Rússia necessita de mais armas para os seus arsenais e nesse sentido prepara-se para acolher o líder norte-coreano em meados deste mês, anunciaram esta segunda-feira fontes dos serviços de informação norte-americanos e aliados.

Menos de 24h depois, questionado pelos jornalistas se podia confirmar a notícia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondeu "não, não posso". "Não há nada a comentar", acrescentou.

Uma delegação de PyongYang esteve o mês passado 10 dias na Rússia, entre Vladisvotok e Moscovo, viajando de comboio, para preparar a visita de Kim Jong Un, que raramente deixa o seu país.

A reunião entre Kim e Putin deverá ter lugar em Vladivostok, na costa leste da Rússia, uma reedição do encontro entre ambos em abril de 2019. A ida de Kim a Moscovo estará para já posta de parte.

Vladimir Putin pretenderá levar a Coreia do Norte a recuar quanto a compromissos assumidos anteriormente e a ceder à Rússia munições de artilharia e mísseis antitanque. O líder coreano estará por seu lado interessado em obter tecnologia avançada para satélites e submarinos nucleares, assim como mantimentos.

Os dois líderes deverão encontrar-se no campus da Universidade Federal do Extremo Leste e participar no Forum Económico do Leste, marcado para os dias 10 a 13 de setembro. A Coreia do Norte celebra o seu aniversário dia 9.

Kim Jong Un estará ainda a planear visitar o Pier 33, a base da Frota Naval Russa do Pacífico e eventualmente o Cosmodromo de Vostochny, local de lançamentos de veículos espaciais.

Os dois países, que partilham uma pequena fronteira, estão entretanto já a preparar exercícicios militares conjuntos afirmou por seu lado esta segunda-feira o ministro russo da Defesa, ironizando com a preocupação expressa por Washington quanto a esta aproximação militar.

"Porque não, estes são os nossos vizinhos", afirmou Sergei Shoigu citado pela agência de notícias Interfax. "Há um velho provérbio russo que diz não se escolhem os vizinhos e é melhor viver com eles em paz e harmonia", acrescentou.

Questionado sobre a possibilidade de exercícios conjuntos estarem na agenda, Shoigu confirmou que "claro", estão a ser discutidos.

A missão de Shoigu
A agência de notícia sul-coreanam Yonhap, citou fontes dos serviços de Informação do país, segundo as quais Shoigu terá proposto a Kim Jong Un a realização de exercícios navais conjuntos com a China, durante a visita que realizou em julho a PyongYang, por ocasião das celebrações dos 70 anos do fim da Guerra da Coreia, celebrada pela Coreia do Norte como "Dia da Vitória".

A Yonhap acrescentou que na altura Sergei Shoigu se reuniu em privado com Kim Jong Un sobre a expansão dos laços militares bilaterais.

Sábado passado, o embaixador russo em PyongYang, Alexander Matsegora, afirmou à agência russa de notícias TASS que desconhecia quaisquer planos quanto a exercícios trilaterais, acrescentando contudo que lhe pareciam "apropriados" tendo em vista os exercícios regulares liderados pelos Estados Unidos na região.

Tanto Moscovo como PyongYang afirmaram já ter interesse em aprofundar os seus laços militares, mas a Coreia do Norte negou a eventualidade de "negócios de armas" com a Rússia.

A Casa Branca revelou contudo quarta-feira passada que Kim Jong Un e Vladimir Putin trocaram correspondência sobre o tema e um dos porta-vozes da Administração Biden, John F. Kirby, afirmou que conversações ao mais alto nível sobre a cooperação militar entre os dois países estavam a "avançar ativamente". 
Avisos norte-americanos
Os Estados Unidos da América já admitiram preocupação com o progresso nas negociações de armamento entre a Rússia e a Coreia do Norte e da tentativa de compra russa de munições para usar na Ucrânia.

Washinton já apelou à Coreia do Norte para não prosseguir nesta aproximação, aconselhando PyongYang a manter os seus compromissos públicos de não fornecer armamento à Rússia.

O anúncio desta segunda-feira sobre um encontro bilateral vai contudo muito além dos indícios incialmente revelados pelos serviços de informação.

A Administração Biden acredita ter conseguido no passado impedir a Coreia do Norte e a China de abastecer os arsenais russos, seriamente vulneráveis devido à guerra na Ucrânia.

PyongYang tem realizado vários testes atómicos e afirma que o país está pronto para uma eventual guerra nuclear.
PUB