A Ucrânia começou a usar pela primeira vez mísseis balísticos de longo alcance fornecidos secretamente pelos EUA, bombardeando um campo de aviação militar e forças russas na Crimeia, na semana passada, informou hoje Washington.
O Departamento de Estado norte-americano confirmou que o Sistema de Mísseis Táticos do Exército de longo alcance, conhecido como ATACMS, foi enviado à Ucrânia "este mês", antes mesmo da aprovação na terça-feira de um novo pacote de ajuda a Kiev pelo Congresso.
O envio foi feito "a pedido direto do Presidente" Joe Biden em fevereiro, afirmou Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado, acrescentando que os mísseis, que fazem parte do último pacote de ajuda enviado à Ucrânia em 12 de março, "chegaram à Ucrânia neste mês".
A inclusão dos mísseis neste pacote de março não tinha sido anunciada naquele momento "para manter a segurança operacional para a Ucrânia, a seu pedido", disse o porta-voz em Washington.
Os novos mísseis eram desejados há muito pela Ucrânia, já que estas armas permitem quase o dobro da distância de ataque (até 300 quilómetros) que tinha com a versão de médio alcance da arma que recebeu dos EUA em outubro passado, de acordo com a agência AP.
A Casa Branca já tinha aprovado a entrega dos ATACMS, no início de março, e os EUA incluíram um número significativo destas armas em pacotes de ajuda militares anteriores.
Devido à demora na aprovação de um novo pacote de ajuda militar norte-americana, a Ucrânia foi forçada a racionar as suas armas e enfrenta crescentes ataques russos.
A Ucrânia tem pedido sistemas de longo alcance, alegando que os mísseis proporcionam uma capacidade crítica para atingir alvos russos que estão mais distantes, permitindo que as forças ucranianas permaneçam fora do alcance das armas russas.
As informações sobre a entrega destes mísseis foram mantidas tão secretas que os congressistas exigiram, nos últimos dias, que os EUA enviassem as armas, sem saber que muitas já estavam na Ucrânia.
Durante meses, os EUA resistiram ao envio de mísseis de longo alcance à Ucrânia, temendo que Kiev pudesse usá-los para atingir profundamente o território russo, o que poderia fazer escalar o conflito no leste da Europa.
Esse foi um dos principais motivos pelos quais o Pentágono enviou a versão de médio alcance, com alcance de cerca de 160 quilómetros, em outubro.
Até agora, as autoridades ucranianas não reconheceram publicamente o recebimento ou o uso de ATACMS de longo alcance.
Contudo, ao agradecer ao Congresso norte-americano a aprovação do novo projeto de lei de ajuda militar, na terça-feira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referiu, numa mensagem na rede social X, que "as capacidades de longo alcance, a artilharia e a defesa aérea da Ucrânia são ferramentas extremamente importantes para a rápida restauração de uma paz justa".
"A chave agora é a velocidade", disse Zelensky, apelando à chegada rápida ao terreno do equipamento que Kiev espera receber nas próximas semanas e meses.
No ano passado, o Governo dos EUA avisou a Rússia de que se Moscovo adquirisse e utilizasse mísseis balísticos de longo alcance na Ucrânia, Washington forneceria a mesma capacidade a Kiev.
A Rússia obteve algumas dessas armas, oriundas da Coreia do Norte, e utilizou-as no campo de batalha na Ucrânia, o que levou a Casa Branca a dar luz verde aos novos mísseis de longo alcance.
Ainda assim, na altura, os EUA recusaram-se a confirmar que os mísseis de longo alcance foram entregues à Ucrânia até que fossem realmente utilizados no campo de batalha e os líderes de Kiev aprovassem a divulgação pública.