O furacão Katrina do final de Agosto gerou "uma série de faltas, erros de julgamento, falhanços e absurdos em cascata", segundo um relatório parlamentar que põe um membro do governo norte-americano, Michael Chertoff, no banco dos réus.
O organismo nos Estados Unidos encarregue de responder aos desastres (FEMA) dissipou milhões de dólares na ajuda que prestou aos sinistrados do Katrina, foi lento em actuar e alguns dos seus funcionários careciam de formação e experiência, concluem relatórios elaborados pelo Gabinete para a Supervisão do Governo (GAO), o Departamento de Segurança Nacional (DHS) e a Câmara dos representantes.
Os estudos do GAO e DHS, fruto de diferentes auditorias, salientam que se deram dados falsos acerca de 900.000 requerentes entre os 2,5 milhões de sinistrados que receberam dinheiro do FEMA depois da passagem dos furacões Katrina e Rita o ano passado.
O Fema "malbaratou" milhões de dólares em coisas como quartos de hotel em Nova Iorque por 438 dólares a noite e apartamentos na praia em Panamá City (Florida) por 375 dólares o dia.
Por sua vez, duplicaram os pagamentos a 5.000 pessoas das 11.000 que receberam ajuda mediante um cartão de débito e, posteriormente, a uma transferência bancária.
As auditorias revelam que o FEMA adquiriu "demasiadas" casas para estadas temporárias.
O relatório do GAO assinala que o FEMA "enfrenta o desafio importante de equilibrar a necessidade de proporcionar ajuda económica imediata e a de minimizar a fraude e o abuso".
O porta-voz do FEMA, Nicol Andrews, limitou-se a assinalar que os relatórios são preliminares.
Por outro lado, um relatório de 600 páginas elaborado pela Câmara dos Representantes que será conhecido quarta-feira, mas que já começou a ser filtrado para a imprensa, critica duramente a gestão de todos os níveis do Governo envolvidos na crise e sublinha a "inexperiência" dos funcionários enviados para a zona do Golfo.
Também revela que o Presidente norte-americano, George W Bush, recebeu conselhos "inadequados" e "incompletos" depois da passagem do Katrina, em Agosto de 2005.
Contas feitas, o "Katrina representa um fracasso nacional, uma abdicação do dever mais solene de assegurar o bem público", afirma a Comissão especial da Câmara dos representantes que conduziu o inquérito desde Setembro.
Apesar de a gravidade do furacão ter sido prevista pelos serviços de meteorologia com 56 horas de antecipação - mencionando uma "muito forte probabilidade de que 75 por cento de Nova Orleães fique inundada", segundo extractos do relatório - o ministro da Segurança Interna, Michael Chertoff, não desencadeou o nível de alerta suficiente.
Esta inacção levou a que os responsáveis no terreno fizessem com que "os processos estabelecidos" produzissem curto-circuitos e, daí, uma desorganização assinalável das operações.
É nomeadamente censurado o Ministério da Segurança Interna por "não ter antecipado as consequências prováveis da tempestade, nem fornecido autocarros, barcos e aviões que se revelaram necessários para evacuar a cidade de Nova Orleães inundada antes da passagem do Katrina".
Para a oposição, uma tal incompetência requer a demissão de Michael Chertoff, que tutela o FEMA.
Um único responsável governamental foi afastado depois do Katrina, o director do FEMA, Michael Brown.
Chertoff, que é ouvido hoje no Senado, contra-atacou anunciando uma reforma do funcionamento do FEMA, centrada na melhoria dos circuitos logísticos e dos meios de comunicação. Rejeitou algumas acusações que lhe foram assacadas, declarando assumir "a responsabilidade" dos erros.
A Casa Branca é também posta em causa no relatório: "a equipa de segurança nacional do presidente não verificou, não analisou e não reagiu bem às informações de que dispunha".
Mais precisamente, o relatório confirma que a presidência havia sido advertida para a rupturas nos diques de Nova Orleães na própria noite da tempestade, segunda-feira dia 29 de Agosto, enquanto no dia seguinte o presidente George W. Bush, de férias no Texas (sul), se declarava aliviado por ver Nova Orleães "escapar do golpe".
O furacão Katrina, o mais forte que atingiu até hoje o sul dos Estados Unidos, fez mais de 1.300 mortos no Luisiana, no Mississipi e no Alabama, dos quais mais de 1.100 vítimas nas dramáticas inundações de Nova Orleães devido às rupturas dos diques.