Kamala Harris "orgulhosa" ao reunir apoio para ser a candidata presidencial democrata

por Cristina Sambado - RTP
Erin Schaff - AFP

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, afirmou na segunda-feira à noite estar "orgulhosa por ter conseguido o apoio necessário para se tornar a candidata do Partido Democrático" à Presidência, em substituição de Joe Biden.

“Estou ansiosa por poder aceitar formalmente esta nomeação em breve”, até à convenção do partido em Chicago, em meados de agosto.

“Faltam 106 dias para o dia das eleições e, durante esse tempo, temos muito trabalho para fazer”, afirmou Kamala Harris na sede da campanha em Wilmington, no Estado do Delaware.

A ex-senadora da Califórnia também se comprometeu a colocar o direito ao aborto no centro da sua campanha e a “lutar pelo direito de controlar o próprio corpo”.

Kamala Harris já recebeu o apoio de uma série de governadores, alguns dos quais eram vistos como possíveis rivais, e de outros pesos pesados do partido, como Nancy Pelosi e Hillary Clinton. Mas o antigo presidente Barack Obama e os líderes democratas do Congresso Hakeem Jeffries e Chuck Schumer ainda não lhe deram o seu apoio explícito.

Harris apresentou à equipa a sua visão do país e os pontos de vista que, segundo ela, separam esta campanha da de Trump, dizendo que teria todo o gosto em comparar o seu historial com o dele.

A nossa campanha tem sido sempre sobre duas versões diferentes do que vemos como o futuro do nosso país”, afirmou.
“Uma centra-se no futuro, a outra centra-se no passado. Donald Trump quer fazer o nosso país andar para trás. Nós acreditamos num futuro mais brilhante que abre espaço para todos os americanos”.

A candidata democrata deu também uma ideia de como planeia atacar Trump, referindo-se ao seu passado de perseguição de “predadores” e “fraudadores” quando foi procuradora distrital de São Francisco e procuradora-geral da Califórnia.

“Por isso, oiçam-me quando digo que conheço o tipo de Donald Trump”, afirmou sobre o candidato do Partido Republicano, “um criminoso condenado que foi considerado responsável por agressão sexual em tribunal civil. Outros tribunais consideraram que foram cometidas fraudes nos seus negócios, na sua fundação de caridade e na sua universidade privada”.

Kamala Harris sublinhou ainda os feitos de Biden, afirmando que o tempo que passou como vice-presidente foi “uma das maiores honras da minha vida”.
A atual vice-presidente referiu ainda a “montanha-russa” de “emoções contraditórias” em que todos estiveram, porque “adoro Joe Biden e sei que todos nós o adoramos”. Harris prometeu trabalhar arduamente para ganhar a nomeação para presidente e unir os democratas e o país como um todo.

Esta terça-feira, Kamala Harris vai estar no Estado de Wisconsin pela primeira vez como candidata presencial.
Os Estados do Wisconsin, Michigan e da Pensilvânia são considerados como vitórias obrigatórias para qualquer candidato à Casa Branca.
A deslocação ao Wisconsin oferece mais uma oportunidade para a antiga procuradora do Estado da Califórnia reiniciar a campanha dos Democratas e fazer com que os seus eleitores se sintam mais seguros.
Biden “totalmente empenhado”
Antes de Kamala Harris subir ao palco, Biden fez os seus primeiros comentários desde que abandonou as eleições de 2024, através de uma chamada telefónica, enquanto se isolava depois de contrair covid-19.

Agradeceu aos seus assessores e disse-lhes para “abraçarem” Harris porque “ela é a melhor”. “Sei que as notícias de ontem foram surpreendentes e difíceis de ouvir, mas foi a coisa certa a fazer”, frisou o presidente norte-americano. Joe Biden reconheceu que a equipa tinha “derramado” o seu “coração e alma” para o ajudar a manter-se no cargo para um segundo mandato, mas disse: “Não vou a lado nenhum” e prometeu continuar “totalmente empenhado” na campanha.

“Espero que deem a Kamala todo o vosso coração e alma que deram a mim”, pediu Biden.

Para Biden, “ainda precisamos de salvar esta democracia”, e “Trump continua a ser um perigo para esta Nação”.

Biden deverá regressar à Casa Branca esta terça-feira, depois de se ter isolado em Delaware.
27 Estados emitiram declaração de apoio a Harris
De acordo com os meios de comunicação social norte-americanos, a maioria dos delegados democratas - as cerca de quatro mil pessoas responsáveis pela nomeação oficial do candidato do partido - já anunciou a intenção de a apoiar. Segundo uma sondagem da Associated Press, na segunda-feira à noite, Kamala Harris recebeu o apoio de mais do que os 1.976 delegados necessários para ganhar a nomeação na primeira volta da votação. Um desenvolvimento entretanto confirmado pela antiga speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. 

Os delegados são pessoas selecionadas para representar a sua zona eleitoral na Convenção Nacional Democrática (DNC), o principal evento de nomeação do partido. Estes apoios não são vinculativos, mas se o total se mantiver até ao momento em que os delegados votarem, previsto para 1 a 7 de agosto, Harris conquistará formalmente a nomeação do partido.

Segundo a BBC, que cita a CBS, delegações de pelo menos 27 Estados emitiram declarações de apoio a Harris.

A sondagem é uma indicação da onda de apoio a Harris depois de o Presidente Joe Biden ter abandonado a corrida no domingo.

Desde o anúncio de Biden, milhões de dólares em donativos foram canalizados para a sua campanha e os principais democratas alinharam-se para apoiar a sua candidatura como candidata democrata.
Possíveis companheiros de corrida de Kamala
Segundo uma uma análise da agência Associated Press (AP) divulgada na segunda-feira, Andy Beshear, governador do Kentucky, é uma das opções depois de garantir a sua reputação como estrela em ascensão do partido ao derrotar os candidatos endossados por Donald Trump num bastião republicano.

Beshear, de 46 anos, exibiu um estilo disciplinado e tenaz ao vencer a reeleição no ano passado ao derrotar o então procurador-geral Daniel Cameron.

O governador instou os democratas a seguirem a sua fórmula vencedora, concentrando-se nas preocupações quotidianas dos americanos, desde empregos bem remunerados a educação e cuidados de saúde de qualidade.

Apoiante do direito ao aborto, no Kentucky adaptou a sua mensagem para reagir contra o que chama de uma proibição extrema que carece de exceções para vítimas de violação e incesto.

O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, venceu seis eleições gerais estaduais ao longo de duas décadas, num Estado onde os republicanos prevalecem rotineiramente em disputas federais semelhantes e também controlam a legislatura.

Cooper, de 67 anos, recebeu fortes índices de aprovação para o cargo de governador, beneficiando de uma economia estatal em expansão, pela qual a sua administração e os legisladores recebem crédito.

Retrata-se também como um lutador pela educação pública e pelo direito ao aborto.

Mark Kelly, senador do Arizona, aproveitou a sua carreira como astronauta para construir uma marca de moderado num Estado que há muito apoia os republicanos.

Nas suas duas campanhas – a primeira em 2020 para terminar o mandato do falecido senador republicano John McCain e a segunda dois anos depois para um mandato completo – Kelly obteve mais votos do que qualquer outro democrata nas urnas. Superou Biden, que venceu por pouco o Arizona, em dois pontos percentuais em 2020.

A primeira vez de Kelly nos holofotes políticos nacionais ocorreu através de uma tragédia. A sua mulher, Gabrielle Giffords, na altura congressista, foi baleada na cabeça enquanto se reunia com os eleitores à porta de um supermercado em Tucson. O tiroteio fez seis mortos e gerou um ajuste de contas com violência política e rancor partidário.

A sobrevivência de Giffords fez dela uma inspiração nacional, mas acabou com uma carreira política promissora. Ela e Kelly fundaram um grupo de defesa do controlo de armas, e Giffords tem sido um substituto poderoso quando Kelly assumiu o seu lugar na política.

No Senado, Kelly concentrou-se na segurança nacional e nas forças armadas, bem como na seca que assola o oeste dos EUA.

Josh Shapiro está a meio do seu segundo ano como governador da Pensilvânia, depois de ter vencido facilmente as suas últimas eleições ao derrotar um candidato de extrema-direita apoiado por Trump.

Shapiro, de 51 anos, tem sido um substituto de Biden, apoiando o Presidente em aparições nas cadeias de televisão por cabo, e tem anos de experiência em fazer de Trump o foco dos seus ataques, primeiro como procurador-geral do Estado e agora como governador.

Enquanto governador, Shapiro começou a abandonar um comportamento público reprimido e a tornar-se mais confiante e franco.

Shapiro, que é judeu, confrontou agressivamente o que considerou ser antissemitismo surgido das manifestações pró-palestinianas e professou solidariedade com Israel no seu esforço para eliminar o Hamas.

É um defensor acérrimo do direito ao aborto na Pensilvânia e promove rotineiramente as suas vitórias em tribunal contra Trump, incluindo a rejeição de contestações aos resultados das eleições de 2020.

c/ agências
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