Justiça russa prolonga até 12 de dezembro prisão preventiva do opositor Kara-Murza

por Lusa

A justiça russa prolongou hoje até 12 de dezembro a prisão preventiva do opositor Vladimir Kara-Murza, hoje galardoado com o prémio Vaclav Havel de direitos humanos do Conselho da Europa.

O tribunal Basmanni de Moscovo rejeitou o pedido da defesa, de uma medida cautelar menos severa para o ativista anti-regime.

Kara-Murza, detido desde abril por ter "desacreditado" as Forças Armadas da Rússia, foi acusado de alta traição por criticar no estrangeiro as autoridades russas, incluindo em Lisboa.

O Serviço Federal de Segurança (FSB, os serviços de informações russos) também considerou que o ativista político "colaborou durante muito tempo com um dos países da NATO".

Na Rússia, o delito de alta traição pode implicar uma pena entre 12 e 20 anos de prisão.

Kara-Murza, que nega as acusações, foi hoje contemplado também por ter criticado publicamente desde o início "a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia".

O galardão foi entregue a sua mulher, Evgenia Kara-Murza, que vive com os seus três filhos nos Estados Unidos.

"Estou aqui porque há quase 20 anos me casei com um homem íntegro, um homem cuja honestidade, cujo sentido do dever e da honra é verdadeiramente inspirador, apesar de bastante difícil para quem o pratica", disse a mulher do opositor.

Kara-Murza, que escrevia artigos de opinião em diversos `media`, incluindo o Washington Post, e residia fora da Rússia, regressou ao seu país apesar das numerosas advertências e foi detido em abril por alegadamente difundir informações falsas sobre o Exército.

Considerado pela Amnistia Internacional (AI) um preso de consciência, pertencia ao círculo próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado em Moscovo em 2015, e trabalhou para a organização Rússia Aberta de Mikhail Khodorkovski, o ex-oligarca que no exílio se tornou acérrimo crítico do Presidente russo Vladimir Putin.

O jornalista e opositor de 41 anos, declarado agente estrangeiro na Rússia e que também fez campanha a favor da "lista Magnitski" de sanções contra os atentados aos direitos humanos na Rússia, foi acusado de desacreditar as Forças Armadas num discurso pronunciado perante a Câmara de representantes do Arizona, nos Estados Unidos, em 15 de março.

Kara-Murza garante ter sido envenenado por agentes russos em duas ocasiões, em 2015 e 2017, devido às suas atividades públicas. Segundo o coletivo de investigação Bellingcat, terá sido seguido pela mesma unidade do FSB que terá envenenado o líder da oposição Alexei Navalny, atualmente a cumprir oito anos de prisão.

Na passada terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH) condenou Moscovo por ter anulado a candidatura de Vladimir Kara-Murza às eleições na Rússia pelo facto de possuir dupla nacionalidade russa e britânica.

O opositor possui nacionalidade russa desde o seu nascimento e obteve a nacionalidade britânica após se ter instalado no Reino Unidos aos 15 anos, juntamente com sua mãe.

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