José Ramos-Horta otimista na vitória depois de comício de abertura

por Lusa
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O candidato presidencial timorense José Ramos-Horta disse hoje que a sua visibilidade e proximidade à população e o apoio do histórico Xanana Gusmão são "cruciais" para o eventual êxito da sua campanha.

"Estou muito otimista. De todos os encontros que tenho tido antes da campanha, e do que vi hoje aqui em Lautem no primeiro comício, há muito otimismo de que vou vencer as eleições", disse Ramos-Horta, em declarações à Lusa depois do seu comício de arranque de campanha em Lautem, na ponta leste do país.

Referindo-se ao entusiasmo de "milhares de pessoas" que se reuniram num campo de futebol em Lautem, a 220 quilómetros leste da capital, Ramos-Horta disse que o otimismo tem acompanhado todos os seus contactos com a população nas últimas semanas.

O Nobel da Paz e que está na sua terceira candidatura a chefe de Estado, disse que o "trunfo" da sua campanha é a visibilidade que ele próprio e Xanana Gusmão, líder do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), tem mostrado, especialmente durante o período da pandemia e das cheias que assolaram o país, quer em 2020 quer em 2021.

"Estivemos visíveis, em campo, a apoiar a população e a população reconhece isso", afirmou.

Além disso, considerou, o eleitorado parece querer "penalizar a péssima gestão do Governo em relação à economia nacional" nos últimos anos, já que, "apesar de orçamentos avultosos, permitiu que o setor privado "ficasse descapitalizado e se perdessem milhares de empregos.

"Não houve apoio sério para dinamizar a economia. E os fazedores de opinião a nível local, os chefes de suco, empresários locais, que têm muita influência, queixam-se muito do Governo e de candidaturas apoiadas pelos partidos do Governo, como a Fretilin [Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente] e o Khunto [Partido Kmanek Haburas Unidade Timoroan]", afirmou.

Ramos-Horta considera que o atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, e o ex-comandante das forças armadas Lere Anan Timur são os seus maiores rivais, sublinhando que ambos "comem do mesmo bolo, que é o eleitorado da Fretilin".

"Um eleitorado que está também a ser algo minado pela candidatura de Rogério Lobato", disse.

O candidato recorda que Lú-Olo perdeu as suas primeiras duas candidaturas, em 2007 e 2012, e que "só venceu em 2017, com o apoio de Xanana Gusmão".

"Imagine este ano, sem o apoio de Xanana Gusmão e até com a sua hostilidade e do seu partido, o CNRT, e com a rivalidade e concorrência aos votos do Lere, é impossível matematicamente vencer", considerou.

 Noutro âmbito, José Ramos-Horta contestou a decisão de hoje da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de não realizar a votação na Austrália -- argumentando que isso se deve à não atualização dos cadernos eleitorais.

Sublinhou que a candidatura vai estudar a decisão da CNE para decidir qual será a sua postura.

Ramos-Horta referiu-se ainda a outra questão do arranque da campanha, nomeadamente a decisão do Tribunal de Recurso indeferir um pedido da candidatura presidencial do atual chefe de Estado para a interpretação da legalidade do uso de algumas imagens por dois outros candidatos no boletim de voto.

O acórdão, a que a Lusa teve acesso e de que foi notificado o representante legal da candidatura de Francisco Guterres Lú-Olo, "indefere a pretensão do requerente" de ter uma "interpretação verdadeira" sobre a conformidade do boletim de voto com a lei em vigor.

Em causa está um pedido de interpretação sobre o artigo da lei eleitoral para o Presidente da República que determina o formato e conteúdo do boletim eleitoral.

Em concreto, a candidatura de Francisco Guterres Lú-Olo questiona os símbolos escolhidos pelas candidaturas de Constâncio Pinto e de José Ramos-Horta para figurar no boletim de voto.

Constâncio Pinto usa no símbolo, além da sua foto, a foto de Xavier do Amaral, o já falecido proclamador da independência de Timor-Leste, enquanto José Ramos-Horta usa a sua imagem e a do ex-presidente Xanana Gusmão.

Há ainda dois outros casos que não foram abordados pela candidatura de Lú-Olo, nomeadamente a foto do candidato Martinho Gusmão, que aparece a segurar um livro de sua autoria com a foto do primeiro presidente do país, Nicolau Lobato.

Também Mariano Assanami Sabino aparece na sua foto no boletim com uma imagem esbatida, no topo direito da foto, do fundador já falecido do seu partido, o PD, Fernando Lassama de Araújo.

Ramos-Horta ironizou com as questões levantadas por Lú-Olo, especialmente pelas referências ao uso de "patrimónios do Estado" nas imagens, para criticou o facto do chefe de Estado optar por usar a bandeira da Fretilin com símbolo da candidatura no boletim de voto.

"O senhor Francisco Guterres Lú-Olo anunciou a sua candidatura como independente, foi endossado pela Fretilin, mas depois usa a bandeira da Fretilin. E se há uma entidade que podemos dizer que é património do Estado é o símbolo da Fretilin, que esta consagrado no preambulo da própria constituição", afirmou.

"O meu amigo Francisco Guterres Lú-Olo, que ainda é Presidente, usa o símbolo da Fretilin. Parece que está a baralhar tudo", disse.

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