Jornalista lança livro com "outras versões" da história da guerra em Cabo Delgado
O jornalista moçambicano Armando Nhantumbo lança hoje a obra "Guerra em Cabo Delgado", um livro que propõe "outras versões", além da história oficial, sobre o conflito que assola o norte de Moçambique desde 2017.
"O livro é uma proposta para discussão e debate que vai para além da propaganda oficial que se construiu sobre este conflito", explicou à Lusa Armando Nhantumbo, jornalista do Savana, semanário privado mais antigo de Moçambique, e que cobre o conflito desde 2017.
A obra, de 455 páginas, é baseada em entrevistas às vítimas, especialistas e outros envolvidos e, além de trazer outras versões sobre a história do conflito, apresenta uma cronologia da guerra desde o primeiro ataque em 05 de outubro de 2017, embora também procure abordar o ambiente que marcou os anos anteriores.
"O livro mostra como tudo começou e foi evoluindo. Mas antes de embarcar nesta cronologia, a obra recua e tenta perceber os antecedentes do conflito", declara o jornalista.
Para Armando Nhantumbo, embora a situação de segurança tenha melhorado significativamente desde a entrada de tropas estrangeiras em meados de 2021, o conflito em Cabo Delgado continua a ser um desafio.
"A situação hoje está melhor, mas isso não quer dizer que situação está completamente controlada (...) O grupo, ao longo destes anos, foi-se adaptando à nova era de atuação de tropas estrangeiras. Eles foram-se dividindo, por exemplo, em pequenos grupos e até conseguiram lançar ataques e emboscadas", declarou Armando Nhantumbo.
Na obra, o jornalista moçambicano procura também mostrar que as causas do conflito são múltiplas, destacando a necessidade de uma reflexão abrangente e "intelectualmente honesta" para travar a insurgência no norte do país.
"É fácil dizer que nós estamos a ser vítimas de uma agressão externa e ignorar tantos outros problemas que estão à volta do conflito. O que procuro dizer no livro é que enquanto continuarmos a apresentar respostas parceladas sobre o conflito nós só vamos adiar a solução do problema", acrescentou.
A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.
O último grande ataque terrorista em Cabo Delgado aconteceu na aldeia de Nacuale, distrito de Ancuabe, região sul da província, em 17 de novembro, tendo resultado em pelo menos 15 mortos.