Jornalista com dupla nacionalidade russa e americana detida na Rússia

por RTP
Reuters

Alsu Kurmasheva foi detida em território russo por infração à lei dos agentes estrangeiros. A jornalista é conhecida por fazer a cobertura da invasão russa na Ucrânia e a detenção foi feita na quarta-feira por agentes da autoridade com a cara tapada.

A jornalista é editora na Rádio Free Europe-Radio Liberty (RFE-RL), que confirmou a detenção. Alsu Kurmasheva é a segunda jornalista americana a ser presa na Rússia desde o início da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022. O primeiro foi Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal.

Gershkovich foi preso em março e enfrenta o cenário de uma condenação a 20 anos de prisão após ter sido acusado de acumular informação confidencial. o jornalista poderá, no entanto, vir a ser usado como moeda de troca em futuras negociações com os Estados Unidos.

Relativamente a Kurmasheva, o Kremlin não especificou a razão da detenção. A RFE-RL foi um dos meios de comunicação a suspender atividade na Rússia na altura do início da invasão e Kurmasheva, que vivia em Praga com o marido e os filhos, ficou na Rússia depois de uma viagem de emergência.

O passaporte da jornalista foi confiscado e na terça-feira foram conhecidas novas acusações contra Kurmasheva. De acordo com o Comité de Proteção dos Jornalistas, sedeado em Nova Iorque, citando o meios de comunicação russos ligados ao Kremlin, a jornalista foi acusada por “juntar de forma deliberada uma coleção de informação militar sobre as atividades russas através da Internet para enviar para fontes externas”.

A agência estatal de notícias Tatar-Inform disse que a jornalista fez reportagens sobre a tentativa de recrutar numa universidade em Tatarstan, e o Ministério Público russo acredita que as informações dadas poderiam ser usadas para “desacreditar a Rússia” ou para ameaçar a “segurança da Federação Russa”.

Os meios de comunicação russos dizem ainda que os procuradores deverão acusar Kurmasheva de mais delitos, especialmente a divulgação e distribuição de panfletos críticos da invasão russa da Ucrânia, que o governo continua a denominar de “operação militar especial”.

“Alsu é uma colega respeitada, uma mulher devota e a mãe dedicada de duas crianças. Ela tem de ser libertada para que possa regressar imediatamente para a sua família”, disse Jeffrey Gedmin, presidente da RFE-RL.

A rádio emitiu um comunicado em que elogiou os feitos de Alsu Kurmasheva enquanto jornalista que se esforçou por preservar a linguagem e cultura tártaras, contra os esforços das autoridades russas que “têm feito grande pressão sobre os tártaros nos últimos anos”.

Centenas de jornalistas exilaram-se desde que Vladimir Putin começou a invasão na Ucrânia com muitos censores pertencentes ao Estado a fecharem inúmeros meios de comunicação independentes e acusando vários jornalistas e bloggers.

Muitos já foram condenados por publicarem notícias que o Kremlin diz violarem a nova lei de fake news (notícias falsas) na Rússia. A maioria dos jornalistas é condenada por notícias sobre as atrocidades dos soldados russos em território ucraniano e por falar no número de baixas no exército russo. É o caso de jornalistas como Maria Ponomarenko (da Sibéria), que fez relatos sobre o bombardeamento de um teatro em Mariupol, ou Mikhail Afanasyev, preso por escrever sobre o mesmo assunto.
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