Jornalíssimo

por João Fernando Ramos, Rui Sá

O Facebook está cada vez mais atento às notícias falsas. Tem desenvolvido várias estratégias para lutar contra elas, a última foi em França ao cancelar 30 mil perfis falsos. Também naquele país o referencial Le Monde criou uma ferramenta muito interessante para ajudar os seus leitores a separar o que é verdadeiro do que é informação falsa no ciberespaço: o Décodex.
Por cá Joana Fillol dá destaque à iniciativa "Sete Dias com os Média". Uma atividade que acontece todos os anos desde 2013 em todo o país e cujo objetivo é sensibilizar para o papel que os media ocupam na nossa sociedade e promover a literacia mediática.
Segundo um estudo de maio de 2016 levado a cabo pelo "Pew Research Center'", dois terços dos utilizadores americanos informam-se através do Facebook.
Na rubrica semanal do Jornal 2 fica mais uma vez uma questão para os jovens em idade escolar responderem em www.jornalissimo.com: Preocupas-te em estar informado? Através de que meios te informas?

Segundo o site 'BuzzFeed', as 20 notícias falsas sobre as eleições americanas tiveram mais 'likes', comentários e partilhas (8,7 milhões) do que as 20 notícias verdadeiras sobre o mesmo tema (7,3 milhões). O termo 'fake news' (notícias falsas) não foi, mas podia bem ter sido a palavra do ano 2016.

Talvez nunca, como no último ano, a questão das notícias falsas tenha estado tão em cima da mesa, sobretudo por causa da campanha e dos resultados das eleições presidenciais norte-americanas.

O Facebook foi alvo de muitas críticas por, ao permitir a proliferação de notícias falsas, poder ter influenciado o resultado das eleições.

Entre as notícias falsas que circularam no Facebook antes das eleições estão, por exemplo, uma em que se afirmava que Hillary Clinton pertencia a uma rede de pedofilia, ou um artigo segundo o qual o Papa Francisco tinha manifestado o seu apoio a Donald Trump.

Inicialmente, Mark Zuckerberg defendeu-se desvalorizando o problema das notícias falsas no Facebook. Disse que elas representavam uma pequena percentagem dos conteúdos veiculados na rede social que criou.

Mas Zuckerberg parece ter refletido sobre o assunto e alterado a sua opinião. Em Fevereiro, partilhou com os seus seguidores a vontade de agir para combater este fenómeno das notícias falsas e outro designado por 'filter bubble', em inglês (defende que na Internet e redes sociais os usuários quase não recebem informação que não coincide com os seus pontos de vista, colocando-os assim dentro de uma "bolha" informativa e ideológica), e mostrou-se preocupado com os efeitos que eles podem ter no "sensacionalismo" e na "polarização política" que, acrescentou ainda, "levam a uma diminuição da compreensão".

Zuckerberg não se ficou apenas pelas palavras. O Facebook tem tomado uma série de iniciativas para combater a propagação de notícias falsas.

Desde finais do ano passado que qualquer usuário do Facebook pode dar uma ajuda nesta luta contra a propagação de informações falsas mascaradas de notícias.

No canto superior direito das publicações que aparecem no nosso mural há uma pequena seta que permite denunciar conteúdos. Ao clicares nela surgem-te três opções: "É irritante ou desinteressante | Considero que não deveria estar no Facebook | É 'spam'". Se assinalares a segunda, surge nova caixa de diálogo em que uma das opções é justamente "É uma notícia falsa (Exemplos: notícias propositadamente falsas ou enganadoras, um embuste refutado por uma fonte de confiança)". A rede emite também alertas ao utilizador caso ele esteja a ler uma notícia que tenha sido considerada falsa.

Mas esta não foi a única estratégia encontrada pelo Facebook para lidar com o problema. Já neste mês de abril, a rede social difundiu junto dos seus utilizadores em 14 países (Portugal não integrou a lista, o Brasil sim) uma campanha educativa com 10 dicas para identificar notícias falsas.

O Facebook proibiu, ainda, a publicidade a sites identificados como produtores de campanhas de desinformação; lançou o 'The Facebook Journalism Project' que, em conjunto com órgãos-de-comunicação de renome, procura desenvolver novas formas de consumo de informação; contribui, juntamente com outras empresas, para um fundo de cerca de 13 milhões de euros, nascido para promover a investigação neste âmbito das notícias falsas ('News Integrity Initiative').

A última medida tomada pelo Facebook na sua luta contra a desinformação teve lugar em França, onde decorre a campanha presidencial (a primeira volta é já dia 23 de abril). A empresa fechou 30 mil perfis falsos para evitar que falsas notícias e 'spam' se propaguem pela rede.

Um dos principais diários franceses, o 'Le Monde', lançou também no início de fevereiro uma ferramenta, o 'Décodex' que apresenta e disponibiliza uma série de ferramentas para que os leitores possam defender-se contra campanhas de desinformação - permite, por exemplo, inserir o URL de um site para saber se é fiável. Mas tem, também, informação para orientar os internautas na pesquisa e ajudá-los a fazer uma leitura crítica da informação.

O 'Le Monde' tinha criado e mantém, já desde 2009 (inicialmente como blogue, em 2014 como rubrica do jornal), uma secção intitulada 'Les Décodeurs', que contextualiza a informação veiculada, verifica a veracidade de declarações e rumores, identifica notícias falsas e responde a dúvidas dos leitores.


Pelo quinto ano consecutivo vem aí a operação '7 Dias com os Media'


A operação '7 Dias com os Media' começa a 3 de maio e não é por acaso. Esse é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A data de arranque desta iniciativa, promovida a nível nacional, pelo Grupo Informal de Literacia Mediática, é assim simbólica.

Sem liberdade de imprensa não há liberdade de expressão, nem liberdade de escolha. A imprensa é, no entanto, apenas uma das vertentes em foco nesta "operação" que se realiza desde 2013.

O objetivo é que, ao longo de uma semana (ou mesmo de todo o mês de maio), grupos de alunos, professores, escolas, bibliotecas, empresas, autarquias, universidades ou empresas promovam atividades que permitam refletir sobre os media e sobre o papel que eles desempenham nas nossas vidas e na sociedade.

A imprensa e o jornalismo podem ser abordados, mas a organização sugere muitos outros tópicos para explorar, como por exemplo: os riscos dos velhos e dos novos media; os desafios que hoje se colocam à liberdade de expressão e de publicação; as novas e sofisticadas formas de controlo e vigilância, as responsabilidades da cidadania perante a comunicação mediática são apontados no site da iniciativa.

Um dos principais objetivos desta iniciativa é a promoção da literacia mediática.

O nosso mundo gira cada vez mais à volta dos media e da informação. Desde que acordamos até que nos deitamos temos contacto com um sem número de informações através dos mais diversos meios de comunicação e suportes tecnológicos: da rádio ao telemóvel, dos jornais às redes sociais, da televisão ao tablet...

Estamos tão habituados às formas pelas quais a informação chega até nós e através das quais nos expressamos que, por vezes, nos esquecemos de refletir sobre elas e sobre as nossas práticas mediáticas.

Mas esse é um exercício importante. Afinal, os diferentes media moldam a nossa forma de ver o mundo, a perceção que cada um tem da realidade.

É por isso que, nos últimos anos, se fala cada vez mais em Educação para os Media ou Literacia Mediática. De uma forma simples esta é a capacidade de aceder, analisar, avaliar, criar e atuar usando os diferentes media.

Esta literacia é considerada fundamental no século XXI, precisamente devido à omnipresença dos media nas nossas vidas.

A literacia mediática implica sempre um olhar crítico sobre as mensagens que nos chegam e os meios através das quais elas nos chegam. Implica saber, por exemplo, que os media não refletem mas representam a realidade, que as mensagens veiculadas obedecem às caraterísticas do meio através do qual são transmitidas, que os media respondem muitas vezes a interesses comerciais.

Podes explorar mais esta área no Portal da Literacia Mediática. Os conhecimentos neste âmbito permitem formar cidadãos mais informados, críticos e participativos o que se reflete na qualidade da Democracia.
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