Jogos Olímpicos de Paris 2024. Coletivo pede a exclusão do Irão por discriminação

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Christian Hartmann - Reuters (arquivo)

Um grupo composto pela vencedora do Prémio Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi e o ex-campeão mundial de boxe Mahyar Monshipour pediu ao Comité Olímpico Internacional (COI) para excluir o Irão dos Jogos Olímpicos de Paris, por violar o princípio da não discriminação no desporto, avança a AFP.

Através de uma carta, enviada no final de julho ao Comité Olímpico Internacional (COI), com sede em Lausanne, na Suíça, o grupo apelou à exclusão do Irão por não respeitar a Carta Olímpica.
"A prática do desporto é um Direito Humano"

Segundo Frédéric Thiriez, o advogado que oficializou o pedido numa conferência de imprensa, "a prática do desporto é um Direito Humano", que não deve permitir "qualquer tipo de discriminação, nomeadamente em razão da raça, cor, sexo, orientação sexual, língua, religião, convicção política, origem nacional ou social, propriedade, nascimento ou outro estatuto".

Estamos “a trabalhar num recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (CAS, que resolve os litígios desportivos)", adiantou Frédéric Thiriez. Em breve, será também lançada uma petição no website change.org.

Na carta dirigida ao COI, o coletivo apelou, no mínimo, à exclusão de atletas iranianos em modalidades proibidas pelo Governo de Teerão às mulheres, como a luta livre, boxe, natação, voleibol ou ginástica.
Sonho de praticar desporto livremente
Uma realidade distante no Irão, onde as mulheres praticam desporto “em apartamentos ou caves”, como descreveu Mahyar Monshipour, antiga pugilista francesa de origem iraniana, durante a conferência de imprensa de apresentação do pedido.
Em resposta ao pedido, o Comité Olímpico Internacional garantiu que “estava a acompanhar de perto a situação no Irão”, afirmou o advogado.
Shrin Shirzad, antiga lutadora e membro da federação de luta livre, atualmente refugiada nos Países Baixos, confessou por videoconferência: “Sonhamos praticar o nosso desporto normalmente”, de acordo com a agência noticiosa France Presse (AFP).

No final de agosto, o presidente iraniano do Comité Paralímpico Nacional 2024, Ghafoor Kargari, foi acusado de “tortura e crimes contra a humanidade”, por duas associações europeias que apresentaram queixa em Paris, aquando da sua visita à capital francesa.

Segundo a AFP, a associação francesa Femme Azadi e a Casa da Liberdade da Suécia apontaram o iraniano Ghafoor Kargari como um “ex-comandante e membro proeminente da Força Al-Quds das Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC)”, considerada pelos Estados Unidos e pelo Parlamento Europeu como uma organização terrorista.

"O IRGC e o grupo Al-Quds têm estado na vanguarda da repressão violenta de movimentos pacíficos que lutam pela democracia, pelos direitos civis e pela igualdade entre mulheres e homens no Irão”, pode ler-se na denúncia, de acordo a AFP.

Em setembro do ano passado, a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, detida pela polícia da moralidade por não ter respeitado as rigorosas regras islâmicas de vestuário, despoletou o movimento de independência curda que visa reconhecer a importância das mulheres: “Mulher, Vida, Liberdade”, palavras ecoadas nos fortes protestos no Irão e um pouco por todo o mundo.
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