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Joe Biden. Israel propôs "retirada total de Gaza"

por Graça Andrade Ramos - RTP
Joe Biden, presidente dos EUA Brendan Smialowski, AFP

O presidente dos Estados Unidos da América anunciou esta sexta-feira que "Israel propôs um novo acordo de cessar-fogo em três fases, que inclui a retirada de todas as suas forças de Gaza por seis semanas" e a entrega de todos os reféns ainda vivos ou dos seus corpos. "O Hamas deve aceitar o acordo", opinou Joe Biden.

"Não podemos deixar escapar esta oportunidade", aconselhou ainda.

Duas horas depois, o grupo palestiniano reagiu ao anúncio de Biden. Em comunicado, afirmou que está a ver a proposta de forma "positiva".

O líder norte-mericano precisou que este Roteiro para a Paz na Faixa de Gaza, apresentado por Israel, inclui o cessar-fogo total entre Israel e o Hamas, a retirada das Forças de Defesa israelitas, as IDF, e a libertação de todos os reféns raptados pelo grupo palestiniano a sete de outubro, na invasão que desencadeou as recentes operações militares.

O acordo está "pronto a ser implementado", acrescentou Joe Biden, durante um discurso a partir da Casa Branca e transmitido em direto na rede X.

De acordo com o presidente norte-americano, o acordo proposto por Israel irá desenvolver-se em três fases.

A primeira iria incluir um cessar-fogo total, a retirada dos soldados das IDF "das zonas habitadas de Gaza", a libertação parcial de alguns dos reféns ainda retidos no enclave, com destaque para mulheres e doentes, uma troca de prisioneiros palestinianos e a entrada de 600 camiões com auxílio. Deverá durar seis semanas.

O cessar-fogo "temporário" poderá tornar-se permanente "se o Hamas respeitar os seus compromissos", frisou Biden.

A segunda fase seria precisamente "o fim permanente das hostilidades" prevendo, se necessário para a concluir, a extensão do cessar-fogo de seis semanas. Além disso seriam libertados os restantes reféns sobreviventes, incluindo soldados, contribuindo para o cessar-fogo permanente.

A terceira fase dedicar-se-ia à reconstrução da Faixa de Gaza com participação internacional. Para ficar concluída, teria de incluir a devolução dos restos mortais do reféns que morreram cativos do Hamas.

"É a proposta agora em cima da mesa", frisou Joe Biden. "Este é realmente um momento decisivo".

"Israel fez a sua proposta. O Hamas diz que quer um cessar-fogo. Este acordo é uma oportunidade para provar se eles realmente querem dizer isso", declarou.

Israel mantém "todos os objetivos"
O Governo israelita considerou que a sua nova proposta de trégua na Faixa de Gaza, anunciada pelo presidente norte-americano, permitirá alcançar todos os seus objetivos militares, incluindo a eliminação das capacidades do grupo palestiniano Hamas.

Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que todo o Governo partilha o desejo de que os sequestrados em posse do Hamas regressem a casa o mais rapidamente possível e está a trabalhar para o conseguir.

"Portanto, o primeiro-ministro autorizou a equipa negocial a apresentar um esquema para atingir este objetivo, insistindo que a guerra não terminará até que todos os seus objetivos sejam alcançados", declarou.

Estes objetivos, reiterou a equipa de Netanyahu, incluem o regresso de todos os reféns e a eliminação das capacidades militares e de governação do Hamas.

"O esboço exato apresentado por Israel, incluindo a transição com condições fase a fase, permite que Israel mantenha estes princípios", observou o gabinete do primeiro-ministro.
Formalização de relações com Riade
O presidente norte-americano considerou no entanto que Israel já terá conseguido o seu "principal objetivo", sendo que "o Hamas já não tem capacidade de lançar um ataque semelhante ao de 7 de outubro de 2023".

Joe Biden deixou ainda recados aos parceiros de coligação do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alguns dos quais defendem a continuação das operações militares e a garantia de ocupação de Gaza por parte de Israel.

"A coligação governamental tornou claro que quer ocupar Gaza, quer continuar a lutar durante anos. Os reféns não são uma piroridade", criticou, apelando os que o defendem a guerra a "recuar". 

"Adverti os líderes israelitas que deviam estar dispostos a apoiar isto [a proposta] seja qual for a pressão" futura, declarou.

Para o presidente norte-americano, este acordo permite a Israel ficar mais seguro, incluindo uma acalmia na tensão da fronteira norte, com a guerrilha libanesa do Hezbollah.


Os Estados Unidos irão ajudar a forjar um futuro que garanta a segurança israelita e trabalhar com os parceiros para reconstruir as comundades de Gaza destruídas no caos da guerra, prometeu ainda Joe Biden.

O acordo irá também permitir a Israel integrar-se mais na região, incluindo a formalização de laços com a Arábia Saudita.


"Este é um caminho possibilitado mal o acordo seja firmado", revelou Biden, indiciando a ocorrência de contactos nesse sentido, entre Washington e Riade, na senda dos Acordos de Abraão.
Ultimato do Hamas 

Israel lançou uma grande ofensiva na Faixa de Gaza após um ataque mortífero do Hamas em 7 de outubro, no qual militantes palestinianos invadiram o sul de Israel, mataram quase 1.200 pessoas, na maioria civis, e levaram cerca de 250 como reféns.

A operação israelita em grande escala de retaliação no enclave palestiniano já matou mais de 36 mil pessoas, de acordo com o Hamas, números contestados por Israel, que indica menos de metade das vítimas e refere que seriam maioritariamente combatentes do Hamas e não civis.

As operações militares devastaram o enclave e deixaram o território numa grave crise humanitária.

Esta sexta-feira, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, indicou que o seu movimento tinha novamente passado aos seus mediadores as sua s "exigências", sobretudo um cessar-fogo permanente e uma retirada total de Israel da Faixa de Gaza, condições estas "inegociáveis".

Haniye garantiu que a população de Gaza não substituirá o Hamas enquanto seu líder, uma vez terminada a ofensiva israelita contra a Faixa de Gaza e sublinhou a importância de se conseguir uma liderança nacional unificada, com a participação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

"Aqueles que falam do dia seguinte têm de compreender que o povo palestiniano não aceitará outra opção que não seja a resistência do Hamas",
disse Haniye, que esclareceu que "os grandes sacrifícios devem ser investidos a favor da causa palestiniana para levar a cabo um plano para a libertação e regresso da população" local à área.
A voz de Noa
Tentado pressionar Israel a tréguas, o grupo palestiniano divulgou nas últimas horas um vídeo de propaganda contra o Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, no qual se ouve a voz de um dos reféns israelitas que ainda permanecem na Faixa de Gaza, o que revoltou os seus familiares.

No vídeo é possível ouvir a voz da jovem, Noa Argamani, de 26 anos, a pedir aos israelitas que se manifestassem em Telavive para exigir um acordo para a libertação dos reféns. Noa foi raptada quando participava num festival de música.

Nos últimos dias, Israel avançou nas suas operações militares até ao centro de Rafah, cidade considerada como último reduto das forças militares do Hamas e epicentro do conflito nas últimas semanas, apesar das pressões e objeções da comunidade internacional, que receava um banho de sangue da população civil ali refugiada.

O Hamas, grupo palestiniano apoiado pelo Irão e que tem como principal objetivo acabar com o Estado de Israel, é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Das 262 pessoas que o Hamas raptou no sul de Israel a 7 de outubro, 121 permanecem reféns em Gaza, incluindo os restos mortais de 37, sustenta o exército israelita.

com Lusa
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