O presidente norte-americano disse acreditar numa possível invasão da Ucrânia pela Rússia, mas alertou que Moscovo pagará um “preço elevado” se isso acontecer. Joe Biden afirmou na quarta-feira que os EUA e os seus aliados estão preparados para impor as sanções mais pesadas de sempre em caso de invasão. O presidente dos Estados Unidos deu, no entanto, a entender que a NATO está dividida quanto ao tipo de resposta no caso de uma invasão de pequena escala, o que inquietou o governo de Kiev.
Biden disse que uma invasão em grande escala seria “o acontecimento mais importante em termos de guerra e paz desde a Segunda Guerra Mundial”, com o risco de extravasar para fora das fronteiras e “sair do controlo”. O presidente dos EUA afirmou que uma invasão será também “um desastre para a Rússia” e alertou que os russos “pagarão um preço elevado, imediatamente, a curto, médio e longo prazo se o fizerem”.
“Se eles realmente fizerem aquilo que têm capacidade para fazer com os militares que colocaram nas fronteiras, isso vai acabar por ser um desastre para a Rússia, se realmente lançarem uma incursão na Ucrânia”, afirmou Joe Biden, que reiterou ameaças de sanções económicos “nunca antes vistas”. “Os nossos aliados e parceiros estão preparados para impor um custo muito pesado e provocar estragos severos aos russos e à economia russa”, acrescentou. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que a Rússia mobilizou quase 100.000 soldados na fronteira com a Ucrânia e que pode duplicar a sua presença militar muito rapidamente.
“Nós vamos fortalecer os laços com os nossos aliados da NATO, e eu já lhes disse que se ele [Putin] realmente invadir o flanco leste, nós já entregamos mais de 600 milhões de dólares em equipamento sofisticado, material de defesa que foi dado aos ucranianos”, alertou Biden, acrescentando que “o custo de invadir a Ucrânia em termos de vidas humanas para os russos, mesmo sabendo que eles vão poder prevalecer a médio longo prazo, vai ser um custo pesado”.
Divergências quanto à resposta a invasão de pequena escala
Ao refletir sobre os possíveis cenários, Biden deu, no entanto, a entender que os países que formam a aliança atlântica estão divididos quanto à resposta que será dada no caso de uma “pequena incursão”.
Joe Biden sugeriu que uma invasão de pequena escala a mando de Vladimir Putin pode merecer um outro tipo de retaliação menos severa.
“O que irão ver é que a Rússia será responsabilizada se invadir [a Ucrânia] e isso dependerá do que for feito”, afirmou Biden. “Uma coisa é se for uma pequena incursão. AÍ teremos de discutir sobre o que fazer e não fazer”, acrescentou.
Instado a esclarecer o que qualifica como “pequenas incursões”, o presidente dos EUA apontou para ataques cibernéticos e a presença de funcionários de inteligência russos. Biden explicou, depois, que um avanço significativo de tropas russas em território ucraniano seria a linha vermelha.
“Há diferenças na NATO quanto ao que os países estão dispostos a fazer, dependendo do que acontecer”, disse Biden. “Se as forças russas cruzarem a fronteira, acho que isso muda tudo”, declarou.
A escolha de palavras de Biden fez soar os alarmes em Kiev, ao sugerir que uma pequena incursão provocaria uma resposta incerta por parte da NATO. Um funcionário ucraniano disse mesmo à CNN que as palavras do presidente norte-americano “dão luz verde a Putin para entrar na Ucrânia”.
Poucos minutos depois da conferência de imprensa de Joe Biden, a sua porta-voz, Jen Psaki, emitiu um esclarecimento relativamente a este último ponto. “O presidente Biden foi claro com o presidente russo: se as forças militares russas cruzarem a fronteira ucraniana, isso é considerado uma invasão, e será recebida com uma resposta rápida, severa e unida dos Estados Unidos e dos nossos aliados”, disse Psaki em comunicado.
“O presidente Biden também sabe, por longa experiência, que os russos têm uma extensa cartilha de agressão além da força militar, incluindo ataques cibernéticos e táticas paramilitares. E afirmou hoje que esses atos de agressão russa terão uma resposta decisiva, recíproca e unida”, esclareceu Psaki na quarta-feira.
Palavras de Biden “em nada contribuem para atenuar a tensão”
O Kremlin reagiu esta quinta-feira às declarações de Joe Biden, afirmando que as ameaças do presidente norte-americano não ajudam a reduzir as crescentes tensões com a Ucrânia e podem até desestabilizar ainda mais a situação.
"Acreditamos que em nada contribuem para atenuar a tensão que agora se instalou na Europa e, além disso, podem contribuir para a desestabilização da situação", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentando que a Rússia tem vindo a receber este tipo de ameaças há pelo menos um mês.
Apesar das repetidas declarações recentes de Kiev em contrário, Peskov também disse que Moscovo teme que as ameaças de sanções dos Estados Unidos possam encorajar Kiev a tentar resolver um conflito de oito anos com separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia através da força.
"Estamos preocupados com isso", disse o porta-voz do Kremlin.
Tropas russas chegaram na quarta-feira à Bielorrússia para exercícios militares conjuntos, um sinal "preocupante", segundo Washington, que denuncia a existência de outras manobras perto da fronteira ucraniana. A Rússia nega, por sua vez, qualquer intenção de invadir a Ucrânia.
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, acusou a Rússia de usar todos os meios "no seu manual" para desestabilizar o país vizinho desde 2014, primeiro com a anexação da península da Crimeia e depois com a guerra no Donbass.
"A agressão russa até agora matou mais de 14.000 homens, mulheres e crianças ucranianas, e deixou 1,5 milhões de ucranianos sem abrigo", denunciou o chefe da diplomacia dos EUA, que apontou o dedo a Moscovo por continuar a "alimentar" o conflito no leste da Ucrânia, onde o Kremlin apoia as forças separatistas em Donetsk e Lugansk.
Blinken chegou na quarta-feira a Kiev, no âmbito de uma digressão europeia que inclui uma escala em Berlim e um encontro em Genebra, na sexta-feira, com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, com quem falou na terça-feira, por telefone, para lhe demonstrar o "inabalável" compromisso com a integridade territorial da Ucrânia.
c/agências