O Japão pediu desculpa e vai pagar 7,5 milhões de euros à Coreia do Sul. Estima-se que 200 mil mulheres tenham sido forçadas pelo exército nipónico a serem escravas sexuais durante a II Guerra Mundial. Ficaram conhecidas como “mulheres de conforto” e a maioria era coreana.
O chefe da diplomacia sul-coreana afirmou que o acordo será “final e irreversível” se o Japão cumprir as suas responsabilidades.
O ministro dos Negócios Estrangeiros pediu desculpa pelo esquema de prostituição montado pelos japoneses durante a II Guerra Mundial.
Um passo, diz o ministro, para o desenvolvimento da cooperação de segurança entre os dois países.
“O primeiro-ministro [Shinzo] Abe pede as mais sinceras desculpas e exprime o seu remorso perante todas as mulheres que foram submetidas a experiências dolorosas e incomensuráveis e sofreram feridas físicas e psicológicas incuráveis como “mulheres de conforto”, disse Fumio Kishida, ministro japonês, em conferência de imprensa.
Yun Byung-se, o homólogo sul-coreano, valorizou os esforços japoneses. Considerou que “na premissa de que as medidas do governo japonês vai cumprir o prometido, o governo coreano confirma que o assunto fica resolvido de forma final e irreversível”.
O Japão compromete-se a criar um fundo para as “mulheres de conforto” no valor de mil milhões de ienes (7,5 milhões de euros) que será gerido pelo Governo sul-coreano, diz a BBC. O fundo irá fornecer “apoio” e financiar “projetos para recuperar a honra e dignidade e sarar as feridas psicológicas”.
De acordo com a Reuters, a Coreia do Sul intentará esforços e discussões com o grupo de ativistas que ergueu uma estátua no exterior da embaixada do Japão em Seul que simboliza as “mulheres de conforto”, no sentido da sua remoção.
Japão e Coreia do Sul têm tentado ao longo de décadas ultrapassar as divisões sobre o delicado assunto das “mulheres de conforto”. Sem sucesso, até hoje. A reunião desta segunda-feira surgiu num quadro de pressão internacional vinda dos Estados Unidos. A tensão entre os dois países impediu, por exemplo, a assinatura de um acordo para a partilha de informação militar sensível.
O Presidente japonês já este ano tinha pedido uma resolução sobre este assunto até ao final de 2015, como marca do 50.º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países. Poucos acreditavam que pudesse ser atingido.
200 mil “mulheres de conforto”
Os historiadores apontam que este terá sido o número de mulheres a serem forçadas a trabalhar em bordéis pelo exército japonês. A maioria dessas mulheres seria coreana, mas haveria também mulheres chinesas, filipinas, indonésias e tailandesas.
Só 46 dessas mulheres estarão vivas na Coreia do Sul. Uma delas, Lee-Yong-soo, de 88 anos, argumentou à BBC que as vítimas “não estão atrás do dinheiro. Se os japoneses cometeram esses pecados, devem oferecer uma compensação oficial direta ao governo”.
Yonhap, EPA – Antigas “mulheres de conforto” assistem às notícias sobre o acordo entre Japão e Coreia do Sul
Outra antiga “mulher de conforto”, Yoo Hee-nam, de 88 anos, reagiu ao acordo dizendo que “se olhar para trás, vivi a minha vida privada de direitos básicos como ser humano. Por isso, não posso estar totalmente satisfeita”.
As vítimas do esquema de escravidão sexual pediram ao longo do tempo um pedido de desculpa dirigido especificamente a elas, considerando que as expressões de arrependimento anteriores tinham sido fracas e pouco sinceras.
A edição online da BBC refere que, inicialmente, Tóquio teria em mente uma compensação de apenas 100 milhões de ienes. Resistiu ao longo do tempo a uma maior indemnização porque a disputa começou em 1965 quando as relações diplomáticas foram normalizadas entre os dois países e quando foram fornecidos apoios e empréstimos avultados à Coreia do Sul.
Em 1995 foi criado um fundo privado para as vítimas que durou uma década. No entanto, o dinheiro veio de doações e não do governo japonês.
c/ agências internacionais