Israel volta a atacar sul do Líbano depois de instar à retirada da população

por Cristina Sambado - RTP
Adnan Abidi - Reuters

Novos ataques atingiram os subúrbios do sul da capital libanesa durante a manhã desta sexta-feira, provocando uma nuvem de fumo cinzento sobre Beirute, na sequência de um apelo para evacuação lançado pelo exército israelita.

A agência noticiosa nacional libanesa Ani noticiou dois ataques efetuados por “um drone israelita” no distrito de Ghobeiry, antes de um “terceiro ataque muito violento” da força aérea israelita que destruiu um edifício.

Anteriormente, Avichay Adraee, porta-voz do exército israelita em língua árabe, tinha apelado aos residentes de Ghobeiry para abandonarem a zona, afirmando que estavam “perto de instalações e interesses afiliados ao Hezbollah”.Os subúrbios do sul, um dos bastiões do movimento pró-iraniano Hezbollah que tem sido alvo do exército israelita há várias semanas, foram em grande parte desocupados de habitantes, embora algumas pessoas regressem ocasionalmente durante o dia para inspecionar as suas casas ou empresas.

"A todos os residentes dos subúrbios do sul, especificamente (...) na zona de Ghobeiry (...), estais localizados perto de instalações e interesses afiliados ao Hezbollah, contra os quais as forças de defesa israelitas trabalharão com força num futuro próximo", avisou Avichay Adraee pedindo aos residentes para abandonarem o local.

A agência libanesa Ani noticiou igualmente os ataques aéreos israelitas efetuados durante a noite na cidade de Nabatiye (sul).

Por seu lado, o exército israelita declarou esta sexta-feira que tinha visado “centros de comando” da unidade de elite Al-Radwan do Hezbollah na zona de Nabatiye no dia anterior, bem como lançadores de foguetes que tinham disparado contra o norte de Israel na quinta-feira.A agência noticiosa informou igualmente que soaram sirenes no norte de Israel, nomeadamente na baía de Haifa, e que tinha intercetado “dois projéteis” provenientes do Líbano esta sexta-feira.

A 23 de setembro, o exército israelita lançou uma intensa campanha de bombardeamentos no Líbano, visando em especial os bastiões do Hezbollah, e em 30 de setembro lançou uma ofensiva terrestre no sul do país.

Telavive quer neutralizar o Hezbollah para permitir o regresso dos habitantes do norte de Israel, deslocados por mais de um ano de fogo do movimento libanês, que lançou uma “frente de apoio” contra o Hamas em outubro de 2023, no dia seguinte ao início da guerra em Gaza.

Segundo um relatório do Banco Mundial publicado na quinta-feira, o Líbano, que já sofre de uma crise económica sem precedentes, sofreu “perdas económicas” de mais de cinco mil milhões de dólares em pouco mais de um ano de violência entre o Hezbollah e Israel.

Desde 8 de outubro de 2023, o conflito danificou cerca de 100 mil casas, segundo a mesma fonte.

Em mais de um ano de conflito, pelo menos 3.386 pessoas morreram no Líbano e 14.417 ficaram feridas, de acordo com o mais recente balanço do Governo libanês.

A guerra conduzida por Israel na Faixa de Gaza teve início a 7 de outubro de 2023, dia do ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas ao território israelita.
EUA apresentam proposta de cessar-fogo no Líbano
O embaixador dos EUA no Líbano apresentou na quinta-feira um projeto de proposta de trégua ao presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, avançaram duas fontes políticas libanesas à Reuters, sem fornecer detalhes.

O projeto foi a primeira proposta escrita de Washington para travar os combates entre Israel e o Hezbollah em pelo menos várias semanas, acrescentaram as fontes.

“É um projeto para obter observações do lado libanês”, avançou uma das fontes à Reuters. Quando questionado sobre a proposta, um porta-voz da embaixada dos EUA em Beirute disse: “Os esforços para chegar a um acordo diplomático estão em andamento”.

As esperanças já tinham sido alimentadas anteriormente, nomeadamente no final do mês passado, quando o primeiro-ministro do Líbano expressou otimismo quanto à possibilidade de se chegar a um cessar-fogo antes do final de outubro.

Nessa altura, fontes afirmaram que o cessar-fogo implicaria uma trégua inicial de 60 dias, com Israel a retirar as forças do Líbano na primeira semana. Seguir-se-ia um cessar-fogo permanente com base na aplicação das resoluções das Nações Unidas.

Em Israel, Eli Cohen, ministro da Energia e membro do gabinete de segurança, afirmou na quinta-feira que as perspetivas de um cessar-fogo são as mais promissoras desde o início do conflito.

“Acho que estamos num ponto em que estamos mais perto de um acordo do que estivemos desde o início da guerra”, afirmou Eli Cohen à agência noticiosa.

A administração Biden está a fazer um esforço para a paz no período que antecede a tomada de posse do presidente eleito Donald Trump em janeiro.Um relatório do Banco Mundial estimou em 8,5 mil milhões de dólares o custo dos danos físicos e das perdas económicas devidos ao conflito no Líbano - um preço enorme para um país que ainda sofre os efeitos de um colapso financeiro há cinco anos.

Entretanto, o Washington Post noticiou que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, estava a apressar-se a avançar com um cessar-fogo no Líbano com o objetivo de dar uma vitória antecipada em termos de política externa a Trump, que se espera que seja fortemente pró-Israel.

Os meses de esforços dos EUA para mediar um acordo entre Israel e o Hezbollah, aliados de Washington, falharam até agora. Israel lançou uma campanha aérea e terrestre acelerada no Líbano no final de setembro, após quase um ano de confrontos transfronteiriços em paralelo com a guerra de Gaza.

Noutro sinal potencialmente promissor, um alto funcionário libanês indicou que o Hezbollah afastaria as suas forças da fronteira israelo-libanesa no âmbito de um cessar-fogo.


O responsável, Ali Hassan Khalil, revelou à Al Jazeera na quarta-feira que os negociadores libaneses tinham chegado a acordo sobre “um determinado texto” com o enviado da Casa Branca, Amos Hochstein, durante a sua última visita a Beirute, no final de outubro.

Hochstein deveria ter comunicado o acordo ao lado israelita e depois enviar qualquer comentário a Beirute, acrescentou Khalil. “Estamos à espera e, se Deus quiser, em breve teremos o projeto a que ele chegou”, realçou.
Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU
Para o ministro israelita Eli Cohen um dos principais pontos de atrito para Israel é garantir a sua liberdade de ação caso o Hezbollah regresse às zonas fronteiriças.

Segundo o governante, o Líbano estava pronto para implementar “precisamente” a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou uma guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah.

Os termos israelitas exigem que o Hezbollah retire combatentes e armas das áreas entre a fronteira e o rio Litani, que corre a cerca de 30 quilómetros da fronteira sul do Líbano.Dezenas de milhares de israelitas com casas ao longo da fronteira continuam a ser deslocados pela ameaça de ataques do Hezbollah, e os custos da guerra no Líbano para Israel estão a aumentar. Seis soldados israelitas foram mortos em combate com o Hezbollah na quarta-feira.

Os EUA e outras potências afirmam que um cessar-fogo deve basear-se na Resolução 1701.

Depois de 2006, Israel queixou-se de que os combatentes e as armas do Hezbollah permaneceram na zona fronteiriça, enquanto o Líbano acusou Israel de violar a resolução ao enviar aviões de guerra para o seu espaço aéreo.

O chefe da manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, anunciou na quinta-feira, que “as Nações Unidas reforçariam a sua missão de manutenção da paz no Líbano para apoiar o exército libanês durante uma trégua, mas não aplicariam diretamente um cessar-fogo”.

Ali Hassan Khalil acrescentou que o Líbano não tem objeções à participação dos EUA ou da França na supervisão do cumprimento do cessar-fogo.

c/ agências
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