Israel. Vacinação em massa associada a recuo de casos e internamentos

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Mais de 3,5 milhões de israelitas já receberam a primeira dose da vacina e 2,1 milhões a segunda Amir Cohen - Reuters

Na corrida global à vacinação, Israel mantém-se com larga vantagem no primeiro lugar, tendo já inoculado quase um terço da população de nove milhões. Os dados obtidos até ao momento são promissores, tendo-se observado um decréscimo acentuado no número de infeções, hospitalizações e de doença grave entre grupos de pessoas já vacinadas. Nos maiores de 60 anos, verificou-se uma redução de 53 por cento no número de novos casos e de 39 por cento nas hospitalizações.

Desde que Israel começou o plano de vacinação, a 19 de dezembro, mais de 3,5 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina e 2,1 milhões a segunda.

Tendo em conta esta campanha de vacinação em massa e acelerada, Israel é palco do maior estudo a nível mundial da vacina da Pfizer/BioNTech.

O Governo israelita chegou a um acordo com a Pfizer onde o país se comprometeu a partilhar dados médicos com a farmacêutica norte-americana em troca de vacinas para combater a Covid-19. Os resultados começam a surgir e parecem ser promissores.

Entre o primeiro grupo a ser vacinado (idosos e grupos de risco), tem-se observado uma tendência decrescente de infeções e hospitalizações. Segundo explica à agência Reuters Eran Segal, cientista de dados do Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, Israel, entre meados de janeiro até 6 de fevereiro, observou-se, entre este primeiro grupo de pessoas elegíveis à vacinação, uma redução de 53 por cento no número de novos casos, um declínio de 39 por cento nas hospitalizações e uma queda de 31 por cento nas doenças graves por Covid-19.

Por sua vez, neste mesmo período, entre as pessoas com menos de 60 anos que foram vacinadas posteriormente, os novos casos diminuíram 20 por cento, mas observou-se um aumento nas hospitalizações e doenças graves, de 15 e 29 por cento, respetivamente.

Entre o grupo de pessoas que já recebeu a segunda dose da vacina da Pfizer, os dados demonstram que apenas 254 de 416.900 pessoas ficaram infetadas. Ao fim de 22 dias após a vacinação completa (duas doses), não foi registada nenhuma infeção. Comparando com um grupo de pessoas que ainda não foi vacinado, estes números comprovam uma eficácia da vacina de 91 por cento.

Perante estes números, os especialistas israelitas mostram-se confiantes de que as vacinas, mais do que as medidas restritivas, têm vindo a reduzir as infeções por Covid-19. As comparações foram “convincentes ao mostrarem-nos que este é o efeito da vacinação”, disse Segal à Reuters.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou na terça-feira que mais de 90 por cento dos óbitos registados no país no último mês foram de pessoas que ainda não tinham recebido qualquer dose da vacina da Pfizer.

No final desta semana, espera-se ser possível obter um quadro mais completo da vacinação da população israelita, à medida que cerca de 80 por cento dos idosos estarão total ou parcialmente vacinados. “Esperamos um declínio ainda maior nos casos gerais e nos casos de doença grave”, disse Ran Balicer, chefe do setor de inovação da Clalit Health Services.
Vacina reduz a carga viral?
Para além da eficácia na redução de doenças graves e de mortes por Covid-19, procura-se perceber igualmente a capacidade das vacinas em reduzir a carga viral, isto é, de impedir a transmissão do vírus a terceiros.

Neste sentido, o maior centro de testagem de Israel, coordenado pela empresa MyHeritage, observou uma diminuição significativa na carga viral de cada pessoa infetada entre as faixas etárias mais vacinadas.

O diretor do departamento de Ciência da My Heritage, Yaniv Erlich, afirma que estes dados sugerem que, mesmo que as pessoas vacinadas fiquem infetadas, estas têm uma menor probabilidade de transmitirem o vírus a outras pessoas.

“Até agora, os dados mais claros são de Israel. Eu realmente acredito que estas vacinas vão reduzir a transmissão progressiva”, disse Erlich.
Vacinação vs variante britânica
Mesmo sendo o líder mundial na vacinação, Israel está a lutar para sair vencedor da pandemia. O terceiro confinamento nacional parece não estar a conseguir fazer baixar o número de novos casos – um fenómeno que os especialistas justificam com propagação da variante britânica, que é mais infecciosa.

Quatro dias depois de Israel ter dado início ao seu plano de vacinação, a variante britânica foi identificada em quatro casos. Atualmente, esta nova estirpe representa cerca de 80 por cento dos novos casos em Israel.

Na corrida entre a propagação da variante do Reino Unido e a vacinação, o resultado final é que estamos a ver uma espécie de planalto em termos de doentes graves”, explica Eran Segal à Reuters. Numa nota positiva, o diretor-geral de Saúde de Israel, Hezi Levi, afirma que “até agora identificamos a mesma eficácia, de 90 a 95 por cento, contra a variante britânica”.

Perante o avanço assustador da estirpe britânica, manter o ritmo de vacinação é um objetivo crucial para Israel – uma meta que parece agora difícil de manter, com o ritmo das vacinações a abrandar na última semana.

“Quando se vacina rapidamente e em massa, eventualmente chega-se ao ponto mais difícil – aqueles que estão menos dispostos [a receber a vacina] ou são mais difíceis de alcançar”, explica Boaz Lev, chefe do painel consultivo do Ministério da Saúde de Israel.

As autoridades israelitas acreditam que algumas pessoas são influenciadas por rumores de possíveis efeitos secundários e recusam-se a ser vacinadas contra a Covid-19. O primeiro-ministro israelita referiu-se a estes rumores como “fake news” e acrescentou: “Somos uma nação da vacinação. Temos vacinas para todos os cidadãos, para todos. Se forem e se se vacinarem, estão a salvar vidas”.

Desde terça-feira, Israel alargou a vacinação aos requerentes de asilo e imigrantes, incluindo imigrantes ilegais, numa campanha que já atinge as pessoas com mais de 16 anos de idade.

Apesar de ainda manterem uma taxa elevada de contágios, o Governo israelita concordou na terça-feira em reabrir a partir de quinta-feira a pré-escola e parte da escola primária do sistema educativo, fechadas há um mês.

Netanyahu está confiante que a campanha de vacinação, a mais avançada do mundo, alcançará a maioria da população e que poderá reabrir a economia em março, quando as eleições legislativas, as quartas em menos de dois anos, se realizarem no dia 23.

c/ agências
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