Israel preparava campanha contra o Hamas há seis meses

por Eduardo Caetano, RTP
Israel preparou durante seis meses a actual operação militar contra o Hamas Mohammed Saber, EPA

A aviação israelita bombardeou este domingo os túneis de contrabando no sector de Rafah na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egipto. Campanha de desinformação, segredo e preparação de seis meses estiveram na base do ataque agora desencadeado.

As mais de 20 bombas lançadas pelos aviões-bombardeiros israelitas tiveram como objectivo os túneis que são utilizados pelo Hamas para introduzir armas e mercadorias na Faixa de Gaza, sujeita há largos meses a um bloqueio pelas Forças Armadas israelitas.

A acção de bombardeio israelita visou estancar o rearmamento das Brigadas Ezzedine al-Qassam, braço armado do movimento islamita Hamas, que, quer nas semanas que antecederam a ofensiva israelita, quer após o início dos ataques como represália têm lançado vários “rockets” sobre os territórios do sul de Israel, provocando até ao momento pelo menos um morto e alguns feridos.

Este domingo, continuaram as acções da Força Aérea israelita que bombardeou vários sectores do enclave palestiniano da Faixa de Gaza, no segundo dia de uma ofensiva que já provocou 290 mortos e 620 feridos

O campo de refugiados de Jabaliya, a Norte, e as localidades de Khan Younes e Rafah, a Sul, foram os alvos dos primeiros ataques de domingo.

Os bombardeamentos voltaram também a atingir a cidade de Gaza, onde dez elementos das forças de segurança do Hamas ficaram feridos. Uma prisão e o quartel-general dos serviços de segurança do Hamas foi destruído, bem como o edifício do Conselho de Ministros do Hamas que foi duramente atingido pelas bombas israelitas.

membros do Hamas procuram corpos de militantes islamitas nos escombros do complexo de Saraya

A operação militar conduzida pelos israelitas é de uma violência nunca vista desde a ocupação dos territórios palestinianos por Israel em 1967. Visa, segundo as autoridades do Estado Hebraico, pôr fim definitivamente ao bombardeamento do território do Estado judaico pelos milicianos do movimento islamita que controla a Faixa de Gaza.

O Hamas continua a reagir aos ataques lançando granadas de morteiro para o território israelita. Só este domingo, já foram enviados mais de 20 sem, no entanto, causar qualquer vítima.

Operação terrestre em preparação

Os ataques da Força Aérea israelita poderão ser um preparativo de uma operação terrestre alargada.

Israel decidiu mobilizar 6.500 reservistas. Carros de combate e tropas foram entretanto deslocadas e concentradas junto à fronteira de Israel com a Faixa de Gaza.

Imagem de tanque israelita em manobras na localidade de Sufa, junto à fronteira com a Faixa de Gaza

O ministro israelita da Defesa já fez saber que as Forças de Defesa do seu país estão “preparadas para qualquer eventualidade”.

“Se for necessário destacar tropas para defender os nossos cidadãos, fá-lo-emos”, afirmou Ehud Barak, adiantou à agência “France Press” um porta-voz do Ministério da Defesa.

Palestinianos protestam contra ataque de Isarel

A vida normal parou na Faixa de Gaza. Lojas, restaurantes e até escolas mantiveram-se fechadas em sinal de luto pelas já centenas de mortos provocados pelos ataques da Força Aérea israelita.

Milhares vieram para as ruas para enterrar os mortos e rpotestar contra ataques

Milhares de palestinianos saíram à rua para manifestarem a sua ira durante os funerais dos seus mortos, contra aquele que consideram o agressor, Israel.

Palavras de ordem contra Israel foram ouvidas em uníssono nas ruas do território mártir. “Morte a Israel” e “morte à América” foram as frases mais ouvidas. Os palestinianos não esquecem o apoio que a América, na fraseologia do Hamas “O Grande Satã”, dá a Israel, país que negou a pátria palestiniana.

Surpresa e desinformação e preparação na base do ataque

Como é seu timbre, Israel preparou muito bem este ataque fulminante à Faixa de Gaza e ao movimento islamita, Hamas. Lançou uma campanha de desinformação muito bem planeada que visava apanhar o Hamas completamente desprevenido.

Essa campanha de desinformação, de engano e de segredo visou evitar que o Hamas levasse a sério a possibilidade de um ataque israelita ao território por si controlado.

A contenção do governo israelita na quarta-feira em que mais de 70 granadas de morteiro foram lançados pelos milicianos do Hamas contra território israelita, naquele que foi o mais grave bombardeamento a que território israelita foi submetido após as tréguas de 19 de Dezembro, integrava essa mesma estratégia de engodo dos dirigentes do Hamas.

A estratégia revelou-se de sucesso. O Hamas foi totalmente enganado pela estratégia de Israel, a ponto de um dos seus comunicados fazer troça do Gabinete de Segurança de Israel afirmando que “passa o tempo a debater decisões para parar os bombardeamentos, enquanto os seus combatentes bombardeiam (o território israelita) com uma dezena de rockets ou granadas de morteiro”.

O Exército não reagiu durante uma série de dias aos bombardeamentos palestinianos, o ministro da Defesa chegou a permitir a entrada na Faixa de Gaza de comboios humanitários, foi tornada pública uma reunião do Conselho de Ministros israelita para este domingo para discutir a possibilidade de uma acção militar contra o Hamas, o comandante da região sul do exército israelita, encarregado da Faixa de Gaza partiu em gozo de férias.

Se, a isto, se somar o facto de os ataques terem sido lançados num sábado, dia do sabath jornada de repouso em Israel, vê-se que tudo foi preparado meticulosamente para enganar o Hamas e provocar uma surpresa total no inimigo que aliás, justifica para alguns, a grande quantidade de mortos do movimento contabilizados até ao momento.

Quando o ataque foi desencadeado por mais de 60 aparelhos da Força Aérea israelita, no sábado, a maioria dos membros do Hamas estavam confiantes e a descoberto.

O próprio movimento islamita já veio reconhecer que um grande número dos seus combatentes foram mortos ou ficaram feridos pela acção militar bem como muitas das suas instalações foram gravemente danificadas.

Os preparativos da operação militar israelita começaram há seis meses. Hamas e Israel negociavam então uma trégua sob os auspícios do Egipto.

Nesses seis meses Israel obteve a localização dos depósitos de armamento do Hamas, a localização dos campos de treino e o alojamento dos principais responsáveis do Hamas. Uma vez na posse desses dados tornou-se então para Israel irreversível a decisão de atacar mortífera e definitivamente o movimento que tem sido um espinho cravado na sua fronteira.

Líder do Hamas no exílio apela a fim dos "massacres"



O líder no exílio do Hamas vem lançar um apelo dorido a todo o mundo árabe. Khaled Mechaal, no exíli, pede o fim daquilo que apelida como “massacres” na Faixa de Gaza e a abertura de “vias que permitam salvar as crianças“ palestinianas, numa conversa telefónica com o líder líbio, Mouamar Khadafi.

“Os únicos e desesperados pedidos do povo palestiniano aos países árabes e mundiais é a paragem dos massacres e a abertura de vias para salvar as crianças deste povo que está em vias de sofrer um genocídio”, disse.
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