Israel prepara incursão no Líbano. França e EUA pressionam cessar-fogo entre Israel e Hezbollah

por Cristina Sambado - RTP
Famílias em fuga aos ataques de Israel no sul do Líbano fotografadas na passagem fronteiriça de Masnaa, em Jdeidat Yabous, Síria Youssef Badawi - EPA

Estados Unidos, União Europeia e vários países árabes apelaram a um cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah para abrir caminho a negociações mais amplas, enquanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse numa reunião do Conselho de Segurança da ONU que "o inferno está à solta no Líbano".

Apelamos para um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre o Líbano e Israel para dar uma oportunidade à diplomacia” em relação à situação no Líbano e em Gaza, lê-se na declaração assinada por EUA, França, União Europeia, Austrália, Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, divulgada pela Casa Branca.

É tempo de encontrar uma solução para a fronteira entre Israel e o Líbano que garanta a segurança e permita que os civis regressem às suas casas. A troca de tiros desde 7 de outubro, em particular nas últimas duas semanas, ameaça tornar-se um conflito muito mais alargado e prejudica os civis”, refere a declaração conjunta.

Macron e Biden que se reuniram à margem da assembleia geral da ONU em Nova Iorque, afirmaram que tinham trabalhado num cessar-fogo temporário “para dar à diplomacia uma oportunidade de ser bem-sucedida e evitar novas escaladas através da fronteira”.O Hezbollah há muito que insiste que qualquer cessar-fogo da sua parte depende do fim das operações israelitas em Gaza, onde as negociações sobre um acordo de tréguas em troca de reféns estão bloqueadas há meses.

Os presidentes dos EUA e de França revelaram ainda que tinham “trabalhado juntos nos últimos dias” para chegar a este apelo conjunto para um cessar-fogo temporário, agora acompanhado por outros países.

“Apelamos para uma aprovação alargada e ao apoio imediato dos governos de Israel e do Líbano”, acrescentaram.

Um responsável norte-americano afirmou que este apelo internacional para um cessar-fogo no Líbano era um "avanço importante".

Os EUA afirmaram que o período de 21 dias foi escolhido para dar espaço à negociação de um acordo mais abrangente entre as duas partes, de modo a permitir que os residentes regressem às suas casas ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano sem receio de mais violência, ou de um “ataque semelhante ao de 7 de outubro no futuro”.
Reunião acesa no Conselho de Segurança da ONU

O anúncio do apelo de um cessar-fogo temporário de 21 dias foi feito no final de uma reunião acesa do Conselho de Segurança da ONU, em que o primeiro-ministro libanês acusou Israel de violar a soberania do seu país. Najib Mikati afirmou que os hospitais libaneses estavam sobrecarregados e não podiam receber mais vítimas.

Netanyahu deve chegar a Nova Iorque esta quinta-feira e espera-se que defina se apoia uma pausa de 21 dias nas hostilidades.

Já o enviado de Israel ao Conselho de Segurança da ONU afirmou que o seu país não pretende uma guerra em grande escala e que o Irão é a “força motriz” por detrás da instabilidade que assola o Médio Oriente.

Por seu lado, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, afirmou que “o apoio inabalável dos EUA e do Reino Unido a Israel deu-lhes carta-branca para todo o tipo de comportamentos sinistros”.

Durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre o ataque israelita ao Hezbollah, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que “o Inferno está à solta no Líbano”.
Antena 1

“Temos de nos alarmar com a escalada, o Líbano está à beira do abismo”, insistiu.

Nesta linha, Guterres repetiu o que tem dito quanto ao facto de “o mundo não pode deixar que o Líbano se torne outra Faixa de Gaza”.
Israel prepara ofensiva terrestre no Líbano
O chefe do Estado-Maior de Israel, major-general Herzi Halevi, revelou que Telavive prepara uma ofensiva terrestre no Líbano e que os ataques aéreos se destinam a destruir infraestruturas do Hezbollah e preparar o terreno para que as tropas israelitas atravessem a fronteira entre os dois países.

“Estamos a preparar o processo de uma manobra, o que significa que entrarão em território inimigo, entrarão em aldeias que o Hezbollah preparou como grandes postos militares avançados, com infraestruturas subterrâneas, pontos de preparação e plataformas de lançamento para o nosso território [a partir do qual] levarão a cabo ataques contra civis israelitas”, afirmou Halevi durante uma visita às tropas israelitas posicionadas no norte do país.

Israel afirma que a sua campanha contra o Hezbollah é necessária para que 60 mil pessoas evacuadas das regiões fronteiriças possam regressar a casa. Até agora, a campanha tem-se limitado a ataques aéreos, mas, na quarta-feira, o exército israelita convocou duas brigadas de reserva para operações no norte do país e indicou que as tropas estariam em breve prontas para atravessar a fronteira.

Segundo as estimativas de Israel, o Hezbollah possuía 150 mil foguetes e mísseis no início da guerra, sem indicar quantos foram destruídos. Entre os comandantes de topo mortos contam-se o chefe da força de elite Radwan, na semana passada, e, na terça-feira, o chefe da força de mísseis e foguetes, Ibrahim Qubaisi.Enquanto se prepara para novas retaliações, Israel impôs restrições mais rigorosas, que incluem o encerramento de escolas, a mais de um milhão de pessoas na parte norte do país, incluindo a cidade de Haifa.

Os ataques bem-sucedidos de Israel dizimaram o topo da cadeia de comando do Hezbollah, mas o líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, um dos principais apoiantes do Hezbollah, disse na quarta-feira que o grupo sobreviveria à morte de líderes seniores, segundo a Reuters.

“A força organizacional e os recursos humanos do Hezbollah são muito fortes e não serão atingidos de forma crítica pela morte de um comandante sénior, mesmo que isso seja claramente uma perda”, afirmou Ali Khamenei.

Ao longo de décadas de conflito, o Hezbollah conseguiu recuperar de golpes duros e lutar contra as forças israelitas até à estagnação, apesar da grande disparidade em termos de tecnologia militar.

No Líbano, as autoridades afirmaram na quarta-feira que o número de mortos após três dias de bombardeamentos israelitas tinha ultrapassado os 600, com milhares de feridos. Segundo as Nações Unidas, 90 mil pessoas foram deslocadas desde segunda-feira, para além das mais de 200 mil que abandonaram as suas casas no sul do Líbano durante o ano passado, devido à troca de tiros entre o Hezbollah e Israel na fronteira.

O Hezbollah tentou atacar Telavive pela primeira vez na quarta-feira, mas Israel intercetou o míssil superfície-superfície com as defesas aéreas, não tendo sido registados danos. O grupo militante xiita afirmou que estava a visar o quartel-general dos serviços secretos, num aparente sinal de que ainda pode constituir uma ameaça séria, mesmo após dias de intensos ataques israelitas que mataram muitos comandantes de topo e destruíram grande parte do seu arsenal.

Segundo as agências de ajuda humanitária, na luta para salvar as suas vidas, milhares de pessoas inverteram o fluxo de refugiados registado há mais de uma década e atravessaram do Líbano para a Síria.

Há mais de 11 meses que as forças israelitas e o Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado ao longo da fronteira entre o Líbano e Israel, nos piores confrontos desde a guerra de 2006.

As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 7 de outubro de 2023 do movimento radical palestiniano Hamas em território israelita, que fez 1.205 mortos, a maioria civis, e 251 reféns.

Em retaliação, o exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez pelo menos 41.495 mortos e 96 mil feridos, além de mais de dez mil desaparecidos, indicam os mais recentes números das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

c/ agências
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