As forças israelitas voltaram a bombardear território libanês nas últimas horas, vitimando mais de três dezenas de pessoas. Ataques lançados numa altura em que, segundo autoridades israelitas, o Governo do Estado hebraico pode estar prestes a aprovar um acordo de cessar-fogo com o Hezbollah.
A proposta prevê que as Forças de Defesa de Israel se retirem do sul do Líbano, que o Hezbollah transfira armamento e posições para o norte do Rio Litani – a cerca de 25 quilómetros a norte da fronteira israelita – e que o exército libanês garanta segurança na zona de fronteira juntamento com as forças de paz das Nações Unidas, numa fase de transição de 60 dias.
Se for aprovada, pode haver uma declaração de cessar-fogo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e do presidente francês, Emmanuel Macron, adiantaram fontes libanesas à Reuters.
O embaixador israelita em Washington confirmou à Rádio do Exército de Israel, na segunda-feira, que ainda havia “ponto a finalizar” nesta proposta e que qualquer acordo exigia concordância do Governo israelita. Nas mesmas declarações, Mike Herzog garantiu ainda que Israel está “perto de um acordo” e que “isso pode acontecer dentro de poucos dias”.
Já o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, admitiu que o acordo estaria “perto", mas slientou que "nada está feito até que tudo esteja feito". A presidência francesa, por seu lado, afirmou que as discussões para um cessar-fogo permitiram progressos significativos.
O acordo já foi aprovado em Beirute e o vice-presidente do parlamento do Líbano disse à Reuters que não havia mais obstáculos sérios para começar a implementá-lo, a menos que Netanyahu mudasse de ideias. O gabinete do primeiro-ministro israelita, contudo, recusou-se a prestar qualquer esclarecimento quanto às negociações ainda em curso.
Cessar-fogo com o Hezbollah seria "oportunidade histórica perdida"Itamar Ben-Gvir, o ministro da Segurança Interior no Governo de coligação de Benjamin Netanyahu, considerou que um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah seria uma "oportunidade histórica perdida".
“Temos uma oportunidade histórica de agir decisivamente no sul [em Gaza] e no norte [no Líbano]. Será uma oportunidade histórica perdida se pararmos tudo e voltarmos atrás”, afirmou o ministro de extrema-direita numa entrevista à Rádio Kan.
Referindo-se às notícias de que o Governo de Israel poderá aprovar a proposta dos EUA, Bem-Gvir respondeu: “é possível que alguém não queira ouvir as minhas objeções”.
Por outro lado, o líder da oposição israelita Benny Gantz afirmou que Israel devia aproveitar qualquer acordo com o Hezbollah para “mudar fundamentalmente a situação no norte”.
Rejeitando a ideia de um “cessar-fogo temporário”, Gantz disse que “não devemos fazer um trabalho sem entusiasmo, não devemos perder a oportunidade de um acordo forte”.
“Pagamos tanto – no sangue dos nossos combatentes, nos feridos, nos muitos dias de batalha dos militares, em orçamentos e armamentos. Os moradores do norte foram retirados há mais de um ano”.
Borrell apela a Israel para que aprove cessar-fogo
O alto representante da União Europeia para a Política Externa pediu, esta terça-feira, ao Governo israelita que aprove o acordo de cessar-fogo com o Hezbollah. Segundo Josep Borrell, a proposta de trégua discutida no Líbano tem todas as garantias de segurança necessárias para Israel.
A participar numa reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 em Itália, Borrell sustentou que não há desculpa para não implementar o acordo com o Hezbollah apoiado pelo Irão, acrescentando que deve ser exercida pressão sobre Israel para aprová-lo imediatamente.
"Vamos torcer para que hoje Netanyahu aprove o acordo de cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos e pela França. Sem mais desculpas. Sem mais solicitações adicionais", disse Borrell, criticando os ministros israelitas que se manifestaram contra o acordo.
O chefe da diplomacia europeia disse ter discutido as perspetivas de um acordo numa viagem recente ao Líbano e que um dos pontos de discórdia era se a França devia ser incluída numa comissão que monitoriza a implementação do cessar-fogo, que os EUA devem presidir. De acordo com Borrell, as autoridades libanesas pediram especificamente o envolvimento francês no processo, mas Israel tem dúvidas.
"Este é um dos pontos que ainda estão a faltar", disse ainda.
Apesar dos sinais de um avanço para uma trégua, os subúrbios da capital libanesa, controlados pelo Hezbollah, voltaram a ser alvo de ataques aéreos israelitas. Já esta terça-feira de manhã, o Exército de Israel emitiu novas ordens de evacuação para alguns locais em redor de Beirute, pedindo aos cidadãos libaneses para abandonarem as habitações devido aos iminentes ataques.
Os meios de comunicação social israelitas também avançam que um ataque com mísseis disparados a partir do Líbano destruiu um prédio em Kiryat Shmona, no nordeste de Israel.