Israel continua a bombardear Gaza e avisa que "é apenas o início"

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Haitham Imad - EPA

A Faixa de Gaza voltou a ser alvo de ataques aéreos israelitas na última noite, depois do violento ataque de terça-feira que fez mais de 400 mortos. O primeiro-ministro israelita alertou que o ataque foi "apenas o início" e que as negociações, a partir de agora, "só se realizarão debaixo de fogo". O Hamas diz que "não fechou a porta às negociações", mas exige que Israel "cesse imediatamente" as hostilidades.

Pelo menos 13 pessoas morreram em ataques aéreos em Gaza na última noite, depois de Israel ter anunciado que estava a retomar as operações de combate no território palestiniano, quebrando o cessar-fogo que estava em vigor desde 19 de janeiro.

A maioria dos bombardeamentos israelitas ocorreu no sul do enclave palestiniano, perto da zona humanitária de Mawasi, que o exército tinha estabelecido meses antes como um "refúgio seguro" para pessoas deslocadas de outras áreas atacadas e onde milhares de moradores de Gaza ainda vivem em tendas.

A agência de notícias palestiniana Wafa, citando fontes locais, relata que os ataques israelitas aconteceram com recurso a drones e aviões de guerra, que tinham como alvo tendas onde mulheres e crianças dormiam. O exército israelita emitiu esta quarta-feira um novo apelo para que a população de Gaza abandone "zonas de combate perigosas" no norte e no sul do território palestiniano.

Esta ordem de evacuação aplica-se às regiões de Beit Hanoun, Khirbet Khuza'a, Abasan al-Kabira e Abasan al-Jadida, onde o exército "iniciou as suas operações contra grupos terroristas", disse o porta-voz do exército israelita, Avichay Adraee, na rede social X, apelando aos residentes que "se mudem para abrigos no oeste da Cidade de Gaza e na cidade de Khan Younis". O apelo surge um dia depois dos intensos bombardeamentos que fizeram mais de 400 mortos na Faixa de Gaza – um dos dias mais mortíferos desde o início da guerra.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, justificou o violento ataque com a recusa do Hamas em libertar os restantes reféns e também por ter rejeitado as propostas dos Estados Unidos para prolongar a primeira fase do cessar-fogo, em vez de passar à segunda fase do acordo, como originalmente acordado.

Netanyahu avisou que o ataque de terça-feira “foi apenas o início” que, “a partir de agora”, as negociações sobre a libertação dos reféns ainda em Gaza "só se realizarão debaixo de fogo".
Hamas "não fechou a porta às negociações"
O Hamas, por sua vez, diz que “não fechou a porta às negociações”, mas exige que Israel “cesse imediatamente” as hostilidades.

"Não temos condições prévias, mas exigimos que [Israel] seja forçado a cessar imediatamente [as hostilidades] e a iniciar a segunda fase de negociações" prevista no acordo de tréguas, disse um líder do grupo armado palestiniano, Taher al-Nounou, à AFP.


O Hamas insiste ainda que “não há necessidade de novos acordos”, lembrando que “já existe um acordo assinado por todas as partes”.

O acordo de tréguas, que entrou em vigor a 19 de janeiro, tem três etapas. A primeira fase terminou a 1 de março e Israel e o Hamas não chegaram a um entendimento sobre como prosseguir. Das 251 pessoas raptadas durante o ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, 58 permanecem em Gaza, 34 das quais foram declaradas mortas pelo exército israelita.

Na segunda fase do acordo, o Hamas libertaria os restantes reféns e Israel retiraria as tropas de Gaza. No entanto, ao invés de se avançar para a segunda fase, Israel e os EUA têm pressionado por uma extensão da primeira fase até meados de abril, com mais reféns a serem libertados em troca de mais prisioneiros palestinianos. O Hamas, no entanto, não aceitou a proposta e insiste que seja cumprido o acordo inicial.

As duas delegações estão a tentar, através de mediadores americanos, cataris e egípcios, ultrapassar divergências em relação à segunda fase. O Egito, um dos mediadores, disse que os novos ataques eram uma violação "flagrante" do cessar-fogo.

c/agências
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