Os ataques são os mais graves em quatro meses e fragilizam as tréguas vigentes.
O alvo israelita foi um edifício em Dahiyeh, um subúrbio densamente povoado a sul de Beirute, bastião da guerrilha xiita libanesa Hezbollah. Israel afirmou que o local era um armazém de drones pertecente ao grupo, apoiado pelo Irão, acusando o Hezbollah de colocar sistematicamente em perigo a população civil, por colocar as suas instalações militares em locais habitados por centenas de não-combatentes.
O edifício ficou em escombros. O ataque aéreo ressoou em toda a capital libanesa e produziu uma grande coluna de fumo negro. Foi antecidido de uma ordem de evacuação para o bairro e de três ataques menores de drones contra o edifício, com a intenção de servirem de tiros de alerta, referiram à Reuters fontes do exército israelita.
Bombeiros e civis esforçaram-se por extinguir as chamas e procurar por eventuais vítimas presas nos destroços . Não foram reportadas perdas humanas no imediato.
Centenas de moradores tentaram escapar da área, desencadeando um enorme engarrafamento nos portões dos subúrbios a sul.
“Temos muito medo que a guerra regresse”, disse, à agência France Press, Mohammad, um taxista de 55 anos que fugia com a família, como já tinha feito durante a guerra do outono.
O exército israelita tinha pouco antes apelado aos residentes para evacuarem uma área localizada em torno das "instalações do Hezbollah", designando um edifício a vermelho num mapa.
Regresso dos bombardeamentos
Reagindo aos bombardeamentos em Beirute e no sul do Líbano, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu que o país continuaria a realizar ataques em qualquer lugar do Líbano, de forma a conter as ameaças e impor o acordo de cessar-fogo com o Hezbollah.
"Quem ainda não interiorizou a nova situação no Líbano, recebeu (hoje) um lembrete adicional da nossa determinação", disse Netanyahu. "Não permitiremos disparos contra as nossas comunidades, nem sequer um vestígio".
O ministro israelita da Defesa, desafiou por seu lado o Governo libanês a impor o acordo de tréguas no seu lado da fronteira, sob pena de Israel continuar a conduzir ataques.
"Estou a enviar uma mensagem clara ao Governo libanês: se não aplicar o acordo de cessar-fogo, nós faremos cumprir", advertiu Israel Katz em comunicado. “Se não houver calma” no norte de Israel, “não haverá calma em Beirute”, acrescentou.
O presidente do Líbano, Joseph Aoun, de visita a Paris, condenou "qualquer tentativa detestável de reconduzir o seu país a um turbilhão de violência."
O seu homólogo francês, Emmanuel Macron, denunciou ataques “inaceitáveis”, “em violação do cessar-fogo”, e anunciou que se iria reunir com o presidente norte-americano, Donald Trump, e com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Retaliação
Israel disse na semana passada que intercetou mísseis disparados a 22 de março, tendo por isso bombardeado alvos no sul do Líbano. O Hezbollah negou qualquer envolvimento no lançamento dos mísseis contra Israel.
Antes do ataque a Dahiyeh, as IDF anunciaram o bombardeamento de alvos do Hezbollah no sul do Líbano, na fronteira com Israel, em resposta a um novo disparo de dois “projécteis” já esta sexta-feira, dos quais um foi interceptado e o outro caiu em solo libanês.
O exército israelita disse ter “atacado centros de comando do Hezbollah,
infra-estruturas terroristas, plataformas de lançamento e terroristas”. Segundo o Ministério da Saúde libanês os bombardeamentos mataram pelo menos cinco pessoas em duas aldeias no sul do Líbano. Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo lançamento dos projéteis. O exército libanês disse ter conseguido localizar o local de lançamento dos ataques de rockets de sexta-feira e iniciou uma investigação para identificar os responsáveis.
Com os ataques, o regresso das hostilidades interrompidas em novembro passado parece cada vez mais provável.
Israel adiou repetidamente a prometida retirada de tropas, prevista para janeiro, acusando a parte libanesa de não cumprir a totalidade dos termos acordados, que incluíam a retirada total da presença militar do Hezbollah de uma área fronteiriça libanesa com o norte de Israel.
Os Estados Unidos emitiram esta sexta-feira novas sanções dirigidas ao Hezbollah, contra cinco indivíduos e três entidades.
O agravamento da tensão com o Líbano coincide igualmente com o fim do cessar-fogo de 19 de janeiro com o Hamas, em Gaza, depois da recusa do grupo islamita palestiniano em libertar o remanescente dos reféns raptados a 7 de outubro de 2023, como exigia Israel.
A segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, que deveria ter começado há várias semanas, ainda não saiu dos gabinetes, com as negociações a serem sistematicamente iniciadas e adiadas pelo Hamas e por Israel, invocando diversos pretextos.
As Forças de Defesa de Israel retomaram os bombardeamentos e ordens de evacuação de várias localidades de Gaza, durante o mês de março.