Isabel dos Santos. "Lamento muito que Angola tenha escolhido este caminho"
Foto: Toby Melville - Reuters
A empresária angolana já reagiu as acusações apresentadas por uma investigação de jornalistas internacionais, que apontam Isabel dos Santos como autora de desvios de verbas avultadas das empresas que geria. Para a empresária, "não há nada de errado".
De seguida, no excerto que foi disponibilizado antes da transmissão da entrevista, Isabel dos Santos afirma: "Lamento que Angola tenha escolhido este caminho, penso que todos temos muito a perder".
"Todos os meus negócios têm conselhos de administração extremamente bons, temos os melhores CEO [presidente executivo), os melhores COO [diretor financeiro], os melhores departamentos legais, e as pessoas são profissionais experientes, que trabalharam noutras empresas, e somos muito competentes", concluiu.
A empresária argumenta que as empresas que lançou nos últimos 20 anos são competentes e geridas por bons profissionais, e rejeita a ideia de que o facto de ser filha do antigo Presidente de Angola é sinónimo de culpa.
"Olhando para o meu histórico, vê o trabalho que fiz e as empresas que construí, são certamente empresas comerciais", afirmou, acrescentando: "Há alguma coisa de errado numa pessoa angolana ter um negócio com uma companhia estatal? Penso que não há nada de errado, tem de perceber que não se pode dizer que por uma pessoa ser filho de alguém é imediatamente culpada, e é por isso que há muito preconceito", afirmou a empresária.
Desvio de 100 milhões de dólares
A investigação de um consórcio internacional de jornalistas revela que Isabel dos Santos terá desviado mais de 100 milhões de dólares da Sonagol para o Dubai.
Um consórcio de jornalismo de investigação revelou mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.
Durante a investigação foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas.
As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.
Revelam ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eurobic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária.
Os dados divulgados indicam quatro portugueses alegadamente envolvidos diretamente nos esquemas financeiros: Paula Oliveira (administradora não-executiva da Nos e diretora de uma empresa offshore no Dubai), Mário Leite da Silva (CEO da Fidequity, empresa com sede em Lisboa detida por Isabel dos Santos e o seu marido), o advogado Jorge Brito Pereira e Sarju Raikundalia (administrador financeiro da Sonangol).