O Tribunal Constitucional do Chile destituiu a senadora Isabel Allende, aceitando um recurso interposto por deputados da oposição sobre compra falhada pelo governo da casa do pai, o presidente deposto Salvador Allende (1970-1973).
De acordo com a imprensa local, a decisão tomada contou com o apoio da maioria dos juízes do tribunal e a destituição entrará em vigor assim que a antiga militante do Partido Socialista for oficialmente notificada.
A porta-voz do governo chileno, Aysén Etcheverry, disse que a decisão do tribunal, "no caso de um senador democraticamente eleito e com base na informação que temos diante de nós, estabeleceria um precedente sério".
"Enquanto poder executivo, é evidente que é nosso dever respeitar as decisões do Tribunal Constitucional, mas não podemos deixar de lamentar", enfatizou a ministra.
"A senadora Isabel Allende representa uma história política, profissional e pessoal de compromisso democrático que marcou profundamente a história do nosso país. Estamos convencidos de que ela e a sua família agiram de boa-fé", acrescentou.
Antecedentes do negócio
O governo chileno tinha anunciado em 31 de dezembro a compra da residência por 933 milhões de pesos (887 mil euros), com o objetivo de a converter num museu.
A operação envolveu a assinatura de contratos com a então ministra da Defesa chilena, Maya Fernández, neta de Salvador Allende, e com Isabel Allende, ambas constitucionalmente proibidas de celebrar contratos com o Estado por ocuparem cargos públicos.
Maya Fernández, o seu irmão e as duas filhas do ex-presidente chileno são os quatro herdeiros da casa comprada em 1953 e na qual Allende viveu até 1971, um ano depois de tomar posse.
Ainda antes da sentença, Isabel Allende disse que "a memória do presidente Allende permanecerá intacta. A sentença não a mancha. Hoje não haverá museu, mas as ruas e praças que têm o seu nome por todo o Chile e pelo mundo permanecerão, assim como o seu legado político e o carinho de milhões dos seus compatriotas".