"Irresponsável" e "perigoso". A reação ao plano de reforço do arsenal nuclear do Reino Unido
O aumento em cerca de 45 por cento do limite das reservas do Reino Unido em ogivas nucleares foi acolhido por uma chuva de críticas, tendo sido mesmo considerado uma violação da lei internacional.
As conclusões do documento foram denunciadas sem hesitações por ativistas anti-nucleares e anti-armamento.
"A decisão do Reino Unido de aumentar o teto do seu arsenal nuclear em plena pandemia é irresponsável, perigosa e viola a lei internacional", reagiu em comunicado a diretora executiva da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, ICAN, baseada em Genebra.
Beatrice Fihn sublinhou ainda que "enquanto a maioria das nações do mundo lideram os esforços para um futuro mais seguro sem arsenais nucleares, assinando o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, o Reino Unido investe numa perigosa nova corrida a armas nucleares".
O acordo referido por Fihn, NPT na sigla em inglês, foi assinado por mais de 50 países mas nenhuma das nove nações nucleares do planeta o ratificou. Prevê um desarmamento nuclear gradual e o seu espírito foi defendido por anteriores governos britânicos.
Reforçar a dissuasão
O atual primeiro-ministro justificou a decisão com a necessidade de garantir a segurança do Reino Unido num ambiente global mais inseguro, e face a novas ameaças tecnológicas.
"O agravamento da competição global, os desafios à ordem internacional e a proliferação de tecnologias potencialmente desestabilizadoras ameaçam a estabilidade estratégica", referiram os autores do documento.
Um grupo global de antigos estrategas políticos que advogam a paz, conhecido como The Elders - Os Anciãos - criticou as conclusões face às novas ameaças.
"Enquanto o Reino Unido cita ameaças à segurança para justificar esta decisão, a resposta apropriada a estes desafios seria investir e trabalhar multi-lateralmente no reforço dos acordos internacionais de desarmamento e reduzir - não aumentar - o número de armas nucleares que já existem", reagiu Mary Robinson, líder do grupo.
Planos de Boris
Johnson garantiu que irá trabalhar com os Estados Unidos de modo a garantir que as novas ogivas se mantêm compatíveis com os atuais submarinos nucleares Trident.O ramo da ICAN no Reino Unido denunciou a "hipocrisia em esteroides" manifestada no relatório apresentado pelo Governo e desafiou os britânicos a reagir negativamente.
Kate Hudson, a secretária-geral da ICAN em solo britânico, lembrou ao Financial Times o acordo do mês passado entre os Estados Unidos e a Rússia para prolongar o Novo Tratado START, de redução de armas estratégicas, por mais cinco anos.
"Agravar tensões globais e desperdiçar os nossos recursos é uma decisão irresponsável e potencialmente desastrosa", denunciou. "Quando o mundo se debate com o caos pandémico e climático, é inacreditável que o nosso Governo opte por aumentar o nosso arsenal nuclear".
Escócia revoltada
O ICAN-UK sublinhou ainda a "indiferença arrogante" do primeiro-ministro para com a vontade da Escócia, país que acolhe o arsenal nuclear britânico, assim como uma das três principais bases navais da Marinha de Guerra britânica, a Royal Navy.
O Partido Nacional da Escócia, SNP, que rege a área de Faslane, onde as ogivas estão armazenadas, juntou-se ao coro da condenação.
"Renovar as armas nucleares do programa Trident já tinha sido uma decisão vergonhosa e regressiva, contudo, aumentar o teto do número de armas Trident que o Reino Unido pode armazenar em mais de 45 por cento é nada menos do que abominável", afirmou ao Independent o porta-voz do SNP para a Defesa, Stewart McDonald.