Irão tem um programa nuclear secreto acusa Israel

por RTP

O primeiro-ministro de Israel acusou Teerão de estar a conduzir um programa nuclear secreto, à revelia do acordo estabelecido em 2015 com os EUA, vários países europeus, a China e a Rússia.

Benjamin Netanyahu afirmou "ter provas conclusivas". "Esta noite vamos mostrar-vos os arquivos secretos iranianos sobre o nuclear", disse.

"Os líderes iranianos negaram repetidamente ter tentado alguma vez obter armas nucleares", disse. "Esta noite estou a aqui para vos dizer uma coisa: o Irão mentiu".

"Depois de assinar o acordo nuclear em 2015, o Irão intensificou os esforços para esconder os seus ficheiros secretos", acrescentou.

Todas as provas documentos a provar o alegado embuste iraniano serão transferidos por Israel para a Agência Internacional de Energia Atómica, IAEA, e os Governos ocidentais, prometeu ainda o líder do Governo israelita.

O acordo sobre o programa nuclear iraniano foi concluído sob a égide da AIEA em julho de 2015 em Viena, entre Teerão, a Alemanha, a China, os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a Rússia.

Netanyahu disse ainda estar seguro de que Trump irá fazer "a coisa certa" sobre a revisão do acordo nuclear iraniano.

O discurso televisivo de Benjamin Netanyahu foi difundido a partir do Ministério da Defesa israelita em Tel Aviv.

Anteriormente, o chefe do Governo reuniu-se com os seus responsáveis pela segurança.
55K de documentação
"Este arquivo prova que Teerão está a mentir, quando diz que nunca tentou obter armas nucleares", acusou Netanyahu.

"O Irão mentiu em toda a linha", acusou Netanyahu esta noite. "Depois de assinar o acordo intensificou os seus esforços para esconder os seus arquivos nucleares", acrescentou, mostrando documentos e vídeos incriminatórios.

Teerão transferiu "em 2017 as provas para um lugar altamente secreto na capital", explicou o líder israelita. Contudo, os serviços de informação conseguiram lançar mão dos arquivos.

"Obtivemos 55K de documentação nuclear iraniana. Incluíam fotos, fotocópias e arquivos", revelou Netanyahu, acrescentando que a documentação foi partilhada com os serviços secretos norte-americanos, os quais comprovaram a sua autenticidade.

"Os documentos mostram que o Irão esteve a trabalhar no desenvolvimento de ogivas nucleares para os seus mísseis", afirmou o primeiro-ministro de Israel, exibindo vídeos e fotos de locais subterrâneos para a pesquisa e desenvolvimento de armas nucleares.

O Irão estaria igualmente a procurar cinco novas localizações para realizar um teste nuclear, referiu.
Muita parra, pouca uva
Apesar da pompa com que Netanyahu apresentou as provas contra o Irão, será pouco provável ques estas sejam suficientes para demover os países ocidentais que apoiam o acordo.

A maioria dos documentos é antiga, referem os analistas, anterior ao acordo.
"O primeiro-ministro Netanyahu falou ao telefone com a Chanceler Alemanha antes de seu discurso. O conselheiro de Segurança Nacional Meir Ben-Shabat falou com o assessor de Merkel. Um diplomata alemão sénior diz-me: Netanyahu não introduziu nenhuma informação nova e não havia nenhuma coisa que nós não soubemos sobre o programa nuclear Iraniano", escreveu Barak Ravid, correspondente sénior do Chanel 10 News, na rede Twitter.

O analista acredita que esta "encenação" de Netanyahu será usada pelo primeiro-ministro israelita para conseguir fazer passar uma lei que lhe dará e ao ministro da Defesa, o poder para decidir sobre as "circunstâncias extremas" em Israel poderá envolver-se numa guerra.
Argumentos para Trump
A comunicação do primeiro-ministro israelita tinha sido anunciada há várias horas pelo seu gabinete, referindo que seria divulgado um "desenvolvimento importante" sobre o acordo nuclear com o Irão de 2015, do qual Netanyahu sempre foi um feroz crítico.

Mal se soube da comunicação, surgiram rumores de que Israel teria descoberto numerosas provas sobre o não cumprimento do acordo nuclear por parte do Irão.
"Um responsável israelita disse-me: os serviços de informação de Israel descobriram uma enorme quantidade de novas e graves informações sobre o programa nuclear iraniano. Quem quer que acredite ainda que o Irão assinou o acordo nuclear com intenções honestas vai ter um serão muito interessante", escreveu Barak Ravid antes do discurso de Netanyahu.

A divulgação destas provas irá dar argumentos ao presidente norte-americano, Donal Trump, que preconiza o abandono do acordo com o Irão se não forem nele incluídas cláusulas de salvaguarda em caso de não cumprimento. 

Netanyahu terá discutido estas provas com Trump no sábado, ao telefone, e domingo com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que está de visita à região.
Irão é "ameaça a Israel e à região"
O programa nuclear do Irão foi o principal tema em agenda na reunião em Tel Aviv, entre Netanyahu e Pompeo.

"Penso que a maior ameaça ao mundo e a ambos os nosso países, e a todos os países, é o casamento do Islão militante com armas nucleares, e especificamente a tentativa do Irão em adquirir armas nucleares" , sublinhou Netanyahu na ocasião.

Ao lado do primeiro-ministro de Israel, Pompeo afirmou que "continuamos muito preocupados com a crescente ameaça do Irão a Israel e à região".

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou retirar o país do acordo, concluído em 2015 entre Teerão e os principais poderes mundiais. Deu até 12 de maio um prazo aos aliados europeus para obter do Irão as concessões que acredita serem essenciais para manter o acordo e que o Governo de Teerão rejeita.

Nesse dia, o presidente norte-americano deverá anunciar a sua decisão sobre se os Estados Unidos se mantêm ou não signatários.

Os aliados europeus de Washington têm pressionado Trump a não abandonar unilateralmente o acordo, garantindo que Teerão tem respeitado os termos.

Com o acordo de 2015, o Irão conseguiu um levantamento temporário de parte das sanções internacionais e estrangeiras - nomeadamente norte-americanas - impostas ao seu sistema financeiro e económico. Em troca comprometeu-se a reduzir o seu controverso programa nuclear, provando assim as suas intenções pacíficas face ao nuclear.
Khamenei ataca
Teerão defende a manutenção do acordo atacando os Estados Unidos.

Washington, afirmou este fim de semana o líder supremo iraniano, o Ayatola Al Khamenei, "dirige uma guerra económica e cultural" contra o Irão.

Khamenei acusou o Departamento do Tesouro norte-americano de ser "um gabinete de guerra contra o sistema da República Islâmica", acrescentando que o mundo não se resume "à América e a alguns países europeus".

De acordo com excertos de um discurso proferido domingo na capital iraniana publicado no seu sítio da internet, o Ayatola manifestou-se "resolutamente favorável" a que o seu país mantenha relações externas "com diversos países".

"Não acredito que seja necessário romper os laços com o mundo, mas ajustar-se ao mundo exterior seria um erro grave", afirmou Ali Khamenei.

"Devemos naturalmente manter resolutamente uma relação com o mundo que seja sábia e judiciosa, mas devemos também saber que o mundo não se limita a América e a alguns países europeus. O mundo é grande e devemos ter relações com diversos países", acrescentou.
Ataques a bases iranianas
Este domingo, várias bases iranianas terão sido atacadas na Síria, matando 26 pessoas. Especificamente entre as vítimas estarão vários comandantes iranianos, estacionados na base T-4 de drones iraniana naquele país.

O ataque, com mísseis, desencadeou uma explosão suficientemente potente para registar nos sismógrafos como um abalo 2.6.

O Irão negou estas alegações.

"Todos estes relatórios sobre ataques a uma base militar iraniana na Síria e o martírio de vários conselheiros militares iranianos na Síria, não têm fundamento", afirmou uma fonte sob anonimato à agência de notícias iraniana semi-oficial, Tasnim.

Apesar das suspeitas recaírem sobre Israel, nenhum responsável governamental israelita comentou estes alegados ataques.
Israel em alerta
Também domingo, o Arabi21.com informou que Israel colocou as suas forças em alerta, sobretudo na frente norte com a Síria e o Líbano, por recear uma possível retaliação iraniana aos ataques com mísseis, apesar da autoria destes não ter sido oficialmente atribuída nem assumida.

Já o jornal israelita Yedioth Ahronoth disse que o exército de Israel encomendou um grande número de unidades de monitorização a serem colocadas nos Montes Golan, para manter vigilância através de câmaras e de sistemas de radar.

Estas unidades ajudarão também a manter contacto com os soldados no solo, de forma a responder a qualquer ataque iraniano, afirmou o jornal.
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