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Irão repudia apoio de Trump aos protestos e nega ter usado violência contra manifestantes

por Andreia Martins - RTP
Os protestos nos últimos dias têm-se concentrado na Universidade de Amir Kabir, em Teerão. Abedin Taherkenareh - EPA

O Governo iraniano rejeitou esta segunda-feira o apoio demonstrado pelo Presidente Donald Trump aos protestos que ocorreram nos últimos dias, sublinhando que o país não esqueceu a morte do general Soleimani e as sanções impostas ao país pelos Estados Unidos. Entretanto, Teerão veio negar que a polícia esteja a responder de forma violenta aos protestos que irromperam depois de o regime ter admitido culpa no acidente com um avião ucraniano que na semana passada.

No último sábado, Teerão admitiu responsabilidades no abate do avião da Ukrainian International Airlines depois de vários dias a negar envolvimento no acidente em que morreram 176 pessoas, incluindo cidadãos de nacionalidade iraniana, canadiana e ucraniana, entre outras.  

O incidente aconteceu na última quarta-feira e as forças armadas iranianas admitiram que tudo se deveu a um “erro humano”, ocorrido horas depois de um ataque perpetrado por Teerão contra bases norte-americanas no Iraque, em resposta à investida norte-americana que matou o general Qassem Soleimani a 3 de janeiro.  

Logo no sábado, depois do mea culpa das autoridades iranianas, irromperam violentos protestos no país contra o regime, manifestações que se repetiram no domingo e já esta segunda-feira.  

Durante o fim de semana, o Presidente norte-americano demonstrou no Twitter o seu apoio aos manifestantes, pedindo ao regime para que não exerça violência sobre quem protesta nas ruas.  

“O Governo do Irão deve permitir que os grupos de Direitos Humanos monitorizem e relatem os factos sobre os protestos em curso levados a cabo pelo povo iraniano. Não pode haver outro massacre de manifestantes pacíficos, nem um apagão da Internet. O mundo está atento”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter, em inglês e em farsi.  

Donald Trump acrescentou, noutra mensagem dirigida ao “corajoso povo iraniano”, que a “presidência” norte-americana e a Administração “estão do seu lado desde o princípio e vão continuar ao seu lado”. 

“Acompanhamos de perto os vossos protestos e estamos inspirados com a vossa coragem”, disse.  

Horas depois, o Presidente voltava a avisar Teerão: “Líderes do Irão – NÃO MATEM OS VOSSOS MANIFESTANTES. Milhares [de pessoas] já foram mortas ou detidas, e o mundo está atento. Mais importante, os Estados Unidos estão atentos. Reponham a vossa internet e deixem que os jornalistas circulem livremente. Parem de matar o grande povo iraniano!”, escreveu noutro tweet, novamente em inglês e farsi.  


Donald Trump referia-se indiretamente aos protestos violentos ocorridos no Irão contra o custo dos combustíveis. Nestas manifestações de novembro de 2019 terão morrido centenas de pessoas e a internet foi desligada por completo de forma a impedir a divulgação de vídeos e de informações.  

Já esta manhã, o regime iraniano reagiu através da televisão estatal às palavras do Presidente norte-americano. Ali Rabiei, porta-voz do governo de Teerão, assinalou que os iranianos não esquecem a morte do general Qassem Soleimani e que os Estados Unidos estão a motivar grande parte das dificuldades económicas sentidas pelos iranianos nesta altura.  

Para o porta-voz do Governo de Teerão, os tweets de Trump em defesa dos manifestantes iranianos são “lágrimas de crocodilo”. 

Ali Rabiei mencionou ainda o caso do Embaixador britânico no Irão, Rob Macaire, que foi detido durante alguns minutos pela polícia iraniana no último sábado. Refere que o diplomata se comportou de forma “pouco profissional e completamente inaceitável”.  

No Twitter, o diplomata explicou que apenas se tinha dirigido a uma cerimónia de homenagem na sequência do desastre aéreo, até porque havia britânicos entre os 176 passageiros. 

“É ilegal prender diplomatas de qualquer país”, acrescentou. O ministro britânico para os Negócios Estrangeiros já disse que esta se tratou de uma “flagrante violação do Direito Internacional”.

Na sequência deste incidente diplomático, o Embaixador iraniano no Reino Unido já foi chamado pelo número 10 de Downing Street para dar explicações. 
Terceiro dia de protestos

Este é o terceiro dia de manifestações em Teerão. De acordo com a agência Reuters, os manifestantes continuam esta segunda-feira a contestar o regime depois do acidente com o avião ucraniano.  

Os vídeos publicados nas redes sociais mostram milhares de iranianos a protestar contra os líderes iranianos, incluindo o Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamenei, com gritos de “morte ao ditador”.  

De acordo com o jornal The Guardian, a polícia iraniana respondeu aos protestos de domingo com violência e balas reais, provocando vários feridos.  

“Dispararam repetidamente gás lacrimogéneo, não conseguíamos ver nada e estávamos a gritar. (…) Uma jovem rapariga ao meu lado foi baleada na perna. Foi terrível, terrível”, disse uma das testemunhas ouvidas pelo jornal britânico que preferiu não se identificar.

Num vídeo disponibilizado após os protestos de domingo, junto à Praça Azadi, em Teerão, surgem imagens de sangue no chão. “Este é o sangue do nosso povo”, diz uma mulher na gravação.

“Vi sete pessoas a serem baleadas. Há sangue por todo o lado”, ouve-se num outro vídeo publicado nas redes sociais, cuja veracidade o jornal The Guardian não conseguiu comprovar.  

A polícia já veio negar esta segunda-feira ter respondido de forma violenta aos protestos. “A polícia não disparou sobre os manifestantes. Os polícias da capital receberam ordens para mostrar moderação”, disse o chefe de polícia de Teerão, Hossein Rahimi.  

De acordo com a agência Reuters, os protestos dos últimos dias já se espalharam a outras cidades do país, incluindo Shiraz, Esfahan, Hamedan e Orumiyeh.  

No domingo, o ayatollah Ali Khamenei apontou culpas à “presença corrupta dos Estados Unidos e dos seus companheiros” pela “atual situação turbulenta na região”, apelando por isso ao fortalecimento das relações entre os países na região.

Durante uma reunião com o líder do Qatar, o sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, o Líder Supremo considera que a cooperação entre países constitui um esforço “para evitar o risco de influência externa”.
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