Irão quer acordo "sério" com Estados Unidos sobre o seu programa nuclear

por Graça Andrade Ramos - RTP
Sultanato de Omã, onde vão decorrer as negociações entre o Irão e os EUA sobre o programa nuclear iraniano Reuters

Este sábado, representantes da República Islâmica do Irão e dos Estados Unidos da América, reúnem-se ao mais alto nível em Omã, sobre o programa nuclear iraniano, contestado pelo Ocidente.

Na sexta-feira, um conselheiro do líder supremo do Irão, Ali Khamenei, antecipou a estratégia a usar por Teerão, frisando que o regime dos ayatolas vai à procura de um acordo "sério".

"Longe de dar um espectáculo e de se contentar de falar para as câmaras, Teerão procura um acordo sério e justo", afirmou o conselheiro próximo de Khamenei. O líder supremo terá a última palavra sobre qualquer eventual acordo. A agenda do encontro está ainda por definir. Enquanto o Ocidente quer incluir o programa de mísseis balísticos do Irão e a sua influência regional em quaisquer negociações, Teerão insiste em discutir apenas questões nucleares.


O Irão afirma que as suas fábricas nucleares têm fins pacíficos e refuta acusações dos países ocidentais de que procura produzir material atómico num grau de pureza capaz de produzir uma bomba nuclear.

Num contexto de alta tensão no Médio Oriente, a nova Administração Trump procura um contacto, que pretende direto, com Teerão, de forma a garantir de uma vez por todas que o regime iraniano abandone o seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções.
Historial conturbado
Este é um encontro entre velhos inimigos. Os EUA suspenderam as relações diplomáticas com o Irão em 1980, depois da crise dos reféns em plena Revolução Iraniana.

Mais tarde, em 2018, o presidente Donald Trump, no seu primeiro mandato, denunciou um acordo obtido em 2015 por seis países com o Irão, negociado pela anterior administração, de Barack Obama.

Trump afirmou que Teerão não estava a cumprir os termos do acordo, que previam o abandono do enriquecimento de urânio em troca do levantamento de sanções internacionais.

A desconfiança mantém-se. Donald Trump tem vindo a ameaçar o Irão com a eventualidade de uma intervenção militar para destruir o complexo nuclear iraniano, resolvendo a questão pelas armas, ameaça que força à negociação, nos seus termos.

A necessidade de proteger o seu velho aliado israelita, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ameaçado por grupos regionais armados, financiados e apoiados militarmente por Teerão, é outro objetivo.

Mas o Irão irá vender cara a sua capacidade nuclear, um trunfo do qual não pretende abdicar, quando goza do apoio tanto da Rússia como da China.
"Boa-fé"
As negociações em Omã, as primeiras do tipo desde 2018, ocorrem após semanas de guerra de palavras entre os Estados Unidos e a República Islâmica do Irão.

O formato e a duração destas palestras não foram especificados. O Irão disse que está aberto a negociações indiretas e recusa qualquer diálogo direto sob pressão. Trump anunciou negociações "diretas" com Teerão.

Omã retoma aqui o seu papel de mediador, tal como na negociação do antigo acordo nuclear, destruindo o argumento do norte-americano. Mas o encontro envolve diretamente o enviado especial de Donald Trump ao Médio Oriente, Steve Witkoff, e o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi.

De acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim, as delegações deverão chegar a Omã sábado de manhã e iniciar negociações indiretas à tarde, através do ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Badr al-Busaidi.

"Estamos a dar uma oportunidade real à diplomacia, de boa-fé. Os Estados Unidos devem ter em conta esta decisão, que foi tomada apesar da sua retórica hostil", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Donald Trump avisou quarta-feira que uma intervenção militar contra o Irão era "absolutamente" possível se as negociações falhassem. "Se a força for necessária, usaremos a força. Israel estará obviamente muito envolvido, será o líder".
"Inimigo do Irão"
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que adoptou uma linha muito dura contra o Irão, considerou uma opção militar contra a República Islâmica "inevitável" se as negociações se arrastarem.

O Irão alertou que as ameaças podem levar à expulsão de inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Isso constituiria "uma escalada e um erro de cálculo", reagiu Washington.

"Se o lado americano não fizer exigências irrelevantes e deixar de lado as ameaças e a intimidação, há uma boa hipótese de chegar a um acordo", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Majid Takht-Ravanchi, na sexta-feira. O Irão tem vindo a recuperar nos últimos meses dos reveses militares infligidos por Israel aos seus aliados, o Hamas na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano. Estes conflitos foram marcados por ataques militares recíprocos entre Israel e o Irão, pela primeira vez, após anos de guerra por procuração.


As novas sanções mostram que Washington é "um inimigo do Irão", escreveu o jornal conservador Kayhan, considerando a tentativa de as revogar uma "estratégia condenada ao fracasso".

Vários meios de comunicação reformistas, pelo contrário, esperam potenciais repercussões positivas para a economia iraniana.

Tanto Berlim como a União Europeia sublinharam a importância de se chegar a uma "solução diplomática".

com agências
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